sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Soluções para vilões


A Mathilde sonha com castelos e fadas, bailes com a irmã e maus que a raptam, tubarões que lhe mordem o pé e canções que ela canta e a salvam, famílias de estrelinhas e festas de casamento dela e do António na escola antiga.
Habitualmente resolve os contratempos e os sonhos têm um final feliz.
Nunca antes nos tinha contado um pesadelo até há três noites quando acordou aos gritos e explicou que estava a sonhar com "uns maus que estavam a cantar na cabeça dela para a obrigarem a fazer xixi", que sonho mais terrível!

Claro que quando se foi deitar, na noite seguinte, lamentou-se com medo dos maus mas estava tão cansada que adormeceu pelo meio de uma massagem, suspirando "Onde é que aprendeste a fazer massagens, mamã?"

Noite a seguir, bem mais desperta, lamentou-se tanto que o papá foi buscar à arca dos ursos o seu "Tintin", que tem a idade dele e está num estado mais que usado, e lhe disse que com aquele bicho estropiado ela de certeza que assustaria os "maus". Ela riu-se e dormiu.

Mas ontem, apesar da incontestável capacidade apavorante do Tintin, o urso não era suficiente e o papá disse-lhe então:
- Mathilde, tu sais, les adultes, ils ont peur aussi.
- Non papa, pas les grands. Les grands n'ont pas peur.
- Si ma chérie, les grands ont peur aussi. Et tu sais qu'est-ce que je fais pour bien dormir?
- Quoi papa?
- Je pense à un rêve que je vais faire. Un beau rêve, par exemple, je pense que je suis avec toi et maman et Manon, et qu'on est à la plage, il fait beau et chaud, et comme ça je dors très bien.
- Et après papa?
- Après c'est mon rêve Mathilde. Il faut que tu fasses le tien.
- Non papa! Il me plaît le tien!

Hoje, quando lhe dei um abraço apertado e um beijinho de boa noite, pediu para o papá ir conversar um bocadinho com ela. Assim que ele chegou:
- Papa, tu vas rever de quoi ce soir?
E o pai criou-lhe um sonho onde toda a cidade era feita de bonbons e rebuçados, com um mar de gelatina e peixinhos de goma e flores chupa-cupa, onde ele passeava e ia comendo e nos veio chamar para apreciarmos aquele mundo doce a lembrar uma história de Roal Dahl.
E ela adormeceu, embalada em chocolates, sem medos, sem "maus".

De todas as soluções propostas para afugentar monstros assutadores, lobos maus e bruxas velhacas, as mais aplaudidas são as do papá.

Negar a existência destes vilões é eventualmente um pesadelo ainda maior para os pequeninos, pois se os pais não acreditam,como é que se podem tranquilizar e chegar à conclusão da Mathilde?: "Os lobos maus não existem. E se, por acaso aparecerem, eu faço-lhes um "Panda Kung Fu" e eles fogem!"

Espero que com os "maus" se passe o mesmo.
Não deixa de ser um mecanismo mágico para a preocupação do xixi em 12 horas de sono:)

1 comentário:

Cinderela disse...

Que engraçado, faço o mesmo com a minha filha. Ela antes de dormir pergunta-me qual é o sonho que vamos ter hoje, e eu explico. Depois ponho as fadas todas na mesa de cabeceira para a "proteger", e pronto! Lá se vão os maus da fita! :)