domingo, 16 de janeiro de 2011
BN em verso
Este ano, o tema da escola das manas é "Contos tradicionais".
A sala da Mathilde escolheu "A Branca-de-Neve e os sete anões".
Numa conversa com a professora surgiu a ideia de fazer a peça em verso. Olha o que ela havia de me sugerir! Cheguei a casa e escrevi um "Musical" qual Filipe La Féria com plumas (porque com passarinhos) e sem lantejoulas :) posteriormente aprovado pela mesma professora que sem o saber me desafiara.
Como me disse a minha mãe, meto-me em cada uma que até parecem duas!
Fui ensaiar a turma, 30 crianças de 6 anos, 20 rapazes e 10 raparigas que geravam o caos em menos de 3 segundos, poucos dias depois do início do ano pois a apresentação tinha data marcada - 14 de Janeiro.
Foi um périplo que dificilmente esquecerei.
Fiquei espantada com o comportamento indisciplinado da maioria, com a dificuldade em cumprir regras, em seguir indicações básicas, o pouco ou nenhum respeito pelo espaço alheio, a dispersão facílima, a incapacidade de concentração e atenção.
Bem sei que têm 6 anos e no entanto pareceu-me um pouco demais tanta incapacidade para estar, simplesmente.
Não era necessário ter jeito para representar ou cantar, era só "estar".
Parecia uma casa de doidos.
Uma trabalheira maluca ao longo de 7 mini-tardes. No entanto, apesar do cansaço, achei sempre que chegaríamos a bom porto.
Pedi ajuda a algumas mães que conseguiram manter a ordem e uma delas fez imensos adereços fantásticos como o poço, as cabeceiras das camas, nuvens e relâmpagos.
Pedi outros adereços aos pais, levei muitos e muitos cá de casa, fiz alguns, ensaiei em grupos, ensaiei todos juntos, ensaiei sem guitarra, ensaiei com guitarra, sem adereços e com adereços, armei-me em cenógrafa, produtora, guionista, ensaiadora, para além de adaptadora, autora e compositora. A minha mãe tem razão, não sou boa da cabeça.
O Xav esteve em alguns ensaios e filmou o evento. Dizia-me por fim que já deitava a BN pelos olhos. Eu já sonhava em verso e a cantarolar.
A professora investiu e persistiu tudo! Sem a sua capacidade para lhes dar a volta, a sua autoridade, a paciência e a vontade de realização não teríamos conseguido o que se mostrou improvável até à véspera. A Mathilde está muito bem entregue :)
Começámos na pré-história de qualquer coisa parecida com uma peça em verso com canções pelo meio e chegámos a um musical fantástico onde mini-artistas tão pequenos representaram, cantaram e encantaram ao longo de 20 minutos.
O espectáculo teve lugar na sexta-feira às 8.30 da manhã e foi maravilhoso! Portaram-se tão bem mas tão bem!
Fiquei mesmo contente, sobretudo pela Mathilde.
Ela foi a Branca-de-Neve e a sua grande amiga, também Matilde, foi a Rainha-Má. (As duas juntas, se pudessem, faziam a peça toda e faziam rir toda gente.)
Adorei a experiência, se bem que me disponibilizei a vivê-la porque da sala da Mathilde se tratava.
Percebi visceralmente o que é ter uma turma de muitos insubordinados a cargo. O cansaço que tal provoca e a tolerância, paciência, autoridade e astúcia, entre outras características, que um professor necessita para não correr quase todos ao tabefe.
Nunca bati em criança nenhuma nem pretendo bater e sou a favor da reprimenda e do castigo em vez da palmada mas durante esta semana compreendi experiencialmente o impulso, frenado, do estaladão de mão atrasada. Dei aulas durante 15 anos mas o meus alunos já tinham 19 e na faculdade as prioridades são bem diferentes.
Confirmei também a importância da importância atribuída. Com ela, algumas crianças cresceram e sobressaíram durante o processo.
Penso que todas aprenderam bastante mais do que apenas representação e memória ao longo da semana. Eu também.
Para mim, a moral desta história toda é a do Big finale do dito "musical" - "Acreditai nos vossos sonhos e que o amor ganha no fim!".
E ao fim chegou a nossa história. Vitória! Vitória! Perlimpimpim!
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