sábado, 4 de novembro de 2006
As manas M
A Manon nasceu numa terça-feira, lua nova, como o pai.
Quando a Mathilde nos foi visitar, ela que tinha passado os quase 9 meses anteriores de mão na minha barriga, repetindo - Manon (e de vez em quando assustando-se quando "a barriga mexia"), olhou muito atentamente para a bebé, tão pequenina, e eu perguntei-lhe:
- Sabes quem é?
Ela olhou para o pai, depois para mim e novamente para a irmã recém-nascida e respondeu em sussurro:
- É a Manon!
Levantou o meu pijama, investigando a minha barriga, consideravelmente bem mais pequena e eu expliquei que a Manon tinha estado cá dentro e que tinha saído finalmente, estava cá fora, no berço.
Ela devolveu o pijama à posição original e nunca mais ligou à minha barriga.
Passei a gravidez a perguntar-me se ela entenderia e chegava sempre à conclusão que seria provavelmente difícil compreender uma coisa destas com 1 ano e meses.
Até eu, adulta, médica, a perceber alguma coisa da biologia e embriologia humanas e algumas outras ciências relacionadas, acho estranho e milagroso ter uma vida humana cá dentro, a crescer, a formar-se... há seguramente alguma magia!
Cheguei a fazer-lhe uma boneca grávida, com uma barriga em forma de tampa que se abria e tinha um bebé no interior mas, ainda assim, nunca tive a certeza que ela percebia que a Manon estava cá dentro e ia sair mais dia menos dia.
Fiquei embasbacada com a cena na maternidade e o que é certo é que aparentemente, pelo menos naquele momento, ela percebeu.
Adoptou-a imediatamente e com uma naturalidade comovedora.
Parece que a Manon sempre existiu.
Suponho, pegando na máxima "Quem não se sente não é filho de boa gente!" e considerando-nos boas pessoas, que a deve ter incomodado deixar de ser única e senhora, princesíssima do seu palácio, mas, no entanto, esse incómodo não é palpável.
Inicialmente encheu-se de responsabilidade e tentava ajudar nos cuidados com a bebé, andava de dedo em riste, muito espetadinho em frente da boca a dizer baixinho "Shiu! A Manon está a dormir!" e quando a irmã resmugava enfiava-lhe a xuxa muito desajeitadamente mas com cuidado. Ajudava nos banhos, deu-lhe umas 6 ou 7 colheres da primeira sopa, tentava pegar-lhe mas com muito jeitinho e quando ela foi para a creche declarou-se sua protectora, muito orgulhosa e não deixava ninguém mexer-lhe.
Era e é "a sua Manon".
Inclui-a sempre em todas as actividades familiares, empresta-lhe espontaneamente o Monsieur Chat, o que é algo revelador da sua capacidade de partilha porque o Monsieur Chat não se empresta a ninguém e vai dar-lhe beijinhos quando acorda e quando se deita.
Irrita-se por vezes porque tem de esperar que eu acabe de tratar da Manon antes de responder a um apelo dela mas acata bastante bem a divisão dos tempos. Verdade seja dita que nós nos desdobramos e redesdobramos para que as duas tenham a atenção que nos pedem, dentro do possível.
A Manon, por sua vez, derrete-se com a Mathilde, reconhece-lhe a voz ao longe desde sempre, e quando ela chega não há mais ninguém, olha-a com um fascínio sorridente.
- Manon! Olá! Olá!... Minha gorda! Arrr... Arrr Manon? Bilú Bilú! Cucu Manon! Queres vir comigo? queres? Eu conto a história, a história dos animais, queres Manon?
4 comentários:
É delicioso ler o teu blog. Quase dá vontade de largar a minha convicção de não ter mais filhos ;)
Beijocas.
O amor de irmãos deve ser das coisas mais puras que existe.
Adoro ver o carinho com que as minhas se tratam.
beijinhos
deixaste-me com aquela lágrima teimosa que teima em soltar-se...é tão lindo ver o amor entre irmãos...e as tuas meninas são tão lindas...descobri o teu blog por acaso...e adorei...vou voltar sempre para saber das princesas...
beijinhos
Este blog..é só o maior hino ao AMOR que eu já vi..ou li!!!
Revejo-me tanto que até doi...muito bom..
beijos para ti e para as princesas...lindas***
Monika
http://arevoltadaspalavras.blogs.sapo.pt
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