quarta-feira, 14 de março de 2007
Equilíbrios
Há quem não aprenda a nadar, eu não aprendi a andar de bicicleta em miúda.
Sentei-me com grandes hesitações aos vinte e alguns anos num selim com desejo e medo em proporções iguais, equilibrei-me desequilibrada e dei três voltinhas a um terraço ao longo de três anos.
Aos vinte e bastante mais, num bosque de uma vila perdida no fim da Bélgica, fronteira com a terra do Tratado da União Europeia, arrisquei o passeio sobre duas rodas e acabei no meio de uma densa vegetação com mais espinhos que flores, a rogar pragas à minha mãe e a suplicar duas rodinhas que por mais que me dissessem não haver para adultos, eu não me conseguia resignar.
Depois lá fui pedalando aqui e ali e hoje já ando bastante mais à vontade mas ainda não me atrevo a experimentar o número "sem mãos", não quero ficar "sem dentes" como na anedota.
Há duas bicicletas cá em casa. Uma minha, normal, e uma do papá que também é normal mas com uma cadeira pequenina, atrás, para a Mathilde e uma mais pequenina ainda, à frente, para a Manon.
Ontem fomos dar um passeio à vinda da creche e a Manon andou pela primeira vez, muito contente, a bater os pés e a olhar para os meus às voltinhas nos pedais na bicicleta ao lado.
A Mathilde adora, faz cócegas ao pai, escolhe o itinerário e estende-me a mão quando circulamos lado a lado, coisa que me é um pouco difícil de retribuir como se pode imaginar, não que não queira, mas o desequilíbrio eventual angustia-me por antecipação e lá lhe explico que daqui a uns tempos hei-de conseguir, e hei-de!
As duas estão quase a fazer anos e a prenda da mamy (avó paterna) para a Mathilde será uma bicicleta cor-de-rosa, a cor eleita sem hesitações.
Ela mal pode esperar e eu também não. Estou desejosa de a ver a pedalar.
Os pais investem, sempre, narcisicamente nos filhos, quer o assumam conscientemente ou não. Muitas vezes desejam que a progenitura faça tudo o que eles não fizeram, tenha tudo o que eles não tiveram, seja tudo o que eles não foram.
Eu quero que a Mathilde e a Manon façam o que lhes der na gana, tenham o que conseguirem e queiram, sejam o que desejarem, e sobretudo que se sintam bem na pele delas, seja lá o que decidirem.
E quero que elas saibam andar de bicicleta. Quero! Pronto!
É o meu grande investimento narcísico bastante consciente.
2 comentários:
Olá. Só hoje comento apesar de ler o que escreves há bastante tempo. As tuas aventuras de mãe são deliciosas, e os textos tão mas tão bem escritos! A Mathilde e a Manon vão adorar ler tudo isto quando forem mais crescidas, são umas sortudas.
Em relação ao único investimento narcísico consciente para as tuas filhotas, acho que não poderia ter havido melhor escolha: elas vão adorar os passeios a quatro bicicletas. Un quilomètre à vélo, ça roule, ça roule...
Beijinhos
Olá! Apesar das saudades de acordar ao som da tua voz, lá vou matando as saudades lendo o teu blog. As tuas filhas estão lindas.
Também eu não aprendi a andar de bicicleta em miúda, mas o meu Tomás há-de aprender!! Pode ser que eu aprenda ao mesmo tempo que ele! :-)
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