sábado, 18 de novembro de 2006

Nada pára a modernidade!

As canções da minha infância estão um pouco modificadas. Nada pára a modernidade.
Há quem já não atire o pau ao gato mas sim "o peixe", resta saber o que é pior, se tentar matar o gato atirando-lhe um pau ou envenenando um peixe, parece-me mais perversa e malvada a segunda hipótese.
Sim porque por que raio se usa um peixe como arma de arremesso para acabar com a existência do pobre animal? Só se for um espadarte ou um atum daqueles que pesam dezenas a rondar a centena de quilos e que esmigalhem a vida ou uma das 7 do bichano mas, ainda assim, quem é que tem força para atirar com um peixinho de tamanha envergadura?
Parece-me óbvio que se a intenção é encomendar a alma do bicho, já que a canção insiste que ele não morre, este verso não se alterou ao longo das últimas décadas, o peixe só pode estar envenenado, o que é repugnante, atirar um pau ao menos é o que é, não há cá perfídias nem ignomínias e muito menos martírios de tripas reviradas por pozinhos malévolos!
Assim como assim, quando canto, atiro um pau.

Outras há na quais a mudança foi benéfica, a meu ver o Sebastião pode comer tudo o que lhe aprouver mas dar pancada ou, em versão mais vernácula, "porrada" na mulher não é algo que se deva sugerir nem a miúdos nem a graúdos. O Sebastião dos tempos modernos dá beijinhos na mulher e eu acho bem.

Quem vai a Viseu nos dias que correm e deixa lá o seu amor, quando regressa expressa o seu descontentamento - Vindo eu, vindo eu da cidade de Viseu, deixei lá o meu amor o que bem me aborreceu! - e não se encerra em "Ai Jesuses!" Há que encorajar a expressão de emoções, canção melhorada, parece-me.

Não me apercebi de diferenças na "Machadinha" nem na "Linda Falua", a "Abelha Maia" e o "Dartacão" fazem já parte dos clássicos, traduz-se o cânone "Frère Jacques" e há até uma versão com dedos que se apresentam e têm muito gosto em ver-se em que o Frei João não toca sino nenhum.

Ora assim como continuo a atirar paus ao gato, prefiro o frade original, até porque o francês é a língua paterna cá em casa.

A Mathilde cantava o "Frère Jacques" muito concentrada e a abanar a cabecinha de um lado para o outro e de cima para baixo como aqueles cães de peluche que se colocam na prancha traseira dos carros por cima do porta-bagagens mirando-nos através do vidro de trás.
Quando chegava ao "Sonnez les matines!" perdia a compostura e ria-se, ria-se muito.
Um dia não cantei com ela, fiquei a ouvi-la e embora ela insistisse:
- Mamã! Canta!
Eu insisti mais:
- Canta só tu bebé! Canta que eu quero ouvir-te.
E percebi, para a Mathilde a canção diz:

Frère Jacques!
Frère Jacques!
Dormez-vous?
Dormez-vous?
Sonnez chez Mathilde!
Sonnez chez Mathilde!
Ding Dang Dong
Ding Dang Dong

E começámos a cantar todos assim, e ela até canta, com a sua boa vontade de nunca excluir a irmã:

Sonnez chez Manon!
Sonnez chez Manon!
Ding Dang Dong
Ding Dang Dong

E ri-se e nós rimos com ela a imaginar um frade estremunhado a tocar-lhe à campaínha.

Nada pára a modernidade, as canções da minha infância estão, realmente, um pouco modificadas.

2 comentários:

Tânia Santos disse...

bem...realmente tens razão as canções estão um bocadinho diferentes...
mas esta versão do "Frère Jacques" onde a Mathilde e a Manon entram está uma delicia...adorei!!
beijinhos para vocês

p.s.:obrigada pelas tua palavras no meu cantinho...amanha vou ao dentista com ele para ver o que se pode fazer...

Monica disse...

Tudo muda realmente. SE nem no meu tempo era assim..e só tenho 18 anos kuase 19 diga-se..;)!! Mas também é importante evoluir...e eu tenho para mim que a Mathilde é uma rapariga muito esperta...não se pode só cantar, tem que se fazer parte das canções ora pois claro.

beijinhos para voçês..
Monica