domingo, 26 de novembro de 2006

Para ti, Mathilde

Foi há bocadinho. Cantei pela primeira vez em público com a Mathilde e a Manon a assistirem. Portaram-se muito bem.
A Manon andou de colo em colo a espreitar-me.
A Mathilde estava numa excitação pegada e de vez em quando gritava baixinho:Mãe!
Passou o concerto com um ar todo orgulhoso, adorou a canção dela e quando eu acabei invadiu o palco de braços abertos, deu-me um abraço apertado e sussurrou: A mamã esteve a cantar, cantou a canção da Mathilde!
Tão bonita!
Se ela tivesse feito isso a meio, acho que tinha ficado cheia de lágrimas comovidas mas esta criança tem sentido de oportunidade, graças a Deus!
Obrigada bebé! Adorei dizer: É para ti Mathilde!

E quando a fui deitar, disse-lhe ao ouvido: Adorei cantar para ti, Mathilde. Obrigada meu amor. Dorme bem.

sábado, 25 de novembro de 2006

Sorri sempre!


É a imagem de marca da Manon.
Dizem-me que a minha também.
Que bom esta expressão comum!

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Está de chuva e no entanto...


















... no sábado esteve uma tarde de luz divina no Guincho, aquela luz que torna tudo e todos mais bonitos, que tem qualquer coisa sublime, o que eu não daria para que a luz fosse sempre aquela!, uma mistura de primeira luz da manhã com a de fim do dia mas em plena tarde, uma luz de cor e de décor de clássico de cinema, A luz.

A praia existe para a Mathilde para ela brincar com as ondas e fazer castelos de areia no Verão e apanhar conchinhas e fazer desenhos com pauzinhos no Inverno.
Julgo que por estarmos no Outono, que não é carne nem peixe, ela quis fazer tudo mas debalde porque sem balde os castelos ficaram adiados e conchas não havia. Fartou-se de chapinhar com as suas botas de borracha e de fugir das ondas, e fez muitas minhocas na areia com os pauzinhos que ia apanhando.

A Manon apreciou a luz.
Apreciou o passeio, o mar, a extensão da praia, as brincadeiras da irmã, os beijinhos dos pais, mas fantasio que aquele fascínio extasiado se dirigia à luz.


- É bonita não é Manon, esta luz?
- Lhá! Lhá!
Pois está claro! Além disso, os pés a dar-que-dar não deixam dúvidas.

Trlim! Trlim!

"As meninas à volta da fogueira... lai lai lai lai, lai lai lai lai, lai lai lai laaaii..."

terça-feira, 21 de novembro de 2006

A obra

Mathilde - 19 de Novembro de 2006 - pintado chez nous para o papá
(para além de mãos, sobretudo dedos e unhas, involuntariamente sarapintados e voluntariamente pincelados com aguarelas)

Estrumpfes ou talvez não

Poucos dias depois de nascer a Mathilde e a Manon de tão parecidas pareciam iguais. Feitas na mesma fábrica, as Manas M, dizia-me um amigo.

Como a Mathilde é o retrato do pai, vendo a Manon tão parecida com ela quando recém-nascida levava-me a comentar que estava rodeada de estrumpfes, não porque fossem azuis mas porque todos tinham a mesma cara.

Os meses têm passado ligeirinhos e as diferenças vão-se acentuando, há um ar de família inegável, bastantes semelhanças, mas tanto o corpo como a alma se revelam diferentes.

A Mathilde era muito calma e ao mesmo tempo "Champagne", com bolhinhas alegres que fazem cócegas no palato e não dão ressaca, a Manon é o cúmulo da calma, é mel, doce como as coisas doces, sempre sempre sorridente.

A Mathilde percorreu os parâmetros de desenvolvimento com desenvoltura e por vezes espantando-nos na sua precocidade, não ligando nenhuma a actividades comuns à maioria dos bebés; nunca se interessou pelos pés, nunca se descalçou ou tentou comer os sapatos, nunca lhe apeteceu rodar ou rebolar, praticamente não gatinhou porque o que ela queria era andar, não ligou à chucha até ao ano (e agora é a sua amiga dos tempos conturbados, apensa ao Monsieur Chat) e não queria que alguém ligasse entretendo-se a roubar chuchas aos coleguinhas da creche e atirando-as para longe desencadeando choros irritados, nunca dormiu em viagens de carro, ai! que as crianças adormecem logo e os solavancos embalam e pois e tal... qual quê?!, qual carapuça?! , nada! A Mathilde só dorme no carro se estiver esgotada e ainda assim é porque não tem nada para fazer, odeia andar de carro, é para ela o maior dos aborrecimentos.

A Manon adora os pés, descalça-se 17 vezes por minuto, come os sapatos preferindo-os a qualquer brinquedo, tenta rodar e rebolar há bastante tempo, vamos lá ver se gatinhar está nos seus planos ou se vai preferir saltar essa etapa como a irmã, a chucha interessa-lhe Q.B. mas bastante mais do que à sua frangine ainée na mesma altura, por enquanto não se mete com os amiguinhos da creche e dorme que nem uma perdida no carro.

Nenhuma das duas cede ao sono quando passeia no carrinho, dure o que a voltinha durar, só em caso de necessidade extrema, são dorminhocas natas inatas na ordem das 12 a 14 horas por noite (a Mathilde é assim desde os 4 meses, a Manon continua como boa esfomeada a acordar ao menos uma vez, bebe o seu biberon gigante em menos de tempo nenhum e continua a dormir o resto das suas horitas de descanso e sonho, de extrema importância para o crescimento e maturação do Sistema Nervoso Central) e a Mathilde, se em casa, mais 2 horas no mínimo de sesta, o que me tem valido comentários menos agradáveis de pais arreliados porque os filhos não dormem, e eu dou graças a Deus todos os dias, é que dou mesmo!Abençoadas crianças! Lindas meninas! Maravilhosas bebés! Muito obrigada!!

Os primeiros dentes da Mathilde saíram aos 8 meses, os da Manon quase aos seis, a Mathilde é branquinha branquinha com o cabelo igual ao meu, castanho, nem escuro nem claro, castanho, fininho, com jeitinhos encaracolados nas pontas e os olhos iguais aos do pai, na forma de amêndoa e na cor de avelã, a Manon tem a tez mais moreninha, cabelo mais espesso, entre o loiro escuro e o castanho muito muito claro, uma espécie de dourado à luz do sol, que parece querer encaracolar, e olhos risonhos, duas meias-luas, parecidos com os meus.

As duas são redondinhas, doces e macias. E são lindas, as Manas M.
Os meus tesourinhos que pareciam tão iguais e são tão diferentes apesar de feitas na mesma fábrica.

domingo, 19 de novembro de 2006

A Anita é bonita!



A Mathilde descobriu os meus livros da Anita. Adora.

Não liga nenhuma ao "Gato Pompom", nem à "Cabrinha Turbulenta" ou qualquer outro em que a Anita não participe. "O Lobo meu amigo" lá passa porque a reconcilia com o lobo mau do Capuchinho Vermelho e "Um dia na praia", porque tem a Sofia e o João, também lhe agrada mas a Anita é que é importante.

Descobri quando vi "A residência espanhola", em que personagem representada por Audrey Tautou lamentava a escolha do seu nome pela mãe que adorava os livros da Martine, que a Anita da minha infância era uma tradução com origem na Bélgica.

Devido ao interesse da Mathilde encontrei vários nomes noutros países:

Martita - Espanha

Mimmi - Suécia

Tini - Indonésia

Aysegül - Turquia

Cristina - Itália

Ando maravilhada com o regresso àquele mundinho perfeito de Gilbert Delahaye e com as aguarelas de Marcel Marlier, são todos tão bonitos!

O preferido da Mathilde é "Anita no circo", mas a "Anita mamã", "Anita vai às compras", "Anita faz anos", "Anita aprende a ler", "Anita dona de casa" (em que ela olha para a capa e diz que é como ela quando faz bolos com o papá), "Anita no Jardim", "Anita no Jardim Zoológico" deslizam pelo seu colo, páginas viradas atentamente pelos seus dedinhos delicados, todas as noites antes de dormir. Hoje acabou por se render à "Anita e as 4 estações" que era sempre preterida com um "Não gosto deste!"

Mas o circo, ai o circo!, os palhaços, a magia, os elefantes, os leões, os equilibristas... está decidido! Este Natal vamos ao circo.

Os livros da Anita... quem diria...

Qual Ruca! Qual Noddy! A Anita é que é bonita! Quando a noite cai e não só!

sábado, 18 de novembro de 2006

Nada pára a modernidade!

As canções da minha infância estão um pouco modificadas. Nada pára a modernidade.
Há quem já não atire o pau ao gato mas sim "o peixe", resta saber o que é pior, se tentar matar o gato atirando-lhe um pau ou envenenando um peixe, parece-me mais perversa e malvada a segunda hipótese.
Sim porque por que raio se usa um peixe como arma de arremesso para acabar com a existência do pobre animal? Só se for um espadarte ou um atum daqueles que pesam dezenas a rondar a centena de quilos e que esmigalhem a vida ou uma das 7 do bichano mas, ainda assim, quem é que tem força para atirar com um peixinho de tamanha envergadura?
Parece-me óbvio que se a intenção é encomendar a alma do bicho, já que a canção insiste que ele não morre, este verso não se alterou ao longo das últimas décadas, o peixe só pode estar envenenado, o que é repugnante, atirar um pau ao menos é o que é, não há cá perfídias nem ignomínias e muito menos martírios de tripas reviradas por pozinhos malévolos!
Assim como assim, quando canto, atiro um pau.

Outras há na quais a mudança foi benéfica, a meu ver o Sebastião pode comer tudo o que lhe aprouver mas dar pancada ou, em versão mais vernácula, "porrada" na mulher não é algo que se deva sugerir nem a miúdos nem a graúdos. O Sebastião dos tempos modernos dá beijinhos na mulher e eu acho bem.

Quem vai a Viseu nos dias que correm e deixa lá o seu amor, quando regressa expressa o seu descontentamento - Vindo eu, vindo eu da cidade de Viseu, deixei lá o meu amor o que bem me aborreceu! - e não se encerra em "Ai Jesuses!" Há que encorajar a expressão de emoções, canção melhorada, parece-me.

Não me apercebi de diferenças na "Machadinha" nem na "Linda Falua", a "Abelha Maia" e o "Dartacão" fazem já parte dos clássicos, traduz-se o cânone "Frère Jacques" e há até uma versão com dedos que se apresentam e têm muito gosto em ver-se em que o Frei João não toca sino nenhum.

Ora assim como continuo a atirar paus ao gato, prefiro o frade original, até porque o francês é a língua paterna cá em casa.

A Mathilde cantava o "Frère Jacques" muito concentrada e a abanar a cabecinha de um lado para o outro e de cima para baixo como aqueles cães de peluche que se colocam na prancha traseira dos carros por cima do porta-bagagens mirando-nos através do vidro de trás.
Quando chegava ao "Sonnez les matines!" perdia a compostura e ria-se, ria-se muito.
Um dia não cantei com ela, fiquei a ouvi-la e embora ela insistisse:
- Mamã! Canta!
Eu insisti mais:
- Canta só tu bebé! Canta que eu quero ouvir-te.
E percebi, para a Mathilde a canção diz:

Frère Jacques!
Frère Jacques!
Dormez-vous?
Dormez-vous?
Sonnez chez Mathilde!
Sonnez chez Mathilde!
Ding Dang Dong
Ding Dang Dong

E começámos a cantar todos assim, e ela até canta, com a sua boa vontade de nunca excluir a irmã:

Sonnez chez Manon!
Sonnez chez Manon!
Ding Dang Dong
Ding Dang Dong

E ri-se e nós rimos com ela a imaginar um frade estremunhado a tocar-lhe à campaínha.

Nada pára a modernidade, as canções da minha infância estão, realmente, um pouco modificadas.

I am what I am!


A Mathilde sempre se interessou pelos bonecos desenhados na roupa, t-shirts e meias sobretudo.
O pai tem umas meias com o Popeye e eu, com esta mania de que tudo na vida tem banda sonora, cantava-lhe a propósito o tema do Sailor Man com "apitos" de locomotiva (é ao que soam, não há como fingir que são cachimbadas) que a faziam rir à garagalhada.

I'm Popeye the Sailor Man - Uuhh! Uuuuhh...!
I'm Popeye the Sailor Man - Uuhh! Uuuuhh...!
I'm strong to the "Finich"
'Cause I eat me spinach
I'm Popeye the Sailor Man - Uuhh! Uuuuhh...!

Apresentei-lhe pois este marinheiro com a sua esquelética Olívia Palito e o bruta-montes do Brutus tinha ela um ano e meio.
De vez em quando a canção surgia com os ditos apitos que a deliciavam.
Depois, durante uns meses o Popeye andou no mar e a canção andou com ele.
Cantei outras coisas e ela começou a cantar comigo, lembro-me do "Cavalinho de papel" em que ela completava as frases.
Eu - A correr...
Ela - Shá lá lá!
Eu - A saltar...
Ela - Shá lá lá!
Eu - Cavalinho não saía do lugar...
Ela - Shá lá lá!

E do "Jardim da Celeste":
Eu - Giroflé-flé...
Ela - Flá!

Aí um mês antes dela completar dois anos, estava a secá-la após o banho e no meio de uma brincadeira em que lhe dizia que ela era a Super-Mathilde, a propósito de músculos e espinafres, lembrei-me do boneco e comecei:
- I'm Popeye the Sailor Man...
E (qual não foi o meu espanto - gosto desta expressão, lembra-me os livros da minha infância) ela - Uuhh! Uuuuhh...!
Um "Uuhh! Uuuuhh...!" agudinho, igualzinho ao que eu costumava fazer, apitado como uma locomotiva pouca-terra-pouca-terra, que ela nem sabe o que é um cachimbo. E riu-se que nem uma perdida com um ar tão cómico como orgulhoso, e eu continuei, e ela correspondeu.

Eu adorava o Popeye em miúda mas nem por isso apreciava espinafres. Hoje gosto e muito.
A Mathilde nunca mais se esqueceu e ainda ontem cantou o seu "Uuhh! Uuuuhh...!" quando viu as meias do pai.
Ela até gosta do Popeye mas nem por isso aprecia espinafres.
- Não gosto do verde!
Pronto, you are what you are, só espero que venha a gostar, e muito, já que I'm strong to the "Finich" 'Cause I eat me spinach, e um musculito ou dois dão sempre jeito para despachar os Brutus que nos aparecem.

Só falta o príncipe!


Há três dias comprámos um vestido de princesa para a Mathilde, cor-de-rosa, como ela pedia. Agora só falta o prínce.

Ela vestiu por cima do pijama, viu a "Cinderela", dançou rodando a roda cor-de-rosa, comeu com ele vestido e quando chegou a hora de ir para a cama queria porque queria dormir com ele (com o vestido, não com o prínce, por enquanto ;)). Lá a conseguimos convencer a pendurá-lo num cabide que ficou à vista para ela o saber ali pertinho enquanto dormia.

Hoje de manhã andou a dançar com o pai e disse-lhe:
- Eu quero um prínce! Quero dançar com um prínce!... O papá é um prínce, o papá é o meu prínce!

Fomos então passear, a meio do passeio eu perguntei-lhe:
- Então Mathilde, ouvi dizer que o papá é o teu príncipe...
- Não, é o António (o grande amiguinho dela, desde os 6 meses, na creche).
- Então mas não era o papá?
- Não, é o António, o meu prínce.

Ah! Les femmes! Mudam de desejos com tanta facilidade!

Quando regressámos a casa a conversa já era outra:
-Quero um prínce, para dançar...
- Então e o António?
- Não.
- E o papá?
- Não.
- Queres um príncipe como na "Cinderela"?
- Sim, o prínce da Cinderela!

Bom, o vestido já está, agora só falta o príncipe.
Onde é que eu vou desencantar um príncipe?
Até lhe posso propôr alguns mas ela depois é que tem de se decidir que eu não impinjo príncipes a ninguém muito menos às minhas filhas!

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

3 picas e dois sapatos

Ontem foi fim de tarde de vacinas, 3 (a conta que Deus fez e que eu gostaria de ter desfeito ontem, ao fim da tarde), duas coxas e um braço, risos e sorrisos na sala de espera, risos e sorrisos no catre, pedalanço excitado-Volta a Portugal-Tour de France-tudo junto e lá se descalça mais uma vez os sapatos, mais risos e sorrisos, sapatos para a boca, claro está, espanto à primeira picadela e ao fim da segunda já não havia beijinho que consolasse e ainda faltava mais uma.

Saíu encostada a mim em soluços e grossas lágrimas e demorou muito mais tempo a voltar ao seu sorriso permanente do que a irmã em circunstâncias semelhantes+uma (4 picas), há 2 anos

É nestes momento que me dou conta da minha necessidade imperiosa de poupar todo e qualquer sofrimento aos meus amores.

Uma vacina, uma necessidade que já nem é sinónimo de modernidade, Pasteur, um dinossauro da saúde perpetuamente recordado como o "inventor" de um bem supremo, a prevenção da doença, médica sou, relativamente salvaguardada das incapacidades de lidar com "estes males necessários", compreensiva de um bem indispensável e, no entanto, o que eu não teria dado para que não tivesse doído nada à Manon, ontem, fim de tarde de 3 picas, duas coxas e um braço.

E o que mais me incomodou, enquanto a segurava contra mim e a tentava consolar, foi a expressão assustada com que ela olhou para a enfermeira antes da última vacina.

Minha Manonzinha, se eu puder, tu aprenderás que o medo serve para muito pouco nesta vida, e que há picas que doem só na altura, não há que receá-las, fazem parte, e servem para crescermos, saudáveis.
Se eu puder, e se tu quiseres, ensino-te isso para tu não te assustares quando não vale a pena, e soluçares à tua vontade sabendo que depois da tempestade vem sempre a bonança e voltares ao teu sorriso permanente.
E que eu estou sempre aqui, para te consolar.
E, já agora, ensino-te a calçar os sapatos porque em matéria de descalçar tu já nasceste ensinada.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

De pequenino...

Aos dois anos e qualquer coisita, pouco depois da Manon nascer, numa noite em que fui deitar a Mathilde, depois das cantorias todas, ela pediu, como quase sempre, o papá.
Eu saí e o papá lá foi.
Calins, bisous, bonne nuit Mathilde, bonne nuit papa, quando ele vai a sair do quarto:
- Papa?
- Oui Mathilde?
- Quero mais biberon!
E lá volta o pai a entrar, de biberon em punho directo à cama, 3 ou 4 passos, tampa do biberon levantada e:
- Não papa! (risos) Tou a brincar! - e vira-se de barriga para baixo, cabeça para o outro lado, pronta a dormir - ... Bonne nuit papa!

Tou a brincar?
"Piadista" com 2 anos.
Nunca imaginei que o sentido de humor desta ordem começasse tão precocemente.

domingo, 12 de novembro de 2006

Clave de sol

Aprendi no colégio, ainda sei de cor.
Cantei muitas vezes à Mathilde, ainda canto de vez em quando.
Canto muitas vezes à Manon. E a Manon canta comigo.

Last night I had the strangest dream

I'd ever dreamed before
I dreamed the world had all agreed
To put an end to war
I dreamed I saw a mighty room
The room was filled with men
And the paper they were signing said
They'd never fight again
And when the paper was all signed
And a million copies made
They all joined hands and bowed their heads
And grateful pray'rs were prayed
And the people in the streets below
Were dancing 'round and 'round
While swords and guns and uniforms
Were scattered on the ground
Last night I had the strangest dream
I'd never dreamed before
I dreamed the world had all agreed
To put an end to war.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

O gesto é tudo

Mathilde (Outubro/2005)

Há uma ano, mais coisa menos coisa, a Mathilde articulava sons umas vezes palavras de todos nós, outras vezes palavras-da-Mathilde e fazia-se entender nestes nossos ouvidos treinados.

À hora do banho, já nem sei porque carga de água, andava ela despida pelos caminhos do seu quarto e pelos que a levavam do quarto à casa-de-banho e ao quarto da Manon ainda na minha barriga ainda barriguinha, quando resolvi calçar-lhe meias anti-derrapantes, porque carga de água já nem sei.

O pai, não reparando nas extremidades inferiores da sua primogénita, pegou nela e ala para o banho, de espuma, muita espuma, tanta espuma que quando lá cheguei só lhe via a cabeça.
Assim que entrei começa ela:
-Mei! Mei!
E eu, decifrando os códigos, dei-lhe a mão, porque não podia ser "mãe", porque ela só dizia "mamã" e não "mãe", porque devia ser "mão" aquele "mei", porque substimei a sua capacidade oratória e dizia-lhe:
- A mão bebé?
E ela:
- Mei! Mei!
E ela num ar de espanto, e eu dava-lhe a mão e ela agarrava-me na mão e continuava:
- Mei! Mei!
E um ar de espanto, e eu insistia com a mão, no gesto oferecido, na palavra interrogada:
- Mão?
E ela no mesmo e eu no mesmo ou variando, já pensando que se calhar ela já dizia "mãe" e não apenas "mamã", e continuava:
- Mãe? Mamã? Eu? A mão! É a mão? Mostra a mão? A minha mão? A tua mão? (que raio?)

E ela fez uma pausa e eu fiz uma pausa.
E ela suspirou, olhou-me com ar valha-me-Deus-Nosso-Senhor-que-alguém-perceba-o-que-está-a-acontecer-como-é-que-tu-não-percebes-algo-tão-evidente?

E, muito devagarinho, um pé coberto por uma meia anti-derrapante recém calçada, ensopada, emergiu como um telescópio pelo meio do banho de espuma, muita espuma.
- Meia!
- Mei! Mei!
E ela num ar de alívio e eu num ar de espanto.
- Meia? Mas...(que raio?)
E o pezinho ali no ar, no meio da espuma, ela em equilíbrio, ela a sorrir.
- Mei!
- Meia meu amor, claro! Eu é que não percebi. Tu explicaste muito bem. Vamos lá tirar isso. Não se toma banho de meias.
- Não!
- Pois não!

O amor não escolhe idades

Os livros são mundos maravilhosos. Os melhores amigos de quem se deixa seduzir pelo cheiro das letrinhas no papel.
A Mathilde despertou cedo para esse universo. O seu primeiro livro era de pano, seguiram-se livrinhos de página dura anti-rasgadura, e agora páginas leves que ela folheia com cuidado, às vezes não tanto quanto o desejável para o meu amor às folhinhas preciosas, lá vai havendo um rasgão ou outro que eu reparo delicadamente com fita-cola, mas sempre com curiosidade e agora contando ela histórias que fluem da sua imaginação vívida.

Uma das colecções que adoptou foi a dos "Dicionários por imagens dos pequeninos" - As Cores, A Quinta, Os Números, O Mar, A Bíblia (sim, há a Bíblia nesta colecção), O Natal, A Casa, A Higiene, Os Animais, O dia-a-dia dos pequeninos, etc.

Ontem estava sentada, a "ler" "O Corpo" e às páginas tantas explica-se o crescimento, "Os bebés crescem depressa, sentam-se, gatinham e depois começam a andar. Os adultos apaixonam-se, casam, são papás e mamãs e, mais tarde, tornam-se avós.", isto com bonecos a condizer.
A boa da Mathilde, de olhar fixo nos noivos replicou:
- Quero um vestido assim, quero um vestido assim cor-de-rosa... quero um prínce!

2 anos e meio. O amor não escolhe idades.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Palavras leva-as o vento...


Há dois dias a Manon, que adora estar em pé, começou a pôr um pezinho à frente do outro.
Grande excitação para todos, protagonista e espectadores.

A Mathilde começou nisto também aos 7 meses e nunca se interessou pela marcha a 4 patas, arrastou-se tipo recruta nas trincheiras durante uma semana (e que difícil que aquilo era, que eu experimentei arrastar-me ao lado dela e desisti rapidamente), gatinhou 3 semanas e, poucos dias depois de fazer um ano, andou e nunca mais parou.

Passámos 5 meses curvados a satisfazer o seu desejo de marcha. O melhor que lhe podíamos dar era o quadro família feliz, o papá de um lado, a mamã do outro, mãos nas mãos, e lá íamos nós, mais um passeio de alguns metros e um sorriso de orelha a orelha.
Pedia a toda a hora que a ajudassemos a andar e não havia costas que aguentassem a corcunda permanente.

De tal forma que prometemos que com a Manon não íamos estimular o "pezinho à frente do outro", porque com a primeira tudo começou assim, vontade e determinação da criança + orgulho babado dos pais (Ai que gira! Que precoce a querer andar, tão pequenina! Que engraçado e tal e pois...) = desvio postural = cifose dorsal = dor, basicamente.

Há dois dias a Manon começou a pôr um pezinho à frente do outro. E o que temos feito de há dois dias para cá?
(Ai que gira! Que precoce a querer andar, tão pequenina! Que engraçado e tal e pois...)
Ajudamo-la a pôr um pezinho à frente do outro, pois está claro!
Grande excitação para todos, protagonista e espectadores.
Quem é que resiste? Nós não.

:)

Ontem de manhã:

- A mamã hoje não vai cantar, a mamã vai ciciatre.
- Pois vou bebé, vou fazer de psiquiatra, hoje não vou cantar, pelo menos enquanto estiver a fazer de psiquiatra. (espero!)

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Final feliz


A Mathilde é, na sua realidade circunstancial, cinéfila. Não liga grande coisa à televisão mas filmes, por ela, rodaríam a todas as suas, mais ou menos, 10 horas de vigília diária.

Pessoalmente, julgo a TV embrutecedora, pelo menos a TV actual, não me fascina, logo não lhe presto atenção, uso-a como suporte para as imagens e sons codificados nessa magnífica invenção da humanidade - o DVD.

Sou uma cinéfila em licença de maternidade; antes das meninas, devorava após saborear, mastigar e decompôr, tudo quanto havia no cinema, agora, por enquanto, consumo todos os filmes infantis clássicos e modernos - futuros clássicos (todos todos não, haja algum critério!, que ele há coisas inenarráveis para os miúdos tal como para os graúdos) no conforto do lar.

Sempre adorei contos, fábulas, histórias infantis, nos livros, nos filmes, nos discos, na boca da minha avó, o mundo da fantasia ajudou-me a crescer e continua a maravilhar-me. Ando pois, encantada com a cinefilia Disney-Pixar-Dreamworks-e-outros-que-animam da princesa mais crescida cá de casa (parece que eu sou a Rainha-mãe, ainda não sei bem se acho graça ao título).

A Cinderela faz as suas delícias, é uma menina bonita, tem ratinhos e passarinhos e um gato, o Lucifer, que é Mau!, e a madrasta e as manas feias que são Más! e a fada madrinha, Salagadoola mechicka boola bibbidi-bobbidi-boo, e o príncipe! "A Cindiela a dançar com o prínce!" é um momento crucial, e é mesmo, de facto.
- Um dia também vais ter um príncipe e vais dançar com ele, Mathilde.
- Sim... (reflexão... sorriso!) ... um dia eu vou ter um prínce. (Tão gira! :-))

Há o Peter Pan, a voar, a voar, com os piratas e a fada pequenina e os meninos, há o Nemo, com papá, tadinho, à sua procura e a menina, tenebrosa, a Darla que ela adora e com quem diz em coro "Fishy! Fishy! Ai ar U sipi? Pic ap!" (leia-se - "Fishy! Fishy! Why are you sleeping? Wake up!"), os Barbapapa, giros giros e educativos, protectores dos animais e do ambiente, a Pantera Cor-de-rosa (incrível como os desenhos bem feitos, bem feitos continuam passados décadas) com todas as suas cenas nonsense, Chicken Little, sim, grande fã do galinho e da pata feiosa e querida e do porco "presuntérrimo" mas sobretudo do alien pequenino, Dumbo com a sua mamã, a Alice no seu país absurdo, os Aristogatos, o que ela viu e reviu estes "miaus", a Dama e o Vagabundo aos beijinhos com spaghetti pelo meio, Shrek e o burro e a princesa Fiona, há sempre uma princesa muito importante, como a Aurora na Dama Adormecida e não a Bela, a Bela vem com o Monstro e tem um vestido amarelo, o pato Donald na Caixinha das surpresas a abrir cadeaux, e o que ela gosta de um cadeau, a lista é interminável.
Quando apenas os Teletubbies lhe interessavam este post teria sido muito mais curto.

Faço os possíveis para ver com ela, para além de ser um momento íntimo e divertido, parece-me que é mais educativo se acompanhado, pelo menos algumas muitas vezes e, claro, apanágio dos pais, já sei muitas cenas de cor.

Há uns dias estavamos a ver a Bela e o Monstro e na cena em que o pai da Bela está em risco de ser internado num hospício, o diálogo seguiu ligeiro.
-Oh! Tadinho do pai da Bela!
- Pois é, coitadinho! Querem interná-lo. O Gaston que é muito parvo e quer casar com a Bela, arranjou maneira de dizerem que o pai da Bela é maluco e vão interná-lo.
- ... Eu não quero internar o papá!

(pausa de contenção de riso)

- Não te preocupes meu amor, não é preciso internar o papá.
- Eu não quero! (ar infeliz, voz de choro)
- Acho que não é caso para tanto, não se vai internar o papá... olha! O pai da Bela também vai conseguir fugir, vai ficar tudo bem vais ver, está bem assim Mathilde?
- Está bem mamã.

All's well that ends well, Shakespeare como eu te entendo!

sábado, 4 de novembro de 2006

As manas M
























A Manon nasceu numa terça-feira, lua nova, como o pai.
Quando a Mathilde nos foi visitar, ela que tinha passado os quase 9 meses anteriores de mão na minha barriga, repetindo - Manon (e de vez em quando assustando-se quando "a barriga mexia"), olhou muito atentamente para a bebé, tão pequenina, e eu perguntei-lhe:
- Sabes quem é?
Ela olhou para o pai, depois para mim e novamente para a irmã recém-nascida e respondeu em sussurro:
- É a Manon!
Levantou o meu pijama, investigando a minha barriga, consideravelmente bem mais pequena e eu expliquei que a Manon tinha estado cá dentro e que tinha saído finalmente, estava cá fora, no berço.
Ela devolveu o pijama à posição original e nunca mais ligou à minha barriga.


Passei a gravidez a perguntar-me se ela entenderia e chegava sempre à conclusão que seria provavelmente difícil compreender uma coisa destas com 1 ano e meses.
Até eu, adulta, médica, a perceber alguma coisa da biologia e embriologia humanas e algumas outras ciências relacionadas, acho estranho e milagroso ter uma vida humana cá dentro, a crescer, a formar-se... há seguramente alguma magia!

Cheguei a fazer-lhe uma boneca grávida, com uma barriga em forma de tampa que se abria e tinha um bebé no interior mas, ainda assim, nunca tive a certeza que ela percebia que a Manon estava cá dentro e ia sair mais dia menos dia.

Fiquei embasbacada com a cena na maternidade e o que é certo é que aparentemente, pelo menos naquele momento, ela percebeu.

Adoptou-a imediatamente e com uma naturalidade comovedora.
Parece que a Manon sempre existiu.

Suponho, pegando na máxima "Quem não se sente não é filho de boa gente!" e considerando-nos boas pessoas, que a deve ter incomodado deixar de ser única e senhora, princesíssima do seu palácio, mas, no entanto, esse incómodo não é palpável.

Inicialmente encheu-se de responsabilidade e tentava ajudar nos cuidados com a bebé, andava de dedo em riste, muito espetadinho em frente da boca a dizer baixinho "Shiu! A Manon está a dormir!" e quando a irmã resmugava enfiava-lhe a xuxa muito desajeitadamente mas com cuidado. Ajudava nos banhos, deu-lhe umas 6 ou 7 colheres da primeira sopa, tentava pegar-lhe mas com muito jeitinho e quando ela foi para a creche declarou-se sua protectora, muito orgulhosa e não deixava ninguém mexer-lhe.
Era e é "a sua Manon".
Inclui-a sempre em todas as actividades familiares, empresta-lhe espontaneamente o Monsieur Chat, o que é algo revelador da sua capacidade de partilha porque o Monsieur Chat não se empresta a ninguém e vai dar-lhe beijinhos quando acorda e quando se deita.

Irrita-se por vezes porque tem de esperar que eu acabe de tratar da Manon antes de responder a um apelo dela mas acata bastante bem a divisão dos tempos. Verdade seja dita que nós nos desdobramos e redesdobramos para que as duas tenham a atenção que nos pedem, dentro do possível.

A Manon, por sua vez, derrete-se com a Mathilde, reconhece-lhe a voz ao longe desde sempre, e quando ela chega não há mais ninguém, olha-a com um fascínio sorridente.




















- Manon! Olá! Olá!... Minha gorda! Arrr... Arrr Manon? Bilú Bilú! Cucu Manon! Queres vir comigo? queres? Eu conto a história, a história dos animais, queres Manon?







Meu pai, meu herói.

- Vamos dormir Mathilde?
- Sim, eu quero a mamã.

Ela quer mais vezes que eu a vá deitar, apenas e tão só porque comigo o "ir para a cama" se estende por histórias e canções intermináveis, ela pede e eu dou, todos os dias o tempo estica-se para lá dos ponteiros do relógio.
Eu cedo muito mais do que o pai, é a minha natureza logo, com ele ela faz muitíssimo menos farinha enquanto que comigo já podíamos nesta altura abrir uma padaria.

Quando a opção é o papá, mon papa, meu herói, e nada menos do que tal categoria, o nível de adoração é inatingível, as histórias e as canções duram um piscar de olhos, mas a seguir ao "Bonne nuit papa" segue-se um ritual até o pai sair do quarto absolutamente enternecedor.

- Je t'aime ma Mathilde.
- Je t'aime mon papa!
- Je t'aime aussi Mathilde!
- Je t'aime aussi!!
- Je t'aime!!
- Je t'aime!!!

E o diálogo vai em crescendo até chegar ao grito, perdidos de riso, e depois em decrescendo até ao sussurro mesmo antes da porta fechar.
- Je t'aime mon papa.
- Je t'aime ma Mathilde.

Ele desce as escadas com um sorriso apaixonado e diz sempre que é dos melhores momentos do dia.

Vai ser bonito quando a Manon começar a falar. Julgo que vou ter de o apanhar do chão, derretido, com cuidado para não perder nenhuma gota e pô-lo no congelador a ver se regressa à forma original.
Não havia ele de querer ter outra menina!

Paladares



















Mathilde - quase 7 meses (01/10/2004) e quase 2 anos e sete meses (01/10/2006)




A minha bebé Mathilde, que já é uma menina mas será sempre a minha bebé Mathilde (sempre me fez rir esta forma de chamá-la, foi o pai que inventou, faz-me lembrar uma personagem de desenho animado, tipo Super-herói, SUPER MATHILDE!!!), alimenta-se basicamente com leite(lá está, bebé Mathilde, pergunto-me se será a terminologia adequada, agora que penso nisso...), bebe praticamente um litro por dia, adora yogurtes brancos, sem açucar!, mas daqueles espessos, e comida temperada, condimentada, enfim, com gosto!
Frango cozido com arroz ou puré de legumes não são apreciados pelas suas papilas gustativas mas frango de caril, isso sim!, o sabor faz-se valer.

Sempre lhe agradou o chamado buffet, pestiscar, ora um bocadinho de presunto, ora queijo da ilha daquele que pica até ao fundo do palato, paté, foisgras, chèvre, gengibre, palitinhos de cocktail atafulhados de queijo creme camembert, pão, bolachinhas da vovó (a minha mãe é a rainha das bolachas, só para que conste nos arquivos) e de vez em quando "um quadradinho" (de chocolate).

Outra coisa que ela sempre adorou foi comida japonesa, sashimi de salmão. Era delicioso vê-la com pouco mais de um ano, sentada em cima de um monte de almofadas, para conseguir chegar à mesa, com um pauzinho na mão a comer bocadinhos de peixe com o ar mais satisfeito deste mundo.

Nunca nos provocou ansiedade o facto dela não comer grandes quantidades uma vez que cresce e está grande e sadia. E nunca me apercebi que ela comia pouco até nascer a Manon, esfaimada! :-)

A Manon come muito e muito e muito bem. Chegamos a dar-lhe mais sopa do que à Mathilde e ela ainda pede mais, enquanto que a da Mathilde fica a meio.
A Manon nasceu decidida a acabar com qualquer reserva de leite do planeta, mamas incluídas, e quando passou às sopas e papas, ei-la a abrir a boca, desembaraçada, sem hesitação alguma e com o maior sorriso da região e arredores.

Chego agora à conclusão de que não é a Manon que come muito, é a Mathilde que come pouco.
Suponho que a Manon vai gostar de rodísios- pague-x-e-coma-tudo-o-que-quiser.
A Mathilde será, eventualmente, mais nouvelle cuisine, pouca quantidade de muitos pratinhos exquis, uma gourmet, a minha bebé Mathilde.