terça-feira, 10 de outubro de 2006

Bona noite!

Lembro-me de, há já alguns anos, assistir maravilhada a uma cena do filme "3 homens e uma menina" em que os 3 papás (bom, um papá e dois tios, todos muito babados) cantavam um rap para a pequena protagonista adormecer. Achei que o conceito se adequava muito melhor a mim do que contar histórias para dormir, julgo que decidi nesse momento que no dia em que tivesse filhos faria o mesmo, bom talvez não rap, ainda não experimentei e julgo que não será a melhor das opções tendo em conta o emissor, eu, mas estou começada e não acabada e isto com os miúdos nunca se pode dizer jamais porque eles têm o condão de nos pôr a fazer as figuras mais inenarráveis e absurdas de ridículas que jurámos pela nossa dignidade nunca fazer em tempo algum, lérias!, ali estou eu de 4, babada até aos tornozelos, a fazer caretas e a dizer bilu-bilu como se não houvesse amanhã, a mascarar-me e a fazer o teatro da minha vida só porque a Mathilde pede, ou só porque eu acho que ela vai achar graça (e acha, o que vale é que é muito bom público!), porque a Manon se derrete e sorri-se toda, porque me dá um prazer dificilmente comparável com o resto da vida em geral, porque é tão natural e tão genuíno e tão bem aproveitado que qualquer tempo de brincadeira aparentemente ridícula com as minhas meninas maravilhosas se torna numa cena candidata a citação para a humanidade!
Tudo isto para dizer que ainda me ponho a cantar rap um dia destes com uma letra cheia de animais, barbapapas, panteras cor-de-rosa, nemos, cinderelas, gatos a quem se atira paus, minhocas que dão beijocas e outras personagens que habitam os meus dias, todos os dias, graças à Mathilde e a Manon.

Por enquanto, e de há uns meses para cá, eu que sou muito dada a cantorias e sempre cantei para a Mathilde e agora para a Manon também, tenho cantado muito entre as 8 e as 8h30 da noite, todas as noites.
Foi um acaso, uma vez, à hora de deitar, peguei na Mathilde ao colo, ainda ela não tinha dois anos, e cantei-lhe uma canção de embalar - "Boa noite!" Ela enroscou-se com o seu Monsieur Chat entre os braços, e respondeu: Mais?!
E eu repeti.
E ela: Os piratas mamã!
E lá lhe cantei eu os piratas (uma passagem de uma opereta sobre D. Inês de Castro e D. Pedro, e é logo à parte mais tétrica que ela acha piada), e não só cantei como desatei a fazer o teatro todo e as personagens e ela a rir deitada atravessada na cama. E depois cantei-lhe o "Vamos dormir" com estalinhos com a língua pelo meio e ficámos por ali.
Ora no dia seguinte ela pediu outra vez e no dia a seguir também e a cantoria tornou-se incontornável.
O repertório tem-se estendido e passa pelo "Calhambeque" de Roberto Carlos, "Como o macaco gosta de babana" de José Cid, "Lavar os dentes" da Caixinha de sonhos, popular diz lá e eu tudo bem, "The circle game" de Joni Mitchell, "Mathilde" da mamã e o que ela se lembrar na altura. Ao longo dos meses ela ouvia sempre com muita atenção mas agora começou a cantar, E SABE AS LETRAS TODAS! e embala os bebés dela e canta-lhes as mesmas coisas e canta para a Manon e dá-lhe beijinhos, e eu de lágrima ao canto do olho.

É certo e sabido, quando a vou deitar pode faltar tudo mas o "Bona noite", como ela lhe chama (uma mistura de bonne nuit e boa noite), é obrigatório. Bom, os piratas é um must também, mas o colo e as festinhas com ela a cantarolar comigo são a prioridade, das duas. É um dos melhores momentos do dia. Obrigada Mathilde.

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