quarta-feira, 7 de maio de 2008

O dia da Mãe

No domingo passado acordei com a Mathilde e a Manon a entrarem pelo nosso quarto com uma prenda na mão, um livro muito bonito, um álbum com fotografias de crianças de todos os géneros e feitios, "Children".

Na manhã seguinte fui à festa do dia da Mãe na creche e fiquei logo de lágrima no olho, nos dois aliás, com a pequena peça, com sombras chinesas, que as educadoras nos ofereceram, "Adivinha quanto eu gosto de ti", cujo texto deixo em post sciptum.

Depois a Mathilde foi a correr buscar a prenda que tinha feito, uma t-shirt onde me desenhou e um postal a dizer "Gosto de ti".
O dia do Pai tinha tido uma festa e uma prenda semelhante.

Cheguei a casa e coloquei as duas t-shirts lado a lado e lembrei-me de um professor de Anatomia I, na Escola Superior de Medicina Veterinária, O Exmo Sr, Professor Doutor Paulo Marques, que nos exames distribuía os alunos pelas cadeiras alternando os géneros, rapaz-rapariga-rapaz-rapariga... Dizia ele que era uma medida que prevenia o copianço já que a comunicação entre os sexos é de extrema dificuldade para além de que desta alternância resultava o encaixe perfeito, os rapazes largos em cima - as raparigas largas em baixo.

Tinha também uma lista de regras, distribuída no início do exame e que devia ser cumprida sem questionar, entre elas uma que me deliciava - a proibição da utilização de canetas de tinta lavável porque, alegava o Sr. Professor, esta tinta contém tóxicos que passam para as mãos dos examinadores a quando da correcção do exame - tudo isto por escrito, pela mão, em caligrafia de escola primária, do responsável pela cadeira, cadeirão como se sabe.
Tinha bastantes outras particularidades que o tornaram, suponho, uma lenda daquela Instituição Superior, mas o que se me fez figura foi o "encaixe perfeito entre os sexos".

Quando olhei para os desenhos da Mathilde, vi-me naquele anfiteatro gelado cheio de cadeiras de pau, desconfortáveis, mais ainda em dia de exame, estupefacta com as regras e distribuições anatómicas e a imaginar a raça humana como triângulos, de base inferior ou superior, com braços e pernas e umas cabecinhas felizes lá em cima.

O Paulo Marques sabia, via-se que percebia alguma coisa sobre a constituição toraco-abdominal da humanidade.
A Mathilde também sabe, aos 4 anos e sem os 5 cursos superiores mais não sei quantos mestrados e doutoramentos desse senhor.
A verdade sai da boca das crianças e neste caso das mãos também, quando pintam.
Veja-se!




É ou não é verdade?:D

A Manon ofereceu-me um porta-chaves, uma estrela/sol, escolheu as cores e colou as peças. Está a crescer sem parar.



E para terminar, a Mathilde foi mostrar-me o desenho que fez sobre mim. É sempre curioso o que os nossos filhos dizem de nós, o que acham importante.



É mesmo bom ser mamã.
Obrigada meus amores maiores!


ps - Aqui fica "Adivinha quanto eu gosto de ti"

A Pequena Lebre Castanha, que se ia deitar, agarrou-se bem agarrada às orelhas muito compridas da Grande Lebre Castanha. Quis ter a certeza de que a Grande Lebre Castanha estava a ouvir.
- Adivinha quanto eu gosto de ti- disse ela.
- Ora bem, acho que não consigo adivinhar isso- disse a Grande Lebre Castanha.
- Gosto assim- disse a Pequena Lebre Castanha, esticando os braços o mais que podia. A Grande Lebre Castanha tinha uns braços ainda maiores. Mas eu gosto de TI assim- disse ela.
«Humm, é muito», pensou a Pequena Lebre Castanha.
- Gosto de ti esta altura toda- disse a Pequena Lebre Castanha.
- E eu gosto de ti esta altura toda- disse a Grande Lebre Castanha.
«É mesmo alto», pensou a Pequena Lebre Castanha. «Quem me dera ter uns braços assim.»
Então a Pequena Lebre Castanha teve uma boa ideia. Fez o pino, encostada ao tronco muito esticadinha.
- Gosto de ti até à ponta dos pés!- disse ela.
- E eu gosto de ti até à ponta dos teus pés- disse a Grande Lebre Castanha, fazendo-a girar por cima da cabeça.
- Gosto de ti até onde eu consigo SALTAR! Riu-se a Pequena Lebre Castanha, dando pulos e mais pulos.
- Mas eu gosto de ti até onde eu consigo saltar- sorriu a Grande Lebre Castanha, e saltou tão alto que as orelhas tocaram no ramo da árvore.
«Isto é que é saltar», pensou a Pequena Lebre Castanha. «Quem me dera saltar assim.»
- Gosto de ti o caminho todo até ao rio- gritou a Pequena Lebre Castanha.
- E eu gosto de ti até depois do rio e dos montes- disse a Grande Lebre Castanha.
«É mesmo longe», pensou a Pequena Lebre Castanha. Tinha tanto sono que já quase nem conseguia pensar. Então olhou para além das moitas, para a grande noite escura. Nada podia ser mais longe do que o céu.
- Gosto de ti até à LUA- disse ela, e fechou os olhos.
- Ora, se isso é longe- disse a Grande Lebre Castanha.- É mesmo, mesmo longe.
A grande Lebre Castanha deitou a Pequena Lebre Castanha na caminha de folhas. Inclinou-se e deu-lhe um beijo de boas-noites.
Depois deitou-se muito pertinho e murmurou sorrindo:
- E eu gosto de ti até à Lua... E DE VOLTA ATÉ CÁ ABAIXO.

Sam McBratney

2 comentários:

Confras disse...

Além de ficar espantada com a óbvia perspicácia dos desenhos da Mathilde, achei lindo ela salientar "a carne com massa que ela gosta" entre as tuas características.

SRC disse...

O meu dia da mãe também foi especial...fui mãe!
A minha Maria nasceu no passado domingo, dia 4, para mudar a minha vida!
Já leio o teu blog ha algum tempo, mas só agora que sou mãe consigo perceber o que realmente todas as mães dizem: nao dá para explicar o sentimento que nos invade quando temos um/a filho/a! É mesmo especial.
beijinhos para as 3 M's. :)