domingo, 29 de novembro de 2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pesadelos


Há umas semanas a Mathilde acordou a meio da noite aos gritos. Aos gritos desceu da cama, aos gritos correu pelo quarto às escuras atirando ao chão, com grande estardalhaço, o que encontrou pelo caminho e aos gritos desceu as escadas até me encontrar já a subir ao seu encontro.
Um sonho mau!, um sonho terrível!!, que ela nem conseguia explicar de tão assustada e atordoada. Lá a consolei e tranquilizei, o melhor que consegui tendo em conta o meu atordoamento ensonado, até que acabou por adormecer.

Na manhã seguinte, já bem desperta, contou-nos que tinha sonhado com uma família de vampiros que corria atrás de nós, cada um com o seu alvo bem definido, dispostos a comerem-nos, mordendo-nos no pescoço. Contou isto com um ar ainda um pouco apavorado.

O papá, dono de uma sabedoria intuitiva exemplar sobre a infância, apressou-se a explicar-lhe como se matam vampiros, sobretudo a parte do pau espetado com toda a força no coração. Eu acrescentei a água benta e as cruzes mas, declaradamente, não surtiram o mesmo efeito. Agora que penso nisso, esqueci-me dos alhos... mas na Buffy não me lembro de alguma vez os ter visto usar tal bulbo...

Na noite seguinte dormiu sem um piu, como é seu costume.

De manhã a questão que se colocava era obviamente "Então Mathilde, sonhaste com quê?"
A resposta surgiu com a maior das serenidades, espelhando a noite, "Sonhei com os mesmos vampiros. Mas matei-os todos com um pau no coração. E a Manon, que já tinha quatro anos, ajudou-me."

Não há nada como dar cabo dos nossos medos.

Grande Mathilde! Que resolveste o teu pavor! (Dormiste sem um piu e com um pau!)

Grande papá! Que lhe mostraste o caminho!

Grande Manon! Que até cresceste meio ano no sonho! ;)

E já agora grande eu! Mais que não seja porque estou a escrever a história! :D

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sonhos III

Sonhar destingue a condição humana e todo o humano sonha. A memória pode ser mais ou menos vívida mas todos sonhamos, é a nossa forma de resolver durante a noite o que nos incomoda ou preocupa durante a vigília.

Os sonhos de repetição, bastante comuns, interessam sempre quem se dedica à saúde mental.

Durante anos há bastantes anos já, sonhei um bem angustiante em que, para além de ter de atravessar de carro um caminho muito mais estreito que o própio carro a metros e metros de altura, tarefa já de si muito complicada e que me lembrava um dos pesadelos em Elm Street qualquer, talvez o terceiro, que começava com um autocarro em situação semelhante, para agravar ainda mais a situção a estrada subia sem aviso em ângulo recto e eu acordava sempre antes de chegar lá acima.

Explicações freudianas à parte que envolvem seguramente simbologia sexual ;), o que é certo é que uma noite cheguei lá acima against all odds.
E quando cheguei estava num cenário paradisíaco.

Assunto arrumado pois nunca mais o sonho se repetiu.
Quando acordei concluí que, mesmo sem saber bem qual, tinha resolvido o problema, e bem!
Associei livremente tal feito a ter encontrado o pai das minhas filhas e acho bastante provável que a interpretação passe por aí.

Tanto tempo depois, há uns dois ou três anos vi o meu cenário final, num livro da Mathilde. Tal e qual.
Quando virei a página, deslumbrei-me com a imagem. Pode parecer um desenho banal aos olhos de outros mas aos meus é, em absoluto, o meu lugar de felicidade no meu sonho resolvido.



O que senti quando o vi num livro da minha primeira filha foi uma espécie de magia, como se o destino me tivesse reservado tal momento numinoso.

Se calhar é só a carga de alegria e tranquilidade que lhe coloco, a ressonância emocional que lhe imponho.
Se calhar se não fosse através deste livro, teria sido de outra forma.
Ou se calhar foi porque a Mathilde nasceu que o encontrei.
E de todas as hipóteses enumeradas e outras não citadas a que mais gosto é desta, pela sensação de não-acaso.

É um pensamento mágico? É! E então?
Freud não explica tudo e mesmo ele disse, às tantas, que às vezes um charuto é apenas um charuto ;)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sonhos II e/ou Sleeping Beauty II


A Mathilde conta-nos os seus sonhos desde muito pequenina.
São quase sempre histórias mágicas com castelos onde ela vive com a irmã, tubarões que lhe mordem um pé, estrelas que a vêm salvar, balões, canções e resoluções de conflitos que a deixam acordar bem disposta pelo sucesso do seu mundo de fantasia.
Um dos sonhos que nos contou uma vez foi o do seu casamento com o seu adorado António. Um vestido maravilhoso, um baile de encantar, enfim, a panóplia toda de uma menina feliz a dormir serena.

A Manon demorou mais tempo a lembrar-se do que sonha.
Dos relatos que nos tem feito, o que eu mais achei piada, já há uns meses, e continuando na lógica príncipe encantado e princesas em castelos de histórias fantásticas, incluía o seu amado Thomas. Estas miúdas são umas pinga-amor;).

À questão matinal "Com que sonhaste esta noite Manon?" a resposta foi "Com o Thomas, estava a dormir com o Thomas."
Contou-nos então que ela e o seu apaixonado se tinham picado num fuso e não conseguiam acordar. Dormiam pois muito contentes um com o outro.

Há dois anos a Mathilde também sonhava que dormia com o seu príncipe.

Qualquer princesa percebe o bom que é dormir com o seu príncipe.

Moral dos sonhos: Dormir com quem amamos é bom.

Pensamento materno e paterno no que diz respeito ao conteúudo onírico:
Perlimpimpim e nem sequer a história vai a meio quanto mais chegar ao fim...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sonhos


O Mamma Mia foi um grande sucesso entre as crianças durante o ano passado e o em curso. Ainda agora, de vez em quando, num qualquer lugar, oiço uma vozinha de gente pequena a cantar o tema que deu nome ao musical e ao filme.

Cá em casa os ABBA, já amados pelos pais, foram adoptados pela nova geração .

Assim que vi o filme há mais de um ano, comecei a pôr o ABBA GOLD, já velhinho, aos berros cá em casa desatando a dançar que nem uma maluca acompanhada pela Mathilde e pela Manon.
(O filme traz tantos pontos de contacto, daqueles bons, com a minha vida que chorei do princípio ao fim quando o vi:))

Quando fomos de férias em Junho, as manas fizeram um mini-concerto no avião - Mamma Mia, Dancing Queen, Super Trouper, etc.. - que provocou um silêncio atento e grande aplauso no final das canções.
Muito cómico isto dos miúdos cantarem foneticamente, em suposto inglês, sem perceberem patavina do que estão a dizer e no entanto soar bastante bem, por vezes melhor que pronúncias aproximativas de gente grande.

De todas as canções, a que começa a história, "I have a dream", é a minha preferida. Porque acredito mesmo em anjos e em algo de bom em tudo o que vejo, e sempre tive uma canção ou uma fantasia que me ajudaram a atravessar a realidade.

As nossas meninas pedem-me muitas vezes que lhes cante esta canção ao deitar.
E cantam baixinho comigo enquanto adormecem.
Não sei se os ABBA pensaram nisto como uma lullaby, para nós é perfeita.
E esta já a traduzi toda para que a fonética não seja néscia ;)

I have a dream, a song to sing
To help me cope with anything
If you see the wonder of a fairy tale
You can take the future even if you fail
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
I'll cross the stream - I have a dream

I have a dream, a fantasy
To help me through reality
And my destination makes it worth the while
Pushing through the darkness still another mile
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
I'll cross the stream - I have a dream
I'll cross the stream - I have a dream

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lar doce Lar

Durante a pré-escola não há TPC.
Assim pensava eu até ser mãe de pré-escolares.

Na verdade há TPC, só que são para a família toda.

O último que nos pediram, para a sala da Manon, foi desenhar a nossa casa, como quisessemos, usando os materiais que quisessemos.

Eu, que nunca gostei de trabalhos de casa, nem dos da escola nem dos domésticos já que o termo também se lhes aplica, fico sempre entusiasmada com os das nossas M & M, e este em particular apresentou-se-me como um desafio irresistível.
Cheguei a casa e declarei que faríamos, não um simples desenho, o que teria tornado a tarefa bem mais simples e de rápida execução, mas uma casinha em 3D, uma maquette.

Ideia ambiciosa e meia maluca agora que penso...
A nossa casa é uma complicação porque cheia de recantos. O papá dizia-me que o melhor era simplesmente fazer um bloco e pronto mas eu ná!, tem de ficar igual!!

Peguei nas plantas e fiz um molde em papel, uma trabalheira de duas horas com tanto papelinho que recortei, colei e agrafei.

Depois incumbi o "meu empreiteiro" de cortar o esferovite e colá-lo. Tudo isto ao longo de dias para o "cimento" ir secando e estabilizando a estrutura.

A seguir as manas pintaram a casa com guaches. Seguiu-se nova espera para a secagem.

Então, com arame e cartão, fiz as varandas e decks.

E por fim as janelas, flores, arbustos, árvores e vasos. (Quando cheguei aqui resolvi não cumprir a directriz "tem de ficar igual!!" porque com tanta obsessividade não saía dali. O exterior ficou aproximadamente igual:).)

Um dos pontos a cumprir no TPC era colocar fotografias dos membros da família nas janelas ou na porta e o nome.
Como a casa ficou uma miniatura bem mini, se optássemos por colar fotografias nesses lugares, as mesmas teriam de ser tão pequeninas que não se perceberia quem éramos. Assim escolhemos uma com os quatro e pregámo-la com um palito, qual parabólica, no cimo do telhado.
O nome ficou no muro e assunto arrumado. As nossas imaginação e paciência chegaram aqui e pararam, para descansar.

A Mathilde e a Manon perguntaram logo: "Então nós estamos no telhado?"
A resposta pronta: "Sim! Somos acrobatas e un peu fous!;).

Até porque só um pouco loucos nos teríamos aventurado a realizar semelhante obra.
Valeu a pena!

Agora está lá na escola, na sala da Manon.
Quando regressar no final do ano vou pô-la qual bibelot sobre um naperon de renda em cima da televisão. Porque não há nada como a nossa casa e é um privilégio viver nela.
Bom, talvez sem o naperon... até porque não dá para pôr em cima de um écran fininho.

Proporcionalmente esta casinha demorou quase o mesmo tempo a fazer que a nossa casa verdadeira. Mas pelo menos não fomos enganados, nem roubados;)

Apesar das agruras vividas à custa da verdadeira empreitada (E bolas!, que foram muitas e muito más!), valeu a pena!

Valeu e vale!
There´s no place like home. Pois!

domingo, 8 de novembro de 2009

Singing Songs II

A Mathilde chegou a casa há duas semanas e afirmou peremptória:
- Mamã, a minha professora convidou-te para ires lá cantar à nossa sala! Tens de ir!
- Ir lá cantar? O quê?
- Ires lá cantar connosco e para nós. Houve um menino que levou uma guitarra de brincar e eu disse que tu tocavas e ela disse que tens de lá ir. É um convite, para ti.

No dia seguinte perguntei à Educadora e combinámos pois que dois dias mais tarde eu lá iria, cantar para eles e com eles.

Como o tema daquelas semanas era o corpo humano sugeri à Mathilde fazermos umas canções sobre os aparelhos.
Ela contou-me o que tinha aprendido sobre o coração e os pulmões, os ossos e o cérebro, insistindo muito em falar do coração.
Eu expliquei-lhe o aparelho digestivo e o urinário e decidimos que as canções seriam sobre o orgão central da circulação e sobre o "xixi".

Concentrámo-nos, com a guitarra a ajudar, e saíu a primeira:










Era uma vez um coração

Era uma vez um coração
Sempre a bater, a bater e a bater
Devagarinho quando dormia
E mais depressa quando corria


E deste nosso coração
Sai uma artéria, a pulmonar
Que leva o sangue até aos pulmões
Que é nos pulmões onde está o ar

(refrão)

E a outra artéria do coração
Chama-se aorta e vai levar
O sangue todo ao corpo todo
Para o corpo todo pôr a funcionar

(refrão)

E o sangue volta ao coração
Por uns canais que se chamam veias
E quando chega volta a partir
E nunca pára, é sempre a seguir

(refrão)

Era uma vez um coração
Sempre a bater, a bater e a bater

Devagarinho tão sossegado
E mais depressa muito assustado

Devagarinho tão sossegado
E mais depressa apaixonado



E depois a segunda:











A canção do "xixi"

Era uma vez os rins,
Em forma de feijão
Que são dois passadores
Para o sangue vermelhão

O sangue a circular
Passa sempre no rim
Leva tudo o que é bom
E deixa o que é ruim
Leva tudo o que é bom
E deixa o que é ruim


Então o rim prepara
Com o outro rim vizinho
Um líquido amarelo
Que vai por dois tubinhos

Para um saco redondo
Que se chama bexiga
Que quando enche muito
Dá sinal na barriga
Que quando enche muito
Dá sinal na barriga


O sinal vai ao cérebro
E diz que está na hora
De ir à casa de banho
Deitar o xixi fora

É o líquido amarelo
Que se chama urina
Toda gente faz xixi
O menino e a menina
Toda gente faz xixi
O menino e a menina


Foi uma manhã muito muito divertida e que me encheu de energia.
Adorei estar com ela e com os seus amigos e amigas da escola, na escola.
Fascinou-me a curiosidade de todos, as perguntas, a capacidade de aprender rapidamente, a pertinência e comicidade das afirmações.

Mostrei-lhes um diapasão que alguns acharam mágico :), expliquei tudo o que me perguntaram sobre a guitarra, cantei com eles estas e outras canções, pu-los a dançar, a espreguiçar-se e a saltar.
Fiz de fanhoso a pedido da Mathilde, cantei à fanhoso e até joguei ao fanhoso manda (uma variação improvisada de "O Rei manda") depois no recreio.
Expliquei-lhes como aparecia o "xixi" com a ajuda de um passador de cozinha que andou de mão em mão, com desenhos e sobretudo com a canção inventada para o efeito, tudo isto com a colaboração preciosa da Filipa, a Educadora e também da Vigilante da sala.

A Mathilde estava com um ar encantado e orgulhoso e veio cantar à desgarrada comigo para transmitir as canções.
Acabei por ficar também o recreio todo com eles e outros coleguinhas das outras salas e vim de lá a pensar que podia fazer disto um trabalho bem interessante, ir às escolas cantar a matéria ;)

Acredito mesmo que a vida é muito mais divertida a cantar e como estudar nunca foi tarefa que apreciei, apesar de gostar de aprender e de ter sido muito boa aluna, o meu mal a espantar, seguindo o ditado popular, era o penoso trabalho de decorar e empinar tudo e mais alguma coisa que os livros de estudo obrigam. Assim, a cantar o espantava, qual Vasco Santana e o seu famoso fado da pneumonia dupla.

Já agora, a ver se faço a canção do "cocó", que a Mathilde acha que é uma ausência imperdoável neste processo bio-fisiológico.

Entretanto a do coração já anda de boca em boca e as meninas batem palmas umas nas outras como se a canção fosse uma lengalenga.

Quem sabe se não poderia uma forma de modernizar a escola?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Do que eu gosto mesmo mesmo mesmo!


Há uns meses, a caminho da escola...

- Eu gosto de chocolate.
- Eu também Manon.
- E também gosto de vestidos.
- Eu também gosto muito de vestidos.
- E gosto do meu doudou.
- E sabes de que é que eu gosto mesmo mesmo mesmo, Manon?
- Não.
- De ti.
- ... ... E sabes do que é que eu gosto mesmo mesmo mesmo?
- De quê?
- É de ti mamã! :)

"La Fontaine" II

Ele há princesas que beijam passarões.
E depois há as que mantêm a esperança nos sapos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

This is Halloween

A pedido da feiticeirinha mais crescida cá de casa, pedido corroborado pela feiticeirinha mais pequena, a feiticeira-Mãe e o feiticeiro-Mor organizaram uma festa das bruxas neste fim-de-semana.


Como no dia das abóboras o evento se apresentava improvável devido a convites para duas festas de aniversário de colegas da Mathilde (estas crianças têm uma vida social movimentadíssima), optámos pelo dia de Todos os Santos apesar de me parecer que tal opção roçava o herege.



No entanto se Deus e os Santos amam indiscriminadamente todos os seres e todas as coisas, suponho que bruxinhas e fantasminhas e vampirinhos fazem parte do molho e o herege de qualquer das formas não se queixou.



Decorámos a casa, pusemos música a condizer - Thriller, Nightmare before Christmas, Corpse Bride, Beetlejuice, Elm Street, Ghostbusters, e no fim acabámos a ver o Coraline.






















Foi muito divertido. Muito mais divertido que o carnaval.




Desde que vi em pequena o "Se a minha cama voasse" que tenho uma predilecção escondida por bruxas. Não pelo lado Madame Min ou Maga Patalógica mas aquela coisa da vassoura voar agrada-me.
Outra vantagem indubitável é abanar o nariz e arrumar a casa como no "Casei com uma feiticeira".
Se na expressão "No creo en las brujas pero que las hay las hay" a segunda parte é verdadeira, não haverá um manual onde expliquem estes dois processos que me facilitavam tanto o quotidiano?