sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Espírito Natalício III


A minha primeira experiência em termos de arte dramática no que ao Natal respeita foi pespineta.
Tinha 5 anos e era Natal. Havia festa da catequese e eu lá fui participar.
Cheguei e comunicaram-me que seria uma bandeirinha numa dança de louvor ao Deus-Menino e colocaram-me na mão o dito pauzinho com um tecido flutuante, se bem me recordo, vermelho.
Eu não apreciei.
Estava convicta, com os meus já muito vividos 5 anos, que logicamente eu seria a Maria. Pois se eu era a Maria. E apressei-me a explicar isso mesmo.
Com um sorriso condescendente esclareceram-me que a Maria era grande e que eu ainda não era tão grande como a Maria tinha de ser e que talvez dali a uns anos pudesse ser a mãe do Bebé Jesus mas não com metro e poucochinho. Pergunto-me hoje que tamanho teriam as pessoas grandes há 2007 anos...
Como o meu ar desiludido não melhorasse, optaram por me dar um papel mais próximo das santidades principais e nomearam-me Anjo, o que anunciava a chegada do redentor aos pastores. Ainda me lembro dos versos:
"O galo já canta
A ovelha já berra
O boi ajoelha-se
e prostra-se em terra

Ide todos pastorinhos
Ide todos a Belém
Adorar o Deus-Menino
Que nasceu p'ra nosso bem"

E isto com um modelito rosa velho de cetim e asas e tudo, entenda-se quilos de rouge, baton, e sombra verde, bem ao estilo anos 70.

Anos mais tarde lá fiz de Maria com um S. José do meu então tamanho e um bebé de borracha.
E 2 anos depois da primeira Maria, repetiu-se a peça e Maria fui outra vez, já com um bebé verdadeiro, sempre em nome do primeiro desejo não esquecido pelos demais. Este período entre representações correspondeu àquele momento da vida dos jovens adolescentes em que os membros superiores e inferiores crescem desproporcionalmente em relação ao tronco e ficamos assim, como definir?, compridos e mal feitos, muito braço, muita perna, um tronco entalado ali ao meio e uma cabeça baralhada.
A cabeça baralhada era fácil de camuflar por baixo do véu mas a veste restante tinha ficado subitamente e concretamente curta, ante-braços e pernas à mostra, tanto para mim como para o meu marido carpinteiro.
Nunca mais fiz de Maria depois disso. Acho que a Nossa Senhora tem uma altura ali pelo metro e meio. Só dá para uma faixa etária dos 11 aos 13, e isto há 20 e qualquer coisa anos porque agora com o crescimento provado pelos percentis, qualquer dia já dá para realizar o sonho de Marias de 5 anos.

Ora a Mathilde há 2 dias disse-me durante o banho:
- Sabes mamã, eu hoje fiz a Nossa Senhora.
- Foi? Desenhaste?
- Não fiz eu.
- Fizeram um presépio?
- Sim. A Leonor era o Menino Jesus. O Pedro era o S. José.
- E havia anjos e pastores? (foi o que me ocorreu por motivos óbvios)
- Não. A Mónica fez de vaca e outro menino de burro.
- Ah... (Bom, ok)
- Eu quero fazer sempre de Maria.

(Isto deve passar no braço longo de um cromossoma qualquer.)

- Olha Mathilde, sabes que quando eu era pequenina também queria fazer de Maria mas a primeira personagem que fiz foi de Anjo.
- Ah... também posso fazer de Anjo. Mas gosto mais de fazer de Maria.

(O "também posso fazer de Anjo" deve passar no braço curto doutro cromossoma vizinho mas é recessivo em relação ao gene dominante "Eu quero fazer sempre de Maria".)

Para ajudar à festa, no dia a seguir, no caderninho de recados da Manon vem escrito:
"Papás:
Gostaríamos de montar um presépio elaborado com a colaboração de todas as crianças da Sala e seus pais. Assim, sugerimos que juntamente com os vossos filhos, realizem uma figura do presépio que irá ser montado nos placares pertencentes à Sala.

A figura deverá ter aproximadamente 45cm de altura e ser entregue até ao dia da festa (14 de Dezembro).

Figura: Maria

Material: escolha livre.
Bom trabalho em família!"


Isto ou passa também por osmose ou é um alinhamento cósmico propício ou então Nossa Senhora quer dizer-me algo.
Pelo sim, pelo não, hoje vou trocar umas palavrinhas com Ela a ver se me esclarece.

2 comentários:

Carla Ferreira de Castro disse...

E Logo a festa no dia 14!!! É Muuuiiittta coincidência! Eu se fosse a ti trocava mesmo umas palavrinhas com a Senhora!

Carina Simões disse...

Olá Maria! Lembrei-me de vir ver como estavam as tuas meninas e tão crescidas estão! Muitos parabéns pois são as duas lindas lindas!
(Sou amiga da Sara, ia muitas vezes visitar-vos nos velhos tempos da Rádio Comercial e Best Rock)

Desejo-te como sempre tudo de bom, sem dúvida que o mereces!

Aproveito para passar publicidade ao meu recente part-time, se quiseres dar uma vista de olhos...

http://ateliersonhos.blogspot.com

Faço trabalhinhos artesanais :)

Beijinhos, Carina.