quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Solução pragmática anti-preconceito II


A Manon, devido provavelmente à carga do género, feminino, o dela, à carga genética, materna e também paterna, embora mais materna, eu sei, e à carga ambiental no que ao cerne familiar diz respeito, mãe, pai e irmã, fala que se desunha.

Como passou o verão em ambientes bastante ou totalmente franceses está a passar uma fase francófona. Diz muitas coisas em francês e não poucas vezes começa em português e acaba em francês.

Já conhecíamos esta experiência, a Mathilde passou o mesmo. No entanto a Mathilde teve desde cedo um amor especial pelas palavras, como se lhe desse prazer descorticá-las, decompô-las e recompô-las, articulá-las, uma espécie de encanto ao conseguir pronunciá-las bem, quer numa língua quer noutra e até mesmo quando aprende expressões em inglês.

A Manon é mais trapalhona mas começa a articular-se e contrariamente à irmã que de vez em quando trocava sílabas mantendo no entanto a dicção certinha, a pequenina raramente o faz, a troca, mas para dar um colorido à sua linguagem fala à chinês.

Todos os R's carregadinhos, à francesa, saiem perfeitos, rato, Rita, roer, ramo, rosa... logo em francês nada a assinalar, todas as palavras saiem comme il faut.
A metade lusa complica o discurso, todos os R's à inglesa saiem à chinês, são L's, comêle (comer), male (mar), Malia (Maria), quelo (quero)...

Havia qulaquer coisa de estranhamente familiar nestes L's em vez de R's, qualquer coisa mais do que a dificuldade clássica dos orientais. Em conversa com o Nuno, fez-se luz quando ele observou que ela fala à chinês e à Cebolinha.
É isso! Quer dizer, não é isso porque os R's RRRR ela diz e o boneco dos 5 cabelos não, mas percebi esta estranha memória mal definida de já ter pronunciado coisas semelhantes, foi ao ler os livros do Maurício que guardo religiosamente e que adoro ir rever de tempos a tempos.

Portanto apesar da localização da recordação, ela não se aplica na totalidade e a Manon fala mesmo é à chinês.

Parece que a coisa vai desaparecendo até aos 3 anos e já se começa a ouvir a mudança, há lá um R ou outro enroladinho que já sai redondo.

Há uns dias manifestei uma discreta apreensão ao papá, dizendo-lhe que esperava que passasse a mutação que a pobre 18ª consoante (que isto agora o K já entra) sofre na boca da Manon saindo como se da 12ª se tratasse e ele responde-me com o ar tranquilo que o caracteriza:

"C'est pas grave, elle parlera en français."

Claro, ;)

1 comentário:

G_ticopei disse...

E não é chique falar francês??:)