quarta-feira, 31 de março de 2010

LOVE!


















A tradição anual primaveril, incluída nas comemorações dos aniversários próximos(um do outro e do evento a referir) da Mathilde e da Manon cumpriu-se mais uma vez este ano, Disney on ice, incontornável.
o primeiro epectáculo foi há já três anos e guardo uma emocionada recordação da Mathilde, tão pequenina ainda, maravilhada com as princesas, de mão dada connosco, repetindo de olhos brilhantes "Je suis contente!"
Seguiu-se "The incredibles" e no ano passado a Manon integrou a tradição com "Finding Nemo".



As princesas, com os seus desejos, regressaram na nova tournée e é sempre o espectáculo mais emocionante para as manas M & M. A Mais pequena, estreante no que à monarquia sobre o gelo diz respeito, estava encantada.


Numa altura em que andam as duas fascinadas com os beijos na boca do cinema, a Manon pede para ver duas horas e meia de "Narnia II" só para se derreter com o beijo entre a Susan e o Caspian no final do filme e a Mathilde afirma peremptória que o que gosta mais da sétima arte são os beijinhos dos namorados, tanto príncipe a beijar tanta princesa, tanta paixão piruetada em patins, serviu na perfeição estas preferências, ainda para mais com muita cor e brilho à volta e desejos tornados realidade, tudo graças ao AMOR!

domingo, 28 de março de 2010

Rien n'arrête la modernité (nem as piadinhas dos piadistas)!!


Nada pára a modernidade! Expressão que plagio ao Xav desde que o conheço e que é acertada como as contas certas.

Uma amiga, a São, enviou-me um Tangram há uns anos, pelo Natal.
Nunca tinha tido tal coisa. Achei muita graça e de alguma dificuldade para quem nunca se aventurara em tal terreno antes.

Na semana passada, quando entrei na sala de aula da Mathilde deparei-me com, colados numa das paredes, trabalhos de título TANGRAM.

Os miúdos de 5 anos fazem Tangram...

Na sexta resolvi brincar com a Mathilde e o papá que como "Géo Trouvetout" (leia-se Professor Pardal)de serviço, cortou logo mais dois jogos de peças em cortiça para podermos jogar os 3 à disputa.

A Mathilde não estava propriamente muito preocupada com as formas propostas pelo papelinho que acompanha as figuras geométrica, preferia criar figuras qual artista desregrada, e ria-se com as nossas tentativas de vitória.

A competição não me correu nada mal mas houve lá um "gato" que me desesperou por perda da noção de tamanho e, claro, sobravam-me sempre peças desse eu as voltas que desse, estava engatado o Tangram e quando, ao som do riso do meu adversário, me preparava para mudar de animal, ou pelo menos de gato, e comentava pela quarta vez "O meu não funciona! Mas porque é que o meu não funciona?!", oiço como resposta desprendida e sem levantar os olhos das suas invenções em madeira a menina Mathilde, "Não funciona? Se calhar não tem pilhas..."

E riu-se! Raça da miúda mais as suas piadas aos 5 anos :D

A minha sorte foi a Manon estar na escola e não ter jogado connosco senão, provavelmente, teria tido direito a outra piadinha de ainda mais tenra idade para além da abada que ela seria capaz de me dar com a sua elevada capacidade de orientação geométrica que sempre me espantou.
Tenho de experimentar com ela mas sem me pôr a jeito para comentários destas catraias que não deixam escapar uma :D

domingo, 21 de março de 2010

Poliglotices III

Dia do Pai, a desembrulhar a prenda em forma de rebuçado da Mathilde, a respeito da etiqueta...

Manon: Papa, tu ne vas pas jeter ça?
Papa: Bien sur que non, Manon! C'est Mathilde qui l'a fait pour moi. C'est hors de question!
Mathilde: É hora de questão, Manon!

Princesas e Cavaleiros

O Pai Natal trouxe uma WII ao papá.

O desporto é uma forma de canalizar a agressividade. Alguns deles são-no factualmente mais do que outros.
Eu adoro o Boxe.
A Mathilde adora cortar objectos em competição com a irmã e começa interessar-se pelo ping pong.
O papá adora tudo, o que calha bem porque o prendado foi, e é, ele.
A Manon adora e está uma expert do SABRE - Um contra todos.

O jogo consiste em matar um sem número de adversários dando-lhes com toda a força com uma espada. Os cenários variam, a força dos adversários também mas a genica da nossa loira, a "bebé" da família, não esmorece sob o peso da armadura. Começa a 4 metros da televisão e vai avançando com o percurso até estar quase a acertar no écran. Tudo com uma expressão de gana que nos desencadeia valentes gargalhadas pelo meio de "Dá-lhe! Força! Mais! Dá-lhe!".




Quem nos vir poderá imaginar que, debaixo desta aparência comum e pacata, somos uns brutos sanguinários... é a condição humana, ainda bem que inventaram o desporto... e a Wii...

Lá num país cheio de cor...


Este ano o tema da escola da Mathilde é "Recordar é viver".
Victor Espadinha é que sabia e Joe Dassin mais ainda, Et on s'aimera encore lorsque l'amour sera mort, não mais do que o que acontece com as nossas recordações de infância, assuntos "mortos" que amamos ainda e amamos ainda mais recordá-los.

Todas as semanas, às sextas-feiras, uma turma de meninos e meninas disfarçados dessas nossas recordações, tem mostrado a uma assistência de pais e educadores a quem o tema diz muito mais do que aos primeiros, um filme, uma série, uma história, um programa de há 30 anos. (É engraçada esta forma de transmitir aos nossos filhos o que nos encantava quando tínhamos a idade deles.)

Super-Homem, Música no coração, Annie, Dartacão, Heidi, Pipi das Meias Altas, Mary Poppins, Festival Eurovisão da Canção, Grease, A Canção de Lisboa, A Aldeia da Roupa Branca, são alguns exemplos que têm desenhado sorrisos nos rostos dos espectadores.

À sala da Mathilde coube "A Abelha Maia".



























Quando soube da performance prevista, a sua preferência foi imediatamente para a Professora Cassandra. Mas a bem da organização, não houve nem Cassandra, nem Escaravelho Caco, nem Aranha Tecla, nem Mosca Soca, nem o amigo Vili, nem personagem alguma que coubesse no meu disco de Vinil para além dos lados A e B do single, a Maia e o Saltarico Flip.

Houve sim formigas, joaninhas, borboletas, flores, abelhas e zangãos.

A Mathilde, escolheu ser uma abelhinha na "boa vida" num botão de flor, descrição que nos fez chegar.





Estava numa excitação pegada com o "seu" espectáculo, que aconteceu há pouco mais de uma semana.



A Manon foi connosco vê-la.
O Papá filmou.
Eu derramei lágrimas, sim, ao som da Ágata e do Tózé Brito... Same old, same old;):D

P de PAI

FELIZ DIA DO PAI!!!

Foi assim que o dia 19 começou, às 6h45 da "madrugada".
A Mathilde acordou a horas nunca antes, sequer, imaginadas por ela e despertou toda a gente tal era a excitação com a festa do seu papa d'amour.
Fez-lhe um saco de viagem para os sapatos.

Em casa, para além das "Instalações" com flores, pedrinhas, desenhos, bonequinhos e muito carinho que nos oferece quase todos os dias, fez-lhe uma bolsa para o telemóvel com carimbos e pinturas num saquinho que aproveitou. É uma artista esta miúda!

Na escola, há mais de um mês, quando "deram o P", a primeira a avançar uma palavra foi ela, PAI, claro :)









A Manon queixou-se de ter sido acordada (habitualmente é ao contrário e a horas bastante menos dolorosas)embora manifestando o mesmo nível de entusiasmo apesar do ar ensonado.
Fez-lhe um tapete para o Rato.


Quando desenha o papá, fá-lo sempre de cabelo comprido o que torna o seu desenho ainda mais divertido e único para nós.






















E na versão a preto e branco ele pode almejar tocar piano a quatro mãos só com duas.




















"O pai Xavier é alto.
Gosta de beber café.
No trabalho, trabalha no computador.
Lá em casa o pai é o cozinheiro, faz massa com carne.
O Pai ajuda a mãe a dar banho.
Gosta muito de comer chocolate com uma colher ou com pão.
Gostava de oferecer uns óculos de sol novos."

Bonne fête papounet!!

domingo, 14 de março de 2010

Vocações III

- Já não quero ser nem professora acrobática nem professora de infância. Afinal quero ser cantora!
- Cantora? Está bem, Mathilde. E tu Manon? Também queres mudar?
- Não. Eu quero pintar a cara de alguém.

sábado, 13 de março de 2010

Versões


A ilusão auditiva é uma das minhas preferidas.
Brincar ao telefone árabe sempre me divertiu e perceber letras de canções de forma absurda também.

O exemplo do qual melhor me lembro é o "Better man" dos Pearl Jam em que eu ouvia "Can't find the paramedics" em vez de "Can't find a better man" e imaginava o cenário terrível e hemoglobínico em que alguém se esvaía em sangue no meio da rua, à noite, e o vocalista tentava estancar a hemorragia enquanto se lamentava gritando uma rocalhada sem nexo porque a ambulância nunca mais chegava.
Muito parvo, sim!, mas divertido, também.

Como este, muitos outros equívocos auditivo-verbais se foram e vão acumulando na minha história.

O último foi há uns dias na dança, em que o professor, no cool down, pôs "Shimbalaiê" de Maria Gadú que, ao que parece, é bastante conhecido mas que eu nunca tinha ouvido antes.
Juntando ao meu desconhecimento o facto da intensidade sonora nas salas das aulas em classe dos ginásios ser bastante elevada, em vez de "Shimbalaiê, quando vejo o Sol beijando o mar", eu percebi "Shimbalaiê, quando vejo cerveja no mar" e pensei que a senhora que cantava, e que eu não sei quem é, ou devia ter fumado alguma coisa ilegal ou estava em síndrome de abstinência alcoólica ou as duas coisas ao mesmo tempo, porque me era difícil perceber a poesia do verso, só se fosse pela espuma porque um mar amarelo tolhe-me a capacidade de relaxamento, para além de não apreciar a dita bebida, sou mais vinho tinto, e ainda assim a ideia de um mar bordeaux também me tolhe o agrado.

A Mathilde e a Manon são um saco sem fundo de aldrabices como estas, embora das duas a mais palhacinha seja a mais pequena.

A última aquisição cantarolada é "Macarena".

A Mathilde chegou a casa a cantar o one-hit wonder de "Los del Rio" que tanta gente pôs a abanar a anquinha a meio dos anos 90. E ainda põe, basta que alguém se lembre de o pôr a tocar e saltam logo uns tantos para a pista a fazer a dança do teledisco. Eu também salto, porque quando não salto há sempre quem me venha obrigar a saltar, devo ter cara de quem gosta de abanar a anquinha, e gosto, mas não assim tanto ao som de "HEEEY! Macarena!!", disfarço é bem.

A versão da mais crescida é "Baila tu corpo Maria Macarena!". Nada mal!, soa-me bastante próximo de "Dále a tu cuerpo alegría, Macarena!".

A versão da Manon é discretamente mais desconexa, "Corpo, papaia, cozinha, Macarena!", e eu digo BRAVO!, muito melhor que os meus paramédicos! :D

Esta miúda faz-se! Allez Manon! Como tu dizes sempre
"Para o infinito e mais ALGUÉM!!!!"

Vocações II

- Afinal já não quero ser professora acrobática. Quero ser "professora" de infância.
- E tu, Manon?
- Eu quero pintar a cara de alguém.

Vocações

- O que é que tu queres fazer quando fores grande, Mathilde?
- Quero ser professora acrobática.
- E tu, Manon?
- Quero pintar a cara de alguém.
- Maquilhadora?
- Não! Fazer pinturas e desenhos nas caras dos meninos.
- Professora acrobática e artista de pinturas faciais... por mim tudo bem mas depois não nos venham pedir dinheiro!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Somewhere over the rainbow


Há umas semanas fomos ver "O feiticeiro de Oz".
A Mathilde e a Manon já conheciam a história desde muito pequeninas e a maior, há três anos, até deu o nome de "Totó" a um cão petshop gigante de peluche que ganhou no Natal.

Foi um belo espectáculo. A Dorothy encantou, a Bruxa Má do Oeste assustou, a Bruxa boa do Norte ajudou, a tia Em fez de Tia e de Tio, o Leão e o Homem de lata divertiram e o Espantalho maravilhou.

Para além do palco, para mim, o Politeama é um teatro de crianças, gostava de ter um em casa.

And the winner is...



A ver o filme "Bandidas"...
- Manon de qual é que tu gostas mais?
- Eu gosto mais da Panela Cruz, Mathilde.

terça-feira, 2 de março de 2010

Stachy! Duffy!


Após ter sobrevivido a uma paragem ventilatória e dois meses de sintomatologia respiratória grave e dificilmente explicável, falaram-me de um médico graças ao qual eu tive o dia mais feliz da minha vida logo a seguir ao dia em que encontrei o meu marido e aos em que nasceram as minhas filhas, e eu até tenho o privilégio de ter muitos dias felizes;)
Chama-se Pedro Mata, é Imunoalergologista e para mim é “Deus no céu e Pedro Mata na terra” no que à minha saúde diz respeito.

Passei dois meses a respirar muito mal, a ter crises de dispneia mais ou menos graves, mais ou menos prolongadas, mais ou menos frequentes todas as semanas. Pedi um lugar cativo no serviço de urgência mas, ao fim de algum tempo, quando acordava a meio a noite a “não respirar tudo” já nem despertava ninguém, fazia os SOS todos a que tinha direito, vestia-me para estar pronta a sair e acabava por adormecer quando a crise cedia, duas horas depois, sentada no sofá do meu quarto, porque a posição horizontal era incompatível com uma ventilação normal.

Contando as visitas ao Serviço de Urgência, as consultas e o internamento, fui vista por três pneumologistas, dois clínicos gerais, duas internistas e um fisiatra. A todos contei a mesma história e a todos perguntei que raio de asma era esta que não só não melhorava, como não se manifestava mediante nenhum factor de agravamento mas quando lhe dava na real gana e, sendo que eu não tenho idade nem condição física nem higiene de vida que permitam um descontrole permanente de uma doença perfeitamente controlável na actualidade, e que fiz 3 antibióticos, corticóides em doses elevadas e mais nove medicamentos várias vezes ao dia durante semanas, cinesioterapia respiratória, circuitos de treino supostamente especiais, tudo isto sem qualquer remissão da dificuldade respiratória e da panela com grão que tinha cá dentro e que sentia permanentemente porque permanentemente se respira, que raio de asma era esta?!

As respostas iam desde “Pois… não sabemos… não sei… a asma é assim…” a explicações rebuscadas na tentativa de me encaixar num quadro diagnóstico que não batia certo.
A única que estranhava era a minha pneumologista, sem no entanto se atrever a arriscar outra hipótese que implicasse parar medicação, pois se eu estava tão mal…

Ouvi, para mim demasiadas vezes, que não podia pensar nisso, que se estava ansiosa ficava pior. Que o melhor era adoptar a posição Nietzschiana de “O que não me mata torna-me mais forte.”
É claro que a frase feita onde se fala em ensinar o Padre Nosso ao vigário me passou pela cabeça mas também é claro que em casa de ferreiro, espeto de pau e que por vezes é importante apercebermo-nos do que os outros percebem em nós e nós longe disso estávamos. Porém, uma coisa é o que os outros percebem e outra é o que eles acham perceber porque não há disponibilidade para ouvir e é muito mais fácil projectar.

Claro que me preocupei, claro que passei estes dois meses alerta, pois se a quando da paragem respiratória eu estava muito melhor que durante todas estas semanas como não me ralar?! E como andar pensar em Nietzsche quando, efectivamente, não se respira? Se ainda fossem enxaquecas, mal de que o pensador padecia… Como regular a minha vida pela Teoria do Eterno Retorno, pelo amor fatu, "Escolhe o teu destino, ama o teu destino, vive o dia de hoje como se o quisesses repetir o resto da tua vida", se eu não queria de forma nenhuma repetir o que sentia fisicamente e o que sentia fisicamente não dependia de forma linear da minha vontade?

Porque esta minha doença não variava consoante o meu nível de tensão, não variava com a temperatura do ar, nem com a quantidade de pó que inspirava ou com a hora do dia, nem com o cheiro dos produtos de limpeza ou com os de higiene e beleza, nem com o que eu comia ou deixava de comer, nem, com os gatos ou os cães ou as baratas, nem com o vento ou com os pêlos dos tapetes ou dos casacos, ou dos peluches. A minha doença tinha vida própria. Variava quando bem lhe apetecia, mantendo-se presente contra ventos e marés. E até eu que não sou uma doida do controle, longe disso, me sentia a endoidecer com o descontrole absurdo que me estava a acontecer.

Foi então que acordei a meio da noite com uma dor de garganta após uma tarde passada a fazer tratamentos num consultório gelado de um Médico e Osteopata muito simpático, e me irritei, muito, zanguei-me e zanguei-me com o que me estava a acontecer, coisa que anteriormente tinha sido impossível pela indisponibilidade interior.

Pensei que dietas especiais, saunas cómicas em que se fica com a cabeça de fora e ondas curtas em ambiente muito frio não só não me resolviam assunto nenhum como me acrescentavam dores de garganta daquelas de subir pelas paredes com a intensidade.

Pensei que enquanto se anda distraído a fazer sumos naturais em que não se misturam frutas, cozimentos de farelo de trigo e cebola para tomar em jejum, saladas em que não se pode misturar sumo de limão com tomate, a escolher a acidez do azeite como se fosse crime ultrapassar o limite imposto e a apalpar espinafres na vã tentativa de perceber a sua tenra maturidade, entre muitas outras regras que duram pelo menos dois ou três meses, o tempo se encarrega ou de piorar de tal forma a doença que se tem mesmo de ir ao médico ou de a resolver, porque à partida já o seria, e assume-se que foi do tratamento naturopata.

Não sou mais céptica nem sugestionável que a vizinha do lado, sei que a fé é um barómetro de escolha e no entanto cheguei à conclusão que durante todo este périplo de doidos não consigo acreditar nestas alternativas quando se está gravemente doente.
Experimento o que for preciso mas a convicção não é elevada, até ponderei a hipótese de bruxedo mas não encontrei numa bruxa daquelas que fazem poções e feitiços, só me indicaram cartomantes, médiuns e leitores de auras e eu não queria saber o meu futuro, queria era mesmo um milagre.

Falei com um padre que adoro e que me disse “Maria, se calhar isso é apenas a biologia.”, desta malta toda, foi o que mais se aproximou, ainda por cima a rimar.

Sugeriram-me encosto, perguntei como se “desencostava” e segui de lista de ingredientes em punho para a ervanária mais próxima, roubei um ramo de oliveira ao vizinho e defumei a casa 3 dias seguidos.

Sugeriram-me más vibrações, más energias, e ensinaram-me a pôr sal nos cantos da casa. e a plantar arruda à porta.

Fiz radiografias, TAC, análises variadas.

Consultei sites, falei com muitos amigos que vivem há anos com asma e em lado nenhum encontrei o que eu sentia.

E nessa noite, a da dor de garganta de subir pelas paredes com a intensidade, zanguei-me tanto que decidi que não fazia nem mais uma maluquice alternativa, que voltaria a comer e beber tudo o que me apetecia, que não ponderava mais saunas nem defumações nem opiniões de leigos, e a zanga fez-me muito bem, fez-me voltar ao meu estado de ânimo habitual, a rir, a sentir-me alegre. Continuava “podre” fisicamente mas tão animada que até parecia que estava bem. Parecia apenas, que o Eterno Retorno ainda não se fazia figura.

Foi então que me falaram de um grande especialista da asma. Liguei, pedi urgência, e no dia seguinte, no Instituto Clínico de Alergologia, os meus pulmões começaram a agradecer.
Ao fim de duas horas de consulta em que eu já me sentia incomodada com o tempo que estava a ocupar, de uma espirometria normal, uma prova de Óxido Nítrico normal e uma auscultação francamente patológica ele diz-me algo que teria eventualmente perturbado muita gente mas que me sossegou porque veio ao encontro do que eu penso desde que tudo isto começou há 4 anos e meio e sobretudo nestes dois últimos meses, “Eu não sei o que você tem, tem qualquer coisa de certeza… mas não é asma. Até pode ter asma, o que eu duvido, mas não é a asma que está a provocar isto.” e continua “Você não tem história clínica de asma, a sintomatologia não é de asma, a forma como descreve o que sente não é de asmático, não tem auscultação de asma, não tem nenhuma prova diagnóstica de asma, não tem nada de asma. A única coisa que tem a favor da asma é ter respondido à medicação.” “E agora nem isso” pensei eu, que estava há meses a fazer tudo e mais alguma coisa e nada.

Pediu-me então uma prova diagnóstica de asma, a da metacolina, em que se inalam concentrações crescentes desta substância que provoca broncospasmo em qualquer pessoa mas com concentrações menores e mais intenso em asmáticos. Comecei a partir desse dia a parar a medicação para poder fazer a prova e, estranhamente, senti-me melhor. Na manhã da dita sentia-me bastante bem mas bastante preocupada também. E se o exame me provocasse uma crise semelhante à de Dezembro?... Diziam-me que era um broncospasmo controlado, que só iam até aos 20%, mas e se eu estivesse tão descompensada que à mínima concentração de metacolina fizesse logo 80 ou 90?...
Era tudo tão atípico que uma reacção atípica me rondou o pensamento.

E, para espanto, não espantado afinal de contas, afinal de contas a prova foi negativa. Não tenho nem nunca tive asma. Fiz medicação durante dois anos para uma doença que não me pertence, os últimos meses foram de um exagero terapêutico assustador, e sem medicação fui ficando melhor e melhor e melhor.

O Dr. Pedro Mata pediu-me uma lista copiosa de análises, algumas tão raras que a técnica que fez a colheita de sangue teve de ir ver a um livrinho em que tubo enviá-lo e a resposta chegou na semana passada, tenho ou tive uma coisa rara, muito rara, tão rara que já a contei a não sei quantos colegas e nunca ninguém ouviu falar dela, um fungo de seu nome Stachybotris atra, da humidade das casas e que aparece muito raramente.

Não é normal ter contactado com ele e muito menos o nível elevado de anticorpos que tenho a demonstrá-lo. Se o Stachy não está cá dentro, já esteve e bem refastelado.
Procurei na net e só encontrei artigos estrangeiros. Parece que o raio do bicho é tão patogénico que na Bélgica fazem a demolição dos edifícios públicos ou privados onde o encontram e há mesmo quem o responsabilize pela morte súbita do recém-nascido.

Quando me auscultou na quinta-feira, o meu salvador ficou contente com a ausência da barulheira infernal que habitava o meu peito há tanto tempo e disse-me que na primeira vez embora não tivesse dito nada até se tinha assustado com o que ouvira. Com a distância vou percebendo que estive realmente muito mal.
Não era preciso nada disto. Tinha dispensado tudo. Mas também imagino que tudo me aconteceu para que, pelo menos, eu descobrisse que não tinha asma.
A minha suposta amiga era afinal um fungo que ninguém conhece.

O Xavier bem que me dizia que eu tinha de ir ver um Mega-Ultra-Super-Especialista e a Patrícia, madrinha da Manon, propunha desde sempre ligar ao House.
Liguei-lhe. E ele descobriu. E eu estou-lhe tão grata porque OUVIU o que lhe disse, porque foi tão disponível, porque me tirou a inquietude de uma doença crónica ainda por cima descontrolada, incompreensível e para mim fonte de confusão. Porque foi simpático, porque arriscou, porque me transmitiu uma segurança que me permitiu confiar e arriscar. Porque me fez sentir-me normal.

Bem sei que todos os anteriores agiram de boa fé mas não deixa de ser uma história incrível. Sou eu médica e explico-me bem, imagino quem não o é nem o faz.
Apesar do raro ser raro e do frequente ser frequente, quando as evidências da frequência são por demais inexistentes, ao som de um tropel convém ir à procura de zebras e não de cavalos.

O Xav insurgiu-se de imediato e apelidou todos de charlots. Eu justifiquei-os com compreensão.

A Manon sorriu-me e deu-me um abracinho, “Não tens asma! Que bom, mamã! Estás só um bocadinho doente, não é muito! Que bom!”

Mas a melhor reacção foi a da Mathilde que saltou para o meu pescoço e gritou “Não tens asma!!!! VIVA!!” e depois, já mais calma, ”Ó mamã, os médicos enganaram-se! Tu não tens asma! Não tens nada disso! Eles são mesmo duffy! Tens de lhes dizer!”
“Claro que sim Mathilde. Vou dizer-lhes que a minha filha mais velha que tem 5 anos e é muito inteligente mandou dizer que eles são duffy.”

Bem sei que todos agiram de boa fé mas não deixa de me fazer rir, DUFFYS!!

(Duffy é uma expressão apregoada pela pré-primária da escola da Mathilde e que significa tonto, pateta.
Suponho que terá qualquer coisa a ver com o “Dah!” dos Simpsons e/ou com patos sopinhas de massa, ou talvez com a cantora loira, hipótese que me agrada porque foi mais ou menos “You got me begging you for mercy, why won’t you release me?” que eu pensei durante os últimos tempos…)