As histórias, fábulas e contos são muito importantes na infância. Ajudam ao desenvolvimento da personalidade e identidade, sublimam e desdramatizam conflitos e problemas, exorcizam fantasmas, permitem à criança comunicar emoções, confrontar-se com medos e dúvidas, são uma ferramenta lúdica e muito importante no crescimento.
Todos temos a nossa história preferida. E até a podemos contar na primeira pessoa, escolhendo ser a personagem que mais nos agrada.
A primeira vez que trabalhei este tema das histórias, quando me pediram a minha, a que logo me ocorreu foi a Parábola dos sete vimes.
Não que sequer me lembre de “Os meus amores” de Trindade Coelho mas porque na primária a minha mãe comprava-me cadernos com uma ilustração na capa e a respectiva história na contra capa e esta história era uma delas. Guardei esses cadernos todos e quando tiver oportunidade hei-de ir buscar a história da minha vida.
Parábola dos sete vimes
“Era uma vez um pai que tinha sete filhos. Quando estava para morrer chamou-os todos sete e disse-lhes assim:
– Filhos, já sei que não posso durar muito: mas antes de morrer, quero que cada um de vós me vá buscar um vime seco, e mo traga aqui.
– Eu também? – perguntou o mais pequeno que só tinha quatro anos. O mais velho tinha vinte e cinco, e era um rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia.
– Tu também – respondeu o pai ao mais pequeno.
Saíram os sete filhos; daí a pouco tornaram a voltar, trazendo cada um o seu vime seco.
O pai pegou no vime que trouxe o filho mais velho, e entregou-o ao mais novinho, dizendo-lhe:
– Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime, e não lhe custou nada a partir.
Depois o pai entregou o outro ao mesmo filho mais novo, e disse-lhe:
– Agora parte também esse.
O pequeno partiu-o; e partiu, um a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada parti-los todos. Partindo o último, o pai disse outra vez aos filhos:
– Agora ide por outro vime e trazei-mo.
Os filhos tornaram a sair, e daí a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um com o seu vime.
– Agora dai-mos cá – disse o pai.
E dos vimes todos fez um feixe, atando-os com um vincelho. E voltando-se para o filho mais velho, disse-lhe assim:
– Toma este feixe! Parte-o!
O filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe.
– Não podes? – perguntou ele ao filho.
– Não, meu pai, não posso.
– E algum de vós é capaz de o partir? Experimentai.
Não foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três, nem todos juntos.
O pai disse-lhes então:
– Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu sem lhe custar nada todos os vimes, enquanto os partiu um por um; e o mais velho de vós não pôde parti-los todos juntos; nem vós, todos juntos, fostes capazes de partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto vós estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a desunião, facilmente sereis vencidos.
Acabou de dizer isto e morreu – e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem, também nunca houve forças que os vencessem.”
Comprovei esta parábola experiencialmente várias vezes em circunstâncias variadas.
Choro sempre quando leio esta história em voz alta. É a história da minha vida, que começou na infância e toca na minha menina cá dentro.
Não tenho sete filhos, tenho duas filhas, e tento passar-lhes esta mensagem.
Quando as vejo a brincar juntas, cúmplices, muito amigas e a conspirarem contra nós, sinto-me feliz.
(Quando andam às turras apetece-me sacudi-las e desatar a pregar moralidades mas tento deixá-las resolver as querelas entre elas, rima porque é verdade, mas quando, de vez em quando, acaba cada uma a choramingar agarrada a uma das minhas pernas, quase sempre não se livram da lição de moral e acabo a pensar “Estou a ficar igual à minha mãe”;):D)
We'll always be together! (É o meu desejo, da minha história, da minha infância, da minha vida.)
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