segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Picocas"


Gosto de mercados, prefiro os de rua e o comércio tradicional e sem esquisitices aprecio também mini, super e hiper-mercados.
Não resisto àquelas promoções "Leve 2! Pague 1!" Em tempos consegui comprar um conjunto de maionese-ketchup-mostarda daquela muito má, só porque trazia uma tampa dragão pela qual me apaixonei à primeira vista. Tendo em conta que nenhum dos 3 produtos era consumido cá em casa e que todos acabaram fora de prazo, ainda fechados, no caixote do lixo, talvez tenha sido um pouco, digamos, absurda a compra. Não se perdeu tudo, a tampa, apesar de lesionada ao ponto de já não se parecer com tampa alguma, ainda dá felicidade à Mathilde e à Manon sendo usada para compôr as histórias que inventam no banho.

Há uns anos, no corredor dos produtos para bebés, encontrei uma dessas promoções, 2 champôs + 1 DVD, DVD totalmente desconhecido mas prometedor uma vez que a Mathilde despertara para a 7ª arte muito bebé ainda e hoje, tendo em conta os seus apenas 4 anos, é uma cinéfila, com uma videoteca proporcionalmente maior do que a nossa, cinéfilos também. Se a querem ver feliz é darem-lhe um filme.
Foi pois desta forma que ela descobriu "O Jardim dos Amigos", o primeiro. Descobriu ela e descobrimos o pai e eu. A Manon era apenas um projecto do nosso coração e anos depois herdou a descoberta, o gosto, e mais 3 volumes.

Num deles o Paulo, a Ticha, o Eugénio, o Afonso e a Joana cantam e dançam que se desunham com minhocas. A Manon chama-lhes "Picocas" e assim passou a designar tudo o que tem uma forma fina e alongada, de cabeça numa ponta e rabinho na outra, sem perninhas nem bracinhos. Picocas! O que eu gosto desta palavra!

Há uns dias estavam a ver um episódio da Pipi, Pipi vai ao circo, e perante uma cena protagonizada por uma domadora de serpentes e jibóias, a Manon olha para a piton gigantesca que a dita senhora colocava à volta do pescoço e exclama: "Olha mamã! Picocas! Gaaande!!"

sábado, 17 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"Ocês"!

Suponho que as mães e os pais têm no seu software, para além do Corrector do Word, do Quick Time e do Photoshop, um programa de discos pedidos "Quando o telefone toca" - like.

O Corrector do Word é útil para descobrir que "oussete" significa "chaussette", "tidala" significa "sentada", "fafa" significa "girafa" e "merci" é mesmo "merci".

O Quick Time faz todos os filmes de todos os géneros, cómicos, dramáticos, de acção, de aventuras, de animação, de fantasia, de culto, mudos, musicais, de ficção científica, suspense, sucessos de bilheteira garantidos ou cienema independente, tendo como protagonistas crianças que se divertem no palco infinito dos neurónios dos respectivos progenitores.

O Photoshop serve para compôr a imagem e torná-la a mais bonita de todos os tempos e o "Quando o telefone toca"- like para cantar, repetidamente, todos os discos pedidos, repetidamente.

O disco mais pedido pela Manon é "Ocês". Aqui o Corrector do Word é precioso, leia-se "Parabéns a vocês".
Pede a toda a hora, até para adormecer. Canto-lhe a letra toda e quando chega ao parabenizado, ela vai escolhendo. A ordem varia, pode começar por ela ou não, dá a volta à família, Manon, Mathilde, mamã, papá e volta ao princípio. Quando considera suficiente a cantoria, termina com "todos".
Habitualmente opto por um loop nos dois versos finais, variando o nome à medida que ela vai pedindo, e que resulta em:
"Para a menina Manon
Uma salva de palmas!

Para a menina Mathilde
Uma salva de palmas!

Para a menina mamã
Uma salva de palmas!

Para o menino papá
Uma salva de palmas!

Para os meninos todos
Uma salva de palmas!"


Aqui há uns meses a Manon e a Mathilde descobriram as "canções da Maria", as minhas por assim dizer e, sabe-se lá porquê, fascinaram-se com "A TV é nossa amiga" e pediam para ver vezes sem conta.
Fascinaram-se não comigo mas com o Nuno.
"Mamã! O Nuno!" era a frase pedinchona do momento e riam perdidamente a vê-lo a fazer a mímica das minhas canções palermas.

O Nuno esteve cá em casa a gravar este webisódio e as meninas andaram doidas de volta dele. Ó Nuno isto! Ó Nuno aquilo! A Manon deitou-se no seu colo derretidíssima e a Mathilde só queria estar ao pé dele.

Nessa noite, quando fui deitar a Manon, ela pediu o "Ocês", deu a volta à família como sempre e quando acabou disse com um sorriso satisfeito "Nuno!". E a partir daí inclui-o sempre no seu disco mais pedido.
Passou a fazer parte da família! :)

Pois para o menino Nuno uma salva de palmas! EEEHHH!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O dia da Mãe

No domingo passado acordei com a Mathilde e a Manon a entrarem pelo nosso quarto com uma prenda na mão, um livro muito bonito, um álbum com fotografias de crianças de todos os géneros e feitios, "Children".

Na manhã seguinte fui à festa do dia da Mãe na creche e fiquei logo de lágrima no olho, nos dois aliás, com a pequena peça, com sombras chinesas, que as educadoras nos ofereceram, "Adivinha quanto eu gosto de ti", cujo texto deixo em post sciptum.

Depois a Mathilde foi a correr buscar a prenda que tinha feito, uma t-shirt onde me desenhou e um postal a dizer "Gosto de ti".
O dia do Pai tinha tido uma festa e uma prenda semelhante.

Cheguei a casa e coloquei as duas t-shirts lado a lado e lembrei-me de um professor de Anatomia I, na Escola Superior de Medicina Veterinária, O Exmo Sr, Professor Doutor Paulo Marques, que nos exames distribuía os alunos pelas cadeiras alternando os géneros, rapaz-rapariga-rapaz-rapariga... Dizia ele que era uma medida que prevenia o copianço já que a comunicação entre os sexos é de extrema dificuldade para além de que desta alternância resultava o encaixe perfeito, os rapazes largos em cima - as raparigas largas em baixo.

Tinha também uma lista de regras, distribuída no início do exame e que devia ser cumprida sem questionar, entre elas uma que me deliciava - a proibição da utilização de canetas de tinta lavável porque, alegava o Sr. Professor, esta tinta contém tóxicos que passam para as mãos dos examinadores a quando da correcção do exame - tudo isto por escrito, pela mão, em caligrafia de escola primária, do responsável pela cadeira, cadeirão como se sabe.
Tinha bastantes outras particularidades que o tornaram, suponho, uma lenda daquela Instituição Superior, mas o que se me fez figura foi o "encaixe perfeito entre os sexos".

Quando olhei para os desenhos da Mathilde, vi-me naquele anfiteatro gelado cheio de cadeiras de pau, desconfortáveis, mais ainda em dia de exame, estupefacta com as regras e distribuições anatómicas e a imaginar a raça humana como triângulos, de base inferior ou superior, com braços e pernas e umas cabecinhas felizes lá em cima.

O Paulo Marques sabia, via-se que percebia alguma coisa sobre a constituição toraco-abdominal da humanidade.
A Mathilde também sabe, aos 4 anos e sem os 5 cursos superiores mais não sei quantos mestrados e doutoramentos desse senhor.
A verdade sai da boca das crianças e neste caso das mãos também, quando pintam.
Veja-se!




É ou não é verdade?:D

A Manon ofereceu-me um porta-chaves, uma estrela/sol, escolheu as cores e colou as peças. Está a crescer sem parar.



E para terminar, a Mathilde foi mostrar-me o desenho que fez sobre mim. É sempre curioso o que os nossos filhos dizem de nós, o que acham importante.



É mesmo bom ser mamã.
Obrigada meus amores maiores!


ps - Aqui fica "Adivinha quanto eu gosto de ti"

A Pequena Lebre Castanha, que se ia deitar, agarrou-se bem agarrada às orelhas muito compridas da Grande Lebre Castanha. Quis ter a certeza de que a Grande Lebre Castanha estava a ouvir.
- Adivinha quanto eu gosto de ti- disse ela.
- Ora bem, acho que não consigo adivinhar isso- disse a Grande Lebre Castanha.
- Gosto assim- disse a Pequena Lebre Castanha, esticando os braços o mais que podia. A Grande Lebre Castanha tinha uns braços ainda maiores. Mas eu gosto de TI assim- disse ela.
«Humm, é muito», pensou a Pequena Lebre Castanha.
- Gosto de ti esta altura toda- disse a Pequena Lebre Castanha.
- E eu gosto de ti esta altura toda- disse a Grande Lebre Castanha.
«É mesmo alto», pensou a Pequena Lebre Castanha. «Quem me dera ter uns braços assim.»
Então a Pequena Lebre Castanha teve uma boa ideia. Fez o pino, encostada ao tronco muito esticadinha.
- Gosto de ti até à ponta dos pés!- disse ela.
- E eu gosto de ti até à ponta dos teus pés- disse a Grande Lebre Castanha, fazendo-a girar por cima da cabeça.
- Gosto de ti até onde eu consigo SALTAR! Riu-se a Pequena Lebre Castanha, dando pulos e mais pulos.
- Mas eu gosto de ti até onde eu consigo saltar- sorriu a Grande Lebre Castanha, e saltou tão alto que as orelhas tocaram no ramo da árvore.
«Isto é que é saltar», pensou a Pequena Lebre Castanha. «Quem me dera saltar assim.»
- Gosto de ti o caminho todo até ao rio- gritou a Pequena Lebre Castanha.
- E eu gosto de ti até depois do rio e dos montes- disse a Grande Lebre Castanha.
«É mesmo longe», pensou a Pequena Lebre Castanha. Tinha tanto sono que já quase nem conseguia pensar. Então olhou para além das moitas, para a grande noite escura. Nada podia ser mais longe do que o céu.
- Gosto de ti até à LUA- disse ela, e fechou os olhos.
- Ora, se isso é longe- disse a Grande Lebre Castanha.- É mesmo, mesmo longe.
A grande Lebre Castanha deitou a Pequena Lebre Castanha na caminha de folhas. Inclinou-se e deu-lhe um beijo de boas-noites.
Depois deitou-se muito pertinho e murmurou sorrindo:
- E eu gosto de ti até à Lua... E DE VOLTA ATÉ CÁ ABAIXO.

Sam McBratney

sexta-feira, 2 de maio de 2008