quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Chinesinho Limpópó


Fazemos figuras inacreditáveis a brincar com as crianças.
Quando a Mathilde era muito pequenina, teria talvez um ano e pouco, uma manhã, com um alguidar em equilíbrio precário em cima da cabeça e os dedos nos cantos externos dos olhos repuxando-os à chinês, cantei a musiqueta do Chinesinho Limpópó - Tinininini-nini-tininini-niniii... Tinininini-nini-tininini-niniii...

Claro que ela adorou, é quase certo que as crianças deliram com as figuras inacreditáveis que os pais fazem a brincar com elas e os pais deliram com o delírio dos filhos e está tudo bem, eu adorei também, sobretudo porque ela tentou logo imitar e de vez em quando punha um alguidar na cabeça, os dedos meio em cima dos olhos e cantava - Tinininini-nini-tininini-niniii...Tinininini-nini-tininini-niniii...

Nunca lhe disse que era a música de uma personagem chinesa nem que os chineses têm os olhos assim esticadinhos, nunca.

Passados meses fomos ao mercado. Estavamos num dos talhos, tratavamos de comprar o almoço e a Mathilde estava sentada no parapeito da montra. Eis senão quando, passa um pai, chinês, pelo menos os traços eram orientais, para o caso tanto faz, com um rapazito pouco maior que ela, provavelmente seu filho, bem chinesinho, com os mesmos traços orientais e os olhos assim esticadinhos. A boa da Mathilde olha para o miúdo e - Tinininini-nini-tininini-niniii...Tinininini-nini-tininini-niniii... só faltou pôr os dedos a repuxar os olhos e o embaraço teria sido total, embora nem pai nem filho se tenham apercebido.

Giro, realmente giro, sobretudo porque ela deve ter associado livremente aqueles olhos à brincadeira do alguidar e ao tema do Limpópó. Suponho que tenha sido isso, nunca saberemos, ela não sabia explicar, ainda.
Imaginei que se lhe perguntasse como é que lhe tinha saído aquilo, me responderia qual Badaró: Como ispilico? ;-)

sábado, 23 de dezembro de 2006

Feliz Natal!


Há 2 anos - Mathilde (8 meses)





Hoje - Manon (8 meses)

(A Mathilde não quis tirar fotografias com chapéu de Pai Natal, aliás não quis tirar fotografia nenhuma, demasiada exigência para quem está doente e muito muito rabugenta.)

O vírus dá voltas e voltas e voltas sem fim...


... e não há volta a dar, é sempre assim.
Joel Branco cantava o mesmo, mas no caso dele era a vida que dava voltas, lembro-me muitas vezes dessa canção. As novas gerações já não sabem quem é Joel Branco, uma pena ;-)

O vírus tinha de dar a volta à família, mais que não fosse à parte feminina da família, 3/4, 270º, primeiro a mãe, depois a filha mais bebé e finalmente a "crescida", como diz a Mathilde, "sou crescida mamã!". Safa-se o pai, por enquanto, como quase sempre, abençoado sisitema imunitário sempre em alta.

Não há queixas, as meninas têm, sido muito resistentes aos bicharocos que por aí andam, é raro adoecerem graças a Deus e ao Menino Jesus e a todos os Anjos da Guarda, que eu sei que os há e velam por nós!
Só que um vírus no Natal torna-se deveras aborrecido, pois porque há tantas coisas a tratar e aqui estamos, fechados em casa porque estão 5 graus na rua e porque há aerossóis e xaropes a administrar.

A Mathilde, a super-resistente, sucumbiu ontem à noite e hoje passou um dia do mais rabujas que possa haver.
Mais uma vez, não me atrevo a render-me à queixa, pois se os adultos doentes rabujam tanto e ele os há que rabujam ainda mais em perfeito estado de saúde, quanto mais uma criança com dois anos que não percebe porque é que lhe doi o corpo e a cabeça e porque é que tem frio e calor, e porque é que doi quando tosse e porque é que o nariz escorre e porque que carga de água isto me está a acontecer e não posso ir passear e ainda por cima os xaropes sabem mal como o raio, e lá se vai toda e qualquer tolerância à frustração e toca a desatar a choramingar por dá cá aquela palha.
O pai passa a vida a perguntar-me, indignado, porque é que não fazem xaropes que saibam bem, como se eu soubesse! São de facto muito maus os benditos xaropes, porque é que não há xaropes como quando eu era pequenina?, como o broncodiezina, branco, espesso, doce como as coisas muito doces?, o que eu gostava daquele xarope...

O que vale é que a Manon está praticamente boa, muita tosse ainda mas sem febre há 3 dias e a regressar devagarinho ao seu invejável apetite.

Isto cá em casa parece um concerto, tusso eu, tosse a Manon, tosse a Mathilde e dá a volta novamente.
Espero que o pai escape e que se entre o ano a respirar limpidamente!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Adenda à novidade

Afinal são 4 dentes a romper e uma traqueíte viral que hoje já conta com a disfonia da laringe irritada, ou seja, rouquidão, febre, tosse produtiva, nariz entupido e a falta de apetite também resolveu dar um ar da sua graça :(

Já disse que odeio as doenças?

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Novidade

A Manon tem mais dois dentinhos, os incisivos superiores : )

domingo, 17 de dezembro de 2006

"Pa Tal" versus "O Jesus"



Na sexta-feira houve festa de Natal na creche.
No ano passado, a Mathilde não achou graça ao senhor redondinho, vestido de vermelho e longas barbas brancas que ,de sininho na mão e um saco cheio de prendas, fez as honras da festa, O "Pa Tal", como lhe chamava. Encheu-se de medo e nem queria ir buscar o presente.

A vida é mudança, ainda bem!
Este ano, o encantamento foi evidente. Esteve muito tempo ao pé dele, recebeu o cadeau com prazer e quando o Pai Natal se foi embora, foi a única, entre 66 meninos e meninas, que se levantou e correu até à porta a dizer adeus, para além de já articular todas as sílabas do seu nome.

Já comentou com várias pessoas que tem um livro novo que foi o Pai Natal "da creche" que lhe deu. Achei graça ao conceito Pai Natal " da creche". Muito lógico, pois se ela vê o Pai Natal por todo o lado!, aquele era o da creche, evidentemente!

Anda encantada com o Menino Jesus também, e mostra-lo em todo o lado, na creche, em casa, nas lojas, por onde o encontra.
- Olha! O Jesus! Está aqui! E está ali também! Olha!
- Pois está Mathilde, o Menino Jesus é assim, está em toda a parte, é omnipresente!
Eu rio-me e ela também, cada uma com os seus motivos.

No fundo o Pai Natal é como Menino Jesus, também está em todos os lugares, mas parece-me que ela não o considera omnipresente, é mais uma espécie de irmandade, o da creche, o de casa, o da loja X ou Y, os da rua, os das varandas...
Uma bela seita de senhores bonacheirões que trazem alegria a todos.

Que bom que ela já gosta do Pai Natal! Se bem que me toca mais o Menino Jesus porque para mim, era Ele quem trazia as prendas.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

14 de Dezembro, 21h45, há 36 anos


Para a menina mamã, uma salva de palmas! EEHH!

O meu dia começou assim, com a Mathilde a cantar-me o "Parabéns a você", inteirinho, de uma ponta à outra, várias vezes.
Eu nem imaginava que ela sabia a letra toda de cor.
Maravilhoso!
Obrigada!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Matilde sem H


A minha gravidez da Mathilde teve um lado muito caloroso que se deveu às inúmeras manifestações de carinho por parte dos ouvintes da rádio onde fazia o Programa da Manhã, a Best Rock FM.
Desde o dia em que anunciámos que eu estava grávida até ao nascimento foi, dizia eu exageradamente mas com o coração quentinho, a gravidez mais vigiada de "todó Portugal".
Todos os dias chegavam mails e mails com mensagens carinhosas e recebi presentes que a Mathilde e a Manon usam e abusam.

Um desses presentes esperou até há dois dias para ser apresentado à Mathilde.
Já podia tê-lo feito mas estava arrumadinho na estante, entalado e esquecido entre mais uns tantos livros da mesma colecção que encontrei depois, perdidos no meio da mini-biblioteca do seu quarto.
Ocorreu-me de repente, quando lhe mostrava mais uns livrinhos meus de miúda, antes dela dormir. Passo a vida nisto, ela adora e eu também.

É a "Matilde, quem é?"

Esta menina homónima destronou a "Anita" que, apesar de se manter na sua lista a ler todas as noites, perdeu o protagonismo da cena lullaby diária.
Os livros são mesmo giros e com um guia para pais no final de cada um.
Só me faz confusão ver Mathilde escrito sem H, ao fim de 2 anos e muitos meses habituei-me de tal forma à letrinha muda que me parece que o nome fica despido sem ela.

Saia!

É impossível, ou melhor, praticamente impossível, porque teoricamente tudo é exequível, vestir umas calças à Mathilde.
É uma menina e as meninas andam de saias e de vestidos, como a Cinderela e a Branca de Neve e a Aurora e a Bela e as princesas em geral.

Às quartas é dia de ginástica. Quem é que diz que ela acata o fatito de treino, que até é todo coquete e giro?!
Às terças e quintas há natação. E persuadi-la de que é mais fácil para as educadoras ajudá-la a vestir calças e não collants e saia?!

Nada feito. É a birra desolada como se o apocalipse se abatesse sobre seu o desejo indumentário.

O que fazer? Conflito desgastante logo pela fresca por motivo, reflectindo profundamente, pouco relevante ou cedência do guarda-roupa princess-like que-daí-não-vem-mal-ao-mundo-e-até-preferimos-que-a-preferência-dela-seja-pela-saia-do-que-a-onda-Maria-Rapaz-Camionista-e-que-mais-importante-que-saia-ou-calças-é-que-ela-seja-bem-educada-e-feliz-e-se-há-coisa-em-que-se-pode-ceder-é-neste-tipo-de-parvoíces-sem-importância?
Decididamente optamos pela segunda hipótese mas somos sempre chamados à atenção na creche.
Pois...

Bom, a partir de amanhã, dia de natação, a Mathilde irá de saia mas com umas calças na mochila. O efeito de grupo é convincente e pode ser que ela aceda a vesti-las, antes ou depois, para maior facilidade prática.

As estratégias que se inventam, isto de ser mãe e pai tem o seu quê de inteligência prática!

sábado, 2 de dezembro de 2006

Melting Pot

Espanta-me a memória prodigiosa da Mathilde.
Lembra-se desde sempre de pessoas que viu uma vez tempos e tempos antes, dos nomes, de detalhes, de brinquedos, de brincadeiras, de frases, de comportamentos, os caminhos, os lugares, tudo.

Com um ano e nove meses sabia as roupas, os sapatos, as mochilas, os pais e mães de quase todos os meninos da creche inteira, ao ponto de ajudar as educadoras quando elas não sabiam de quem era um casaco ou um boneco.
- De quem é isto Mathilde?
Ela sabia sempre.
Ela até sabia de cor os biberons de água dos bebés do berçário onde nunca estava. Impressionante!

Se me impressiono então o pai, cuja memória é de uma selectividade limitadíssima e de curta duração, fica abismado.

Lembro-me de quando estava grávida, ele dizer-me:
- Espero que ela tenha a tua inteligência, a tua memória e a minha malandrice!

A memória saíu dos meus genes, a minha chega a ser irritante de tão de elefante e detalhada que é, a Mathilde vai pelo mesmo caminho, parece.
A malandrice, o arzinho sedutor inocente, o sorriso maroto saíram, sem dúvida, do pai. Os dois juntos são um regalo para a alma, se um diz mata - o outro diz esfola, passam o dia a fazer disparates, reconheço-os um no outro em permanência, às vezes até confundo as partidas, são cúmplices a quase toda a prova.

Não me canso de admirar a magia da natureza, a mistura que se vai revelando.
Já o disse outras vezes, a genética, a embriologia, as ciências implicadas e tudo e o resto explicam mas eu maravilho-me todos os dias como uma leiga na matéria, a magia transcende a ciência e ainda bem.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Retratos

A era digital é francamente prática.

No dia em que a Mathilde viu pela primeira vez o nosso mundo, a máquina fotográfica avariou e poucas horas antes do nascimento fomos adquirir uma substituta ao centro comercial maior da Península Ibérica, não porque fosse o maior mas porque tinha uma Fnac e era mesmo ao pé do Hospital da Cruz Vermelha, o local eleito para os primeiros dias da nossa primeira menina. Não se podia perder nenhum minutinho desses dias, nem de todos os outros.

Ao longo dos dois primeiros anos metralhámos com e sem flash momentos que adoramos recordar, fizemos filmezinhos de tudo e mais alguma coisa e ouvimos que com a primeira é sempre assim e que com a segunda o número de disparos diminuiria drasticamente.
E nós sem tugir nem mugir, sabe-se lá como vai ser o futuro, não estamos lá, as crianças ensinam-nos essa verdade tão óbvia todos os dias,aqui e agora é que vale.

Chegou então a Manon, e no dia em que ela viu pela primeira vez este mundo, poucas horas antes lá fomos nós ao Colombo em busca de máquina nova que a outra já não dava para o gasto e não se podia perder nenhum minutinho dos seus primeiros dias, nem de todos os outros.

Passaram-se quase 8 meses e continuamos a metralhar com e sem flash momentos que adoramos recordar, fazemos filmezinhos de tudo e mais alguma coisa e já ninguém nos tece considerações sobre o número de disparos.

A era digital é francamente simpática, fotografa-se à vontade e seja o que Deus quiser, há sempre um photoshop para remediar e um delete para apagar .
Ainda assim é-me difícil triar e depois há o gosto pelo papel, gosto de ter as fotografias em álbuns que desfolho num ritmo de mãe, só pode, lento, lentinho, disfrutado.

Ora já não revelava nada desde Abril e estando o ano a terminar parece-me oportuno não deixar para o ano que vem o que se pode fazer ainda neste.
Toca a fazer uma triagem dos 6 meses e meio de fotografias que repousavam no computador e, triando muito e muito, consegui eliminar mais de um terço (só para efeitos de revelação porque as eliminadas continuam em pastinhas JPEG do mundo moderno).

Revelei 875.
6 meses e meio - 875 fotografias - 2/3 da totalidade digitalizada.

E que com a segunda isto ia acalmar, pois...

domingo, 26 de novembro de 2006

Para ti, Mathilde

Foi há bocadinho. Cantei pela primeira vez em público com a Mathilde e a Manon a assistirem. Portaram-se muito bem.
A Manon andou de colo em colo a espreitar-me.
A Mathilde estava numa excitação pegada e de vez em quando gritava baixinho:Mãe!
Passou o concerto com um ar todo orgulhoso, adorou a canção dela e quando eu acabei invadiu o palco de braços abertos, deu-me um abraço apertado e sussurrou: A mamã esteve a cantar, cantou a canção da Mathilde!
Tão bonita!
Se ela tivesse feito isso a meio, acho que tinha ficado cheia de lágrimas comovidas mas esta criança tem sentido de oportunidade, graças a Deus!
Obrigada bebé! Adorei dizer: É para ti Mathilde!

E quando a fui deitar, disse-lhe ao ouvido: Adorei cantar para ti, Mathilde. Obrigada meu amor. Dorme bem.

sábado, 25 de novembro de 2006

Sorri sempre!


É a imagem de marca da Manon.
Dizem-me que a minha também.
Que bom esta expressão comum!

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Está de chuva e no entanto...


















... no sábado esteve uma tarde de luz divina no Guincho, aquela luz que torna tudo e todos mais bonitos, que tem qualquer coisa sublime, o que eu não daria para que a luz fosse sempre aquela!, uma mistura de primeira luz da manhã com a de fim do dia mas em plena tarde, uma luz de cor e de décor de clássico de cinema, A luz.

A praia existe para a Mathilde para ela brincar com as ondas e fazer castelos de areia no Verão e apanhar conchinhas e fazer desenhos com pauzinhos no Inverno.
Julgo que por estarmos no Outono, que não é carne nem peixe, ela quis fazer tudo mas debalde porque sem balde os castelos ficaram adiados e conchas não havia. Fartou-se de chapinhar com as suas botas de borracha e de fugir das ondas, e fez muitas minhocas na areia com os pauzinhos que ia apanhando.

A Manon apreciou a luz.
Apreciou o passeio, o mar, a extensão da praia, as brincadeiras da irmã, os beijinhos dos pais, mas fantasio que aquele fascínio extasiado se dirigia à luz.


- É bonita não é Manon, esta luz?
- Lhá! Lhá!
Pois está claro! Além disso, os pés a dar-que-dar não deixam dúvidas.

Trlim! Trlim!

"As meninas à volta da fogueira... lai lai lai lai, lai lai lai lai, lai lai lai laaaii..."

terça-feira, 21 de novembro de 2006

A obra

Mathilde - 19 de Novembro de 2006 - pintado chez nous para o papá
(para além de mãos, sobretudo dedos e unhas, involuntariamente sarapintados e voluntariamente pincelados com aguarelas)

Estrumpfes ou talvez não

Poucos dias depois de nascer a Mathilde e a Manon de tão parecidas pareciam iguais. Feitas na mesma fábrica, as Manas M, dizia-me um amigo.

Como a Mathilde é o retrato do pai, vendo a Manon tão parecida com ela quando recém-nascida levava-me a comentar que estava rodeada de estrumpfes, não porque fossem azuis mas porque todos tinham a mesma cara.

Os meses têm passado ligeirinhos e as diferenças vão-se acentuando, há um ar de família inegável, bastantes semelhanças, mas tanto o corpo como a alma se revelam diferentes.

A Mathilde era muito calma e ao mesmo tempo "Champagne", com bolhinhas alegres que fazem cócegas no palato e não dão ressaca, a Manon é o cúmulo da calma, é mel, doce como as coisas doces, sempre sempre sorridente.

A Mathilde percorreu os parâmetros de desenvolvimento com desenvoltura e por vezes espantando-nos na sua precocidade, não ligando nenhuma a actividades comuns à maioria dos bebés; nunca se interessou pelos pés, nunca se descalçou ou tentou comer os sapatos, nunca lhe apeteceu rodar ou rebolar, praticamente não gatinhou porque o que ela queria era andar, não ligou à chucha até ao ano (e agora é a sua amiga dos tempos conturbados, apensa ao Monsieur Chat) e não queria que alguém ligasse entretendo-se a roubar chuchas aos coleguinhas da creche e atirando-as para longe desencadeando choros irritados, nunca dormiu em viagens de carro, ai! que as crianças adormecem logo e os solavancos embalam e pois e tal... qual quê?!, qual carapuça?! , nada! A Mathilde só dorme no carro se estiver esgotada e ainda assim é porque não tem nada para fazer, odeia andar de carro, é para ela o maior dos aborrecimentos.

A Manon adora os pés, descalça-se 17 vezes por minuto, come os sapatos preferindo-os a qualquer brinquedo, tenta rodar e rebolar há bastante tempo, vamos lá ver se gatinhar está nos seus planos ou se vai preferir saltar essa etapa como a irmã, a chucha interessa-lhe Q.B. mas bastante mais do que à sua frangine ainée na mesma altura, por enquanto não se mete com os amiguinhos da creche e dorme que nem uma perdida no carro.

Nenhuma das duas cede ao sono quando passeia no carrinho, dure o que a voltinha durar, só em caso de necessidade extrema, são dorminhocas natas inatas na ordem das 12 a 14 horas por noite (a Mathilde é assim desde os 4 meses, a Manon continua como boa esfomeada a acordar ao menos uma vez, bebe o seu biberon gigante em menos de tempo nenhum e continua a dormir o resto das suas horitas de descanso e sonho, de extrema importância para o crescimento e maturação do Sistema Nervoso Central) e a Mathilde, se em casa, mais 2 horas no mínimo de sesta, o que me tem valido comentários menos agradáveis de pais arreliados porque os filhos não dormem, e eu dou graças a Deus todos os dias, é que dou mesmo!Abençoadas crianças! Lindas meninas! Maravilhosas bebés! Muito obrigada!!

Os primeiros dentes da Mathilde saíram aos 8 meses, os da Manon quase aos seis, a Mathilde é branquinha branquinha com o cabelo igual ao meu, castanho, nem escuro nem claro, castanho, fininho, com jeitinhos encaracolados nas pontas e os olhos iguais aos do pai, na forma de amêndoa e na cor de avelã, a Manon tem a tez mais moreninha, cabelo mais espesso, entre o loiro escuro e o castanho muito muito claro, uma espécie de dourado à luz do sol, que parece querer encaracolar, e olhos risonhos, duas meias-luas, parecidos com os meus.

As duas são redondinhas, doces e macias. E são lindas, as Manas M.
Os meus tesourinhos que pareciam tão iguais e são tão diferentes apesar de feitas na mesma fábrica.

domingo, 19 de novembro de 2006

A Anita é bonita!



A Mathilde descobriu os meus livros da Anita. Adora.

Não liga nenhuma ao "Gato Pompom", nem à "Cabrinha Turbulenta" ou qualquer outro em que a Anita não participe. "O Lobo meu amigo" lá passa porque a reconcilia com o lobo mau do Capuchinho Vermelho e "Um dia na praia", porque tem a Sofia e o João, também lhe agrada mas a Anita é que é importante.

Descobri quando vi "A residência espanhola", em que personagem representada por Audrey Tautou lamentava a escolha do seu nome pela mãe que adorava os livros da Martine, que a Anita da minha infância era uma tradução com origem na Bélgica.

Devido ao interesse da Mathilde encontrei vários nomes noutros países:

Martita - Espanha

Mimmi - Suécia

Tini - Indonésia

Aysegül - Turquia

Cristina - Itália

Ando maravilhada com o regresso àquele mundinho perfeito de Gilbert Delahaye e com as aguarelas de Marcel Marlier, são todos tão bonitos!

O preferido da Mathilde é "Anita no circo", mas a "Anita mamã", "Anita vai às compras", "Anita faz anos", "Anita aprende a ler", "Anita dona de casa" (em que ela olha para a capa e diz que é como ela quando faz bolos com o papá), "Anita no Jardim", "Anita no Jardim Zoológico" deslizam pelo seu colo, páginas viradas atentamente pelos seus dedinhos delicados, todas as noites antes de dormir. Hoje acabou por se render à "Anita e as 4 estações" que era sempre preterida com um "Não gosto deste!"

Mas o circo, ai o circo!, os palhaços, a magia, os elefantes, os leões, os equilibristas... está decidido! Este Natal vamos ao circo.

Os livros da Anita... quem diria...

Qual Ruca! Qual Noddy! A Anita é que é bonita! Quando a noite cai e não só!

sábado, 18 de novembro de 2006

Nada pára a modernidade!

As canções da minha infância estão um pouco modificadas. Nada pára a modernidade.
Há quem já não atire o pau ao gato mas sim "o peixe", resta saber o que é pior, se tentar matar o gato atirando-lhe um pau ou envenenando um peixe, parece-me mais perversa e malvada a segunda hipótese.
Sim porque por que raio se usa um peixe como arma de arremesso para acabar com a existência do pobre animal? Só se for um espadarte ou um atum daqueles que pesam dezenas a rondar a centena de quilos e que esmigalhem a vida ou uma das 7 do bichano mas, ainda assim, quem é que tem força para atirar com um peixinho de tamanha envergadura?
Parece-me óbvio que se a intenção é encomendar a alma do bicho, já que a canção insiste que ele não morre, este verso não se alterou ao longo das últimas décadas, o peixe só pode estar envenenado, o que é repugnante, atirar um pau ao menos é o que é, não há cá perfídias nem ignomínias e muito menos martírios de tripas reviradas por pozinhos malévolos!
Assim como assim, quando canto, atiro um pau.

Outras há na quais a mudança foi benéfica, a meu ver o Sebastião pode comer tudo o que lhe aprouver mas dar pancada ou, em versão mais vernácula, "porrada" na mulher não é algo que se deva sugerir nem a miúdos nem a graúdos. O Sebastião dos tempos modernos dá beijinhos na mulher e eu acho bem.

Quem vai a Viseu nos dias que correm e deixa lá o seu amor, quando regressa expressa o seu descontentamento - Vindo eu, vindo eu da cidade de Viseu, deixei lá o meu amor o que bem me aborreceu! - e não se encerra em "Ai Jesuses!" Há que encorajar a expressão de emoções, canção melhorada, parece-me.

Não me apercebi de diferenças na "Machadinha" nem na "Linda Falua", a "Abelha Maia" e o "Dartacão" fazem já parte dos clássicos, traduz-se o cânone "Frère Jacques" e há até uma versão com dedos que se apresentam e têm muito gosto em ver-se em que o Frei João não toca sino nenhum.

Ora assim como continuo a atirar paus ao gato, prefiro o frade original, até porque o francês é a língua paterna cá em casa.

A Mathilde cantava o "Frère Jacques" muito concentrada e a abanar a cabecinha de um lado para o outro e de cima para baixo como aqueles cães de peluche que se colocam na prancha traseira dos carros por cima do porta-bagagens mirando-nos através do vidro de trás.
Quando chegava ao "Sonnez les matines!" perdia a compostura e ria-se, ria-se muito.
Um dia não cantei com ela, fiquei a ouvi-la e embora ela insistisse:
- Mamã! Canta!
Eu insisti mais:
- Canta só tu bebé! Canta que eu quero ouvir-te.
E percebi, para a Mathilde a canção diz:

Frère Jacques!
Frère Jacques!
Dormez-vous?
Dormez-vous?
Sonnez chez Mathilde!
Sonnez chez Mathilde!
Ding Dang Dong
Ding Dang Dong

E começámos a cantar todos assim, e ela até canta, com a sua boa vontade de nunca excluir a irmã:

Sonnez chez Manon!
Sonnez chez Manon!
Ding Dang Dong
Ding Dang Dong

E ri-se e nós rimos com ela a imaginar um frade estremunhado a tocar-lhe à campaínha.

Nada pára a modernidade, as canções da minha infância estão, realmente, um pouco modificadas.

I am what I am!


A Mathilde sempre se interessou pelos bonecos desenhados na roupa, t-shirts e meias sobretudo.
O pai tem umas meias com o Popeye e eu, com esta mania de que tudo na vida tem banda sonora, cantava-lhe a propósito o tema do Sailor Man com "apitos" de locomotiva (é ao que soam, não há como fingir que são cachimbadas) que a faziam rir à garagalhada.

I'm Popeye the Sailor Man - Uuhh! Uuuuhh...!
I'm Popeye the Sailor Man - Uuhh! Uuuuhh...!
I'm strong to the "Finich"
'Cause I eat me spinach
I'm Popeye the Sailor Man - Uuhh! Uuuuhh...!

Apresentei-lhe pois este marinheiro com a sua esquelética Olívia Palito e o bruta-montes do Brutus tinha ela um ano e meio.
De vez em quando a canção surgia com os ditos apitos que a deliciavam.
Depois, durante uns meses o Popeye andou no mar e a canção andou com ele.
Cantei outras coisas e ela começou a cantar comigo, lembro-me do "Cavalinho de papel" em que ela completava as frases.
Eu - A correr...
Ela - Shá lá lá!
Eu - A saltar...
Ela - Shá lá lá!
Eu - Cavalinho não saía do lugar...
Ela - Shá lá lá!

E do "Jardim da Celeste":
Eu - Giroflé-flé...
Ela - Flá!

Aí um mês antes dela completar dois anos, estava a secá-la após o banho e no meio de uma brincadeira em que lhe dizia que ela era a Super-Mathilde, a propósito de músculos e espinafres, lembrei-me do boneco e comecei:
- I'm Popeye the Sailor Man...
E (qual não foi o meu espanto - gosto desta expressão, lembra-me os livros da minha infância) ela - Uuhh! Uuuuhh...!
Um "Uuhh! Uuuuhh...!" agudinho, igualzinho ao que eu costumava fazer, apitado como uma locomotiva pouca-terra-pouca-terra, que ela nem sabe o que é um cachimbo. E riu-se que nem uma perdida com um ar tão cómico como orgulhoso, e eu continuei, e ela correspondeu.

Eu adorava o Popeye em miúda mas nem por isso apreciava espinafres. Hoje gosto e muito.
A Mathilde nunca mais se esqueceu e ainda ontem cantou o seu "Uuhh! Uuuuhh...!" quando viu as meias do pai.
Ela até gosta do Popeye mas nem por isso aprecia espinafres.
- Não gosto do verde!
Pronto, you are what you are, só espero que venha a gostar, e muito, já que I'm strong to the "Finich" 'Cause I eat me spinach, e um musculito ou dois dão sempre jeito para despachar os Brutus que nos aparecem.

Só falta o príncipe!


Há três dias comprámos um vestido de princesa para a Mathilde, cor-de-rosa, como ela pedia. Agora só falta o prínce.

Ela vestiu por cima do pijama, viu a "Cinderela", dançou rodando a roda cor-de-rosa, comeu com ele vestido e quando chegou a hora de ir para a cama queria porque queria dormir com ele (com o vestido, não com o prínce, por enquanto ;)). Lá a conseguimos convencer a pendurá-lo num cabide que ficou à vista para ela o saber ali pertinho enquanto dormia.

Hoje de manhã andou a dançar com o pai e disse-lhe:
- Eu quero um prínce! Quero dançar com um prínce!... O papá é um prínce, o papá é o meu prínce!

Fomos então passear, a meio do passeio eu perguntei-lhe:
- Então Mathilde, ouvi dizer que o papá é o teu príncipe...
- Não, é o António (o grande amiguinho dela, desde os 6 meses, na creche).
- Então mas não era o papá?
- Não, é o António, o meu prínce.

Ah! Les femmes! Mudam de desejos com tanta facilidade!

Quando regressámos a casa a conversa já era outra:
-Quero um prínce, para dançar...
- Então e o António?
- Não.
- E o papá?
- Não.
- Queres um príncipe como na "Cinderela"?
- Sim, o prínce da Cinderela!

Bom, o vestido já está, agora só falta o príncipe.
Onde é que eu vou desencantar um príncipe?
Até lhe posso propôr alguns mas ela depois é que tem de se decidir que eu não impinjo príncipes a ninguém muito menos às minhas filhas!

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

3 picas e dois sapatos

Ontem foi fim de tarde de vacinas, 3 (a conta que Deus fez e que eu gostaria de ter desfeito ontem, ao fim da tarde), duas coxas e um braço, risos e sorrisos na sala de espera, risos e sorrisos no catre, pedalanço excitado-Volta a Portugal-Tour de France-tudo junto e lá se descalça mais uma vez os sapatos, mais risos e sorrisos, sapatos para a boca, claro está, espanto à primeira picadela e ao fim da segunda já não havia beijinho que consolasse e ainda faltava mais uma.

Saíu encostada a mim em soluços e grossas lágrimas e demorou muito mais tempo a voltar ao seu sorriso permanente do que a irmã em circunstâncias semelhantes+uma (4 picas), há 2 anos

É nestes momento que me dou conta da minha necessidade imperiosa de poupar todo e qualquer sofrimento aos meus amores.

Uma vacina, uma necessidade que já nem é sinónimo de modernidade, Pasteur, um dinossauro da saúde perpetuamente recordado como o "inventor" de um bem supremo, a prevenção da doença, médica sou, relativamente salvaguardada das incapacidades de lidar com "estes males necessários", compreensiva de um bem indispensável e, no entanto, o que eu não teria dado para que não tivesse doído nada à Manon, ontem, fim de tarde de 3 picas, duas coxas e um braço.

E o que mais me incomodou, enquanto a segurava contra mim e a tentava consolar, foi a expressão assustada com que ela olhou para a enfermeira antes da última vacina.

Minha Manonzinha, se eu puder, tu aprenderás que o medo serve para muito pouco nesta vida, e que há picas que doem só na altura, não há que receá-las, fazem parte, e servem para crescermos, saudáveis.
Se eu puder, e se tu quiseres, ensino-te isso para tu não te assustares quando não vale a pena, e soluçares à tua vontade sabendo que depois da tempestade vem sempre a bonança e voltares ao teu sorriso permanente.
E que eu estou sempre aqui, para te consolar.
E, já agora, ensino-te a calçar os sapatos porque em matéria de descalçar tu já nasceste ensinada.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

De pequenino...

Aos dois anos e qualquer coisita, pouco depois da Manon nascer, numa noite em que fui deitar a Mathilde, depois das cantorias todas, ela pediu, como quase sempre, o papá.
Eu saí e o papá lá foi.
Calins, bisous, bonne nuit Mathilde, bonne nuit papa, quando ele vai a sair do quarto:
- Papa?
- Oui Mathilde?
- Quero mais biberon!
E lá volta o pai a entrar, de biberon em punho directo à cama, 3 ou 4 passos, tampa do biberon levantada e:
- Não papa! (risos) Tou a brincar! - e vira-se de barriga para baixo, cabeça para o outro lado, pronta a dormir - ... Bonne nuit papa!

Tou a brincar?
"Piadista" com 2 anos.
Nunca imaginei que o sentido de humor desta ordem começasse tão precocemente.

domingo, 12 de novembro de 2006

Clave de sol

Aprendi no colégio, ainda sei de cor.
Cantei muitas vezes à Mathilde, ainda canto de vez em quando.
Canto muitas vezes à Manon. E a Manon canta comigo.

Last night I had the strangest dream

I'd ever dreamed before
I dreamed the world had all agreed
To put an end to war
I dreamed I saw a mighty room
The room was filled with men
And the paper they were signing said
They'd never fight again
And when the paper was all signed
And a million copies made
They all joined hands and bowed their heads
And grateful pray'rs were prayed
And the people in the streets below
Were dancing 'round and 'round
While swords and guns and uniforms
Were scattered on the ground
Last night I had the strangest dream
I'd never dreamed before
I dreamed the world had all agreed
To put an end to war.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

O gesto é tudo

Mathilde (Outubro/2005)

Há uma ano, mais coisa menos coisa, a Mathilde articulava sons umas vezes palavras de todos nós, outras vezes palavras-da-Mathilde e fazia-se entender nestes nossos ouvidos treinados.

À hora do banho, já nem sei porque carga de água, andava ela despida pelos caminhos do seu quarto e pelos que a levavam do quarto à casa-de-banho e ao quarto da Manon ainda na minha barriga ainda barriguinha, quando resolvi calçar-lhe meias anti-derrapantes, porque carga de água já nem sei.

O pai, não reparando nas extremidades inferiores da sua primogénita, pegou nela e ala para o banho, de espuma, muita espuma, tanta espuma que quando lá cheguei só lhe via a cabeça.
Assim que entrei começa ela:
-Mei! Mei!
E eu, decifrando os códigos, dei-lhe a mão, porque não podia ser "mãe", porque ela só dizia "mamã" e não "mãe", porque devia ser "mão" aquele "mei", porque substimei a sua capacidade oratória e dizia-lhe:
- A mão bebé?
E ela:
- Mei! Mei!
E ela num ar de espanto, e eu dava-lhe a mão e ela agarrava-me na mão e continuava:
- Mei! Mei!
E um ar de espanto, e eu insistia com a mão, no gesto oferecido, na palavra interrogada:
- Mão?
E ela no mesmo e eu no mesmo ou variando, já pensando que se calhar ela já dizia "mãe" e não apenas "mamã", e continuava:
- Mãe? Mamã? Eu? A mão! É a mão? Mostra a mão? A minha mão? A tua mão? (que raio?)

E ela fez uma pausa e eu fiz uma pausa.
E ela suspirou, olhou-me com ar valha-me-Deus-Nosso-Senhor-que-alguém-perceba-o-que-está-a-acontecer-como-é-que-tu-não-percebes-algo-tão-evidente?

E, muito devagarinho, um pé coberto por uma meia anti-derrapante recém calçada, ensopada, emergiu como um telescópio pelo meio do banho de espuma, muita espuma.
- Meia!
- Mei! Mei!
E ela num ar de alívio e eu num ar de espanto.
- Meia? Mas...(que raio?)
E o pezinho ali no ar, no meio da espuma, ela em equilíbrio, ela a sorrir.
- Mei!
- Meia meu amor, claro! Eu é que não percebi. Tu explicaste muito bem. Vamos lá tirar isso. Não se toma banho de meias.
- Não!
- Pois não!

O amor não escolhe idades

Os livros são mundos maravilhosos. Os melhores amigos de quem se deixa seduzir pelo cheiro das letrinhas no papel.
A Mathilde despertou cedo para esse universo. O seu primeiro livro era de pano, seguiram-se livrinhos de página dura anti-rasgadura, e agora páginas leves que ela folheia com cuidado, às vezes não tanto quanto o desejável para o meu amor às folhinhas preciosas, lá vai havendo um rasgão ou outro que eu reparo delicadamente com fita-cola, mas sempre com curiosidade e agora contando ela histórias que fluem da sua imaginação vívida.

Uma das colecções que adoptou foi a dos "Dicionários por imagens dos pequeninos" - As Cores, A Quinta, Os Números, O Mar, A Bíblia (sim, há a Bíblia nesta colecção), O Natal, A Casa, A Higiene, Os Animais, O dia-a-dia dos pequeninos, etc.

Ontem estava sentada, a "ler" "O Corpo" e às páginas tantas explica-se o crescimento, "Os bebés crescem depressa, sentam-se, gatinham e depois começam a andar. Os adultos apaixonam-se, casam, são papás e mamãs e, mais tarde, tornam-se avós.", isto com bonecos a condizer.
A boa da Mathilde, de olhar fixo nos noivos replicou:
- Quero um vestido assim, quero um vestido assim cor-de-rosa... quero um prínce!

2 anos e meio. O amor não escolhe idades.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Palavras leva-as o vento...


Há dois dias a Manon, que adora estar em pé, começou a pôr um pezinho à frente do outro.
Grande excitação para todos, protagonista e espectadores.

A Mathilde começou nisto também aos 7 meses e nunca se interessou pela marcha a 4 patas, arrastou-se tipo recruta nas trincheiras durante uma semana (e que difícil que aquilo era, que eu experimentei arrastar-me ao lado dela e desisti rapidamente), gatinhou 3 semanas e, poucos dias depois de fazer um ano, andou e nunca mais parou.

Passámos 5 meses curvados a satisfazer o seu desejo de marcha. O melhor que lhe podíamos dar era o quadro família feliz, o papá de um lado, a mamã do outro, mãos nas mãos, e lá íamos nós, mais um passeio de alguns metros e um sorriso de orelha a orelha.
Pedia a toda a hora que a ajudassemos a andar e não havia costas que aguentassem a corcunda permanente.

De tal forma que prometemos que com a Manon não íamos estimular o "pezinho à frente do outro", porque com a primeira tudo começou assim, vontade e determinação da criança + orgulho babado dos pais (Ai que gira! Que precoce a querer andar, tão pequenina! Que engraçado e tal e pois...) = desvio postural = cifose dorsal = dor, basicamente.

Há dois dias a Manon começou a pôr um pezinho à frente do outro. E o que temos feito de há dois dias para cá?
(Ai que gira! Que precoce a querer andar, tão pequenina! Que engraçado e tal e pois...)
Ajudamo-la a pôr um pezinho à frente do outro, pois está claro!
Grande excitação para todos, protagonista e espectadores.
Quem é que resiste? Nós não.

:)

Ontem de manhã:

- A mamã hoje não vai cantar, a mamã vai ciciatre.
- Pois vou bebé, vou fazer de psiquiatra, hoje não vou cantar, pelo menos enquanto estiver a fazer de psiquiatra. (espero!)

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Final feliz


A Mathilde é, na sua realidade circunstancial, cinéfila. Não liga grande coisa à televisão mas filmes, por ela, rodaríam a todas as suas, mais ou menos, 10 horas de vigília diária.

Pessoalmente, julgo a TV embrutecedora, pelo menos a TV actual, não me fascina, logo não lhe presto atenção, uso-a como suporte para as imagens e sons codificados nessa magnífica invenção da humanidade - o DVD.

Sou uma cinéfila em licença de maternidade; antes das meninas, devorava após saborear, mastigar e decompôr, tudo quanto havia no cinema, agora, por enquanto, consumo todos os filmes infantis clássicos e modernos - futuros clássicos (todos todos não, haja algum critério!, que ele há coisas inenarráveis para os miúdos tal como para os graúdos) no conforto do lar.

Sempre adorei contos, fábulas, histórias infantis, nos livros, nos filmes, nos discos, na boca da minha avó, o mundo da fantasia ajudou-me a crescer e continua a maravilhar-me. Ando pois, encantada com a cinefilia Disney-Pixar-Dreamworks-e-outros-que-animam da princesa mais crescida cá de casa (parece que eu sou a Rainha-mãe, ainda não sei bem se acho graça ao título).

A Cinderela faz as suas delícias, é uma menina bonita, tem ratinhos e passarinhos e um gato, o Lucifer, que é Mau!, e a madrasta e as manas feias que são Más! e a fada madrinha, Salagadoola mechicka boola bibbidi-bobbidi-boo, e o príncipe! "A Cindiela a dançar com o prínce!" é um momento crucial, e é mesmo, de facto.
- Um dia também vais ter um príncipe e vais dançar com ele, Mathilde.
- Sim... (reflexão... sorriso!) ... um dia eu vou ter um prínce. (Tão gira! :-))

Há o Peter Pan, a voar, a voar, com os piratas e a fada pequenina e os meninos, há o Nemo, com papá, tadinho, à sua procura e a menina, tenebrosa, a Darla que ela adora e com quem diz em coro "Fishy! Fishy! Ai ar U sipi? Pic ap!" (leia-se - "Fishy! Fishy! Why are you sleeping? Wake up!"), os Barbapapa, giros giros e educativos, protectores dos animais e do ambiente, a Pantera Cor-de-rosa (incrível como os desenhos bem feitos, bem feitos continuam passados décadas) com todas as suas cenas nonsense, Chicken Little, sim, grande fã do galinho e da pata feiosa e querida e do porco "presuntérrimo" mas sobretudo do alien pequenino, Dumbo com a sua mamã, a Alice no seu país absurdo, os Aristogatos, o que ela viu e reviu estes "miaus", a Dama e o Vagabundo aos beijinhos com spaghetti pelo meio, Shrek e o burro e a princesa Fiona, há sempre uma princesa muito importante, como a Aurora na Dama Adormecida e não a Bela, a Bela vem com o Monstro e tem um vestido amarelo, o pato Donald na Caixinha das surpresas a abrir cadeaux, e o que ela gosta de um cadeau, a lista é interminável.
Quando apenas os Teletubbies lhe interessavam este post teria sido muito mais curto.

Faço os possíveis para ver com ela, para além de ser um momento íntimo e divertido, parece-me que é mais educativo se acompanhado, pelo menos algumas muitas vezes e, claro, apanágio dos pais, já sei muitas cenas de cor.

Há uns dias estavamos a ver a Bela e o Monstro e na cena em que o pai da Bela está em risco de ser internado num hospício, o diálogo seguiu ligeiro.
-Oh! Tadinho do pai da Bela!
- Pois é, coitadinho! Querem interná-lo. O Gaston que é muito parvo e quer casar com a Bela, arranjou maneira de dizerem que o pai da Bela é maluco e vão interná-lo.
- ... Eu não quero internar o papá!

(pausa de contenção de riso)

- Não te preocupes meu amor, não é preciso internar o papá.
- Eu não quero! (ar infeliz, voz de choro)
- Acho que não é caso para tanto, não se vai internar o papá... olha! O pai da Bela também vai conseguir fugir, vai ficar tudo bem vais ver, está bem assim Mathilde?
- Está bem mamã.

All's well that ends well, Shakespeare como eu te entendo!

sábado, 4 de novembro de 2006

As manas M
























A Manon nasceu numa terça-feira, lua nova, como o pai.
Quando a Mathilde nos foi visitar, ela que tinha passado os quase 9 meses anteriores de mão na minha barriga, repetindo - Manon (e de vez em quando assustando-se quando "a barriga mexia"), olhou muito atentamente para a bebé, tão pequenina, e eu perguntei-lhe:
- Sabes quem é?
Ela olhou para o pai, depois para mim e novamente para a irmã recém-nascida e respondeu em sussurro:
- É a Manon!
Levantou o meu pijama, investigando a minha barriga, consideravelmente bem mais pequena e eu expliquei que a Manon tinha estado cá dentro e que tinha saído finalmente, estava cá fora, no berço.
Ela devolveu o pijama à posição original e nunca mais ligou à minha barriga.


Passei a gravidez a perguntar-me se ela entenderia e chegava sempre à conclusão que seria provavelmente difícil compreender uma coisa destas com 1 ano e meses.
Até eu, adulta, médica, a perceber alguma coisa da biologia e embriologia humanas e algumas outras ciências relacionadas, acho estranho e milagroso ter uma vida humana cá dentro, a crescer, a formar-se... há seguramente alguma magia!

Cheguei a fazer-lhe uma boneca grávida, com uma barriga em forma de tampa que se abria e tinha um bebé no interior mas, ainda assim, nunca tive a certeza que ela percebia que a Manon estava cá dentro e ia sair mais dia menos dia.

Fiquei embasbacada com a cena na maternidade e o que é certo é que aparentemente, pelo menos naquele momento, ela percebeu.

Adoptou-a imediatamente e com uma naturalidade comovedora.
Parece que a Manon sempre existiu.

Suponho, pegando na máxima "Quem não se sente não é filho de boa gente!" e considerando-nos boas pessoas, que a deve ter incomodado deixar de ser única e senhora, princesíssima do seu palácio, mas, no entanto, esse incómodo não é palpável.

Inicialmente encheu-se de responsabilidade e tentava ajudar nos cuidados com a bebé, andava de dedo em riste, muito espetadinho em frente da boca a dizer baixinho "Shiu! A Manon está a dormir!" e quando a irmã resmugava enfiava-lhe a xuxa muito desajeitadamente mas com cuidado. Ajudava nos banhos, deu-lhe umas 6 ou 7 colheres da primeira sopa, tentava pegar-lhe mas com muito jeitinho e quando ela foi para a creche declarou-se sua protectora, muito orgulhosa e não deixava ninguém mexer-lhe.
Era e é "a sua Manon".
Inclui-a sempre em todas as actividades familiares, empresta-lhe espontaneamente o Monsieur Chat, o que é algo revelador da sua capacidade de partilha porque o Monsieur Chat não se empresta a ninguém e vai dar-lhe beijinhos quando acorda e quando se deita.

Irrita-se por vezes porque tem de esperar que eu acabe de tratar da Manon antes de responder a um apelo dela mas acata bastante bem a divisão dos tempos. Verdade seja dita que nós nos desdobramos e redesdobramos para que as duas tenham a atenção que nos pedem, dentro do possível.

A Manon, por sua vez, derrete-se com a Mathilde, reconhece-lhe a voz ao longe desde sempre, e quando ela chega não há mais ninguém, olha-a com um fascínio sorridente.




















- Manon! Olá! Olá!... Minha gorda! Arrr... Arrr Manon? Bilú Bilú! Cucu Manon! Queres vir comigo? queres? Eu conto a história, a história dos animais, queres Manon?







Meu pai, meu herói.

- Vamos dormir Mathilde?
- Sim, eu quero a mamã.

Ela quer mais vezes que eu a vá deitar, apenas e tão só porque comigo o "ir para a cama" se estende por histórias e canções intermináveis, ela pede e eu dou, todos os dias o tempo estica-se para lá dos ponteiros do relógio.
Eu cedo muito mais do que o pai, é a minha natureza logo, com ele ela faz muitíssimo menos farinha enquanto que comigo já podíamos nesta altura abrir uma padaria.

Quando a opção é o papá, mon papa, meu herói, e nada menos do que tal categoria, o nível de adoração é inatingível, as histórias e as canções duram um piscar de olhos, mas a seguir ao "Bonne nuit papa" segue-se um ritual até o pai sair do quarto absolutamente enternecedor.

- Je t'aime ma Mathilde.
- Je t'aime mon papa!
- Je t'aime aussi Mathilde!
- Je t'aime aussi!!
- Je t'aime!!
- Je t'aime!!!

E o diálogo vai em crescendo até chegar ao grito, perdidos de riso, e depois em decrescendo até ao sussurro mesmo antes da porta fechar.
- Je t'aime mon papa.
- Je t'aime ma Mathilde.

Ele desce as escadas com um sorriso apaixonado e diz sempre que é dos melhores momentos do dia.

Vai ser bonito quando a Manon começar a falar. Julgo que vou ter de o apanhar do chão, derretido, com cuidado para não perder nenhuma gota e pô-lo no congelador a ver se regressa à forma original.
Não havia ele de querer ter outra menina!

Paladares



















Mathilde - quase 7 meses (01/10/2004) e quase 2 anos e sete meses (01/10/2006)




A minha bebé Mathilde, que já é uma menina mas será sempre a minha bebé Mathilde (sempre me fez rir esta forma de chamá-la, foi o pai que inventou, faz-me lembrar uma personagem de desenho animado, tipo Super-herói, SUPER MATHILDE!!!), alimenta-se basicamente com leite(lá está, bebé Mathilde, pergunto-me se será a terminologia adequada, agora que penso nisso...), bebe praticamente um litro por dia, adora yogurtes brancos, sem açucar!, mas daqueles espessos, e comida temperada, condimentada, enfim, com gosto!
Frango cozido com arroz ou puré de legumes não são apreciados pelas suas papilas gustativas mas frango de caril, isso sim!, o sabor faz-se valer.

Sempre lhe agradou o chamado buffet, pestiscar, ora um bocadinho de presunto, ora queijo da ilha daquele que pica até ao fundo do palato, paté, foisgras, chèvre, gengibre, palitinhos de cocktail atafulhados de queijo creme camembert, pão, bolachinhas da vovó (a minha mãe é a rainha das bolachas, só para que conste nos arquivos) e de vez em quando "um quadradinho" (de chocolate).

Outra coisa que ela sempre adorou foi comida japonesa, sashimi de salmão. Era delicioso vê-la com pouco mais de um ano, sentada em cima de um monte de almofadas, para conseguir chegar à mesa, com um pauzinho na mão a comer bocadinhos de peixe com o ar mais satisfeito deste mundo.

Nunca nos provocou ansiedade o facto dela não comer grandes quantidades uma vez que cresce e está grande e sadia. E nunca me apercebi que ela comia pouco até nascer a Manon, esfaimada! :-)

A Manon come muito e muito e muito bem. Chegamos a dar-lhe mais sopa do que à Mathilde e ela ainda pede mais, enquanto que a da Mathilde fica a meio.
A Manon nasceu decidida a acabar com qualquer reserva de leite do planeta, mamas incluídas, e quando passou às sopas e papas, ei-la a abrir a boca, desembaraçada, sem hesitação alguma e com o maior sorriso da região e arredores.

Chego agora à conclusão de que não é a Manon que come muito, é a Mathilde que come pouco.
Suponho que a Manon vai gostar de rodísios- pague-x-e-coma-tudo-o-que-quiser.
A Mathilde será, eventualmente, mais nouvelle cuisine, pouca quantidade de muitos pratinhos exquis, uma gourmet, a minha bebé Mathilde.

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Halloween

Há 2 anos foi assim
(Mathilde - quase 7 meses)

Hoje é assim

(Manon - quase 7 meses,


Mathilde - quase 2 anos e 7 meses)

domingo, 29 de outubro de 2006

E não há gelados como os do Santini!


-Queres Manon? Queres? Eu dou! Abre a boca!... é bom Manon?

(Runs in the family, devemos ter um gene que diz: gostar de gelados de fruta do Santini)

Não há perfume melhor


A Manon nasceu às 16h06 do dia 4 de Abril. Mamou desalmadamente e dormiu horas a fio, muito sossegadinha entre o meu corpo e o meu braço direito.
Aquelas horas a fio foram algumas das mais plenamente felizes da minha vida, passei-as a cheirá-la. Cheirei-a devagar, levemente, profundamente, calma e sôfrega, sem pressa, inteira, feliz.
Todos os dias a cheiro, muito. Não há perfume melhor.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

O tempo a fugir

Passa a correr.
A Mathilde nasceu a 06-04-04.
A Manon nasceu a 04-04-06.

Descubra as diferenças!


Mathilde - 9 dias







Manon - 8 dias

domingo, 22 de outubro de 2006

Poliglotices

Suponho que muitos pais farão o mesmo, quando têm de dizer alguma coisa em frente dos filhos e não querem que eles os percebam. Adoptam uma linguagem diferente que pode ser simplesmente soletrar palavras, falar na linguagem dos P's, usar códigos, ditados populares ou metáforas, falar numa língua estrangeira, etc...

Com a mudança de estação andei a arrumar as roupas das meninas e a Mathilde aproveitou para vestir e calçar, tentativas vãs na maior parte das vezes, tudo o que ia encontrando dos anos anteriores. Dissemos-lhe várias vezes que já não lhe serviam porque ela cresceu e porque agora está muito grande para a roupa e a roupa muito pequenina para ela. De tal forma que, às tantas, já era ela que experimentava e dizia: "Está petit, não dá.", e por vezes, mesmo que servisse, só porque lhe dizíamos que devia estar pequeno, ela já concordava e queria despir ou descalçar logo.

Ontem de manhã quis vestir-se e calçar-se como eu e para tal foi buscar umas botas do inverno passado. Há um ano as botas eram um bocadito grandes mas passados todos estes meses e tendo em conta que nenhum sapato dessa altura lhe serve, temi uma cena tipo Cinderela com o sapatinho de cristal em que o final feliz seria à custa pezinhos engueishados, ou então que fosse ela a dizer que as botas estavam demasiado pequenas mesmo não estando.

Assim sendo, quando o pai lhe estava a calçar as ditas botas como-a-mamã, eu, não podendo falar nem em português nem em francês, disse:
- Don't tell her that, maybe, the shoes are small otherwise, even if they are ok, she will not want to keep them on because we told her so before.
E a boa da Mathilde olha para mim e diz:
- Não, não estão petits!

É o que dá armar-me em moderna e pôr os filmes da Disney e afins em versão original inglesa. Será isto possível?

A verdade sai da boca das crianças.

- Olha! Um pato! Olá pato!... Olha! Mais patos! Muitos! Tantos! Olás patos!

Está certo.
Um pato - um olá.
Muitos patos - muitos olás, um olá para cada um.
Sejamos bem educados e que nenhum pato seja desconsiderado!

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Mathilde



Hoje à noite vou fazer o meu primeiro concerto.
A última canção será a "Mathilde".
Ainda me lembro quando a escrevi e compus. Sentei-me de guitarra em punho em frente ao computador, não para escrever, porque o faço sempre com papel e lápis, mas para olhar para ela, no fundo do écran.
A minha bebé Mathilde, o meu rebuçadinho.
Era esta a fotografia, 9 meses.
E saíu:

Mathilde

Os olhos cheios de luz
Um brilho de curiosidade
Redondos, imensos
Serenos, travessos
Com jeitos de cumplicidade

Pestanas compridas
São longa cortinas
Que envolvem o mundo que espreitas, atenta
Leves bailarinas
Que dançam sem medos
No tempo que tu lhes ensinas

E a tua luz tão cheia de vida
Enche a minha vida tão cheia de luz
A...rrrr... A...rrrr... vivo apaixonada
Dona dos meu mundo
Princesa encantada

O cheiro a leite e bolachas
O doce da pele, o riso que contagia
As mãos que agarram
Tão frágeis, tão firmes
Com jeitos de quem faz magia

Pézinhos papudos
Ligeiros traquinas
Partem destemidos, querem liberdade
Hesitam, recuam
A rir continuam
No tempo da tua vontade

E o teu sorriso tão cheio de vida
Enche a minha vida cheia de sorrisos
A...rrrr... A...rrrr... vivo apaixonada
Dona dos meu mundo
Princesa encantada

A boca tão bem desenhada
Pequeno e atrevido o nariz
Bochechas redondas
Sorrisos rasgados
Com jeitos de quem é feliz
Festinhas suaves

Beijinhos no ar
Gestos atrapalhados mas sempre a tentar
Discursos pegados
Com sons desgarrados
No teu tempo sempre a brincar

E o teu brincar tão cheio de vida
Enche a minha vida cheia de brincar
A...rrrr... A...rrrr... vivo apaixonada
Dona dos meu mundo
Princesa encantada

A...rrrr... A...rrrr... tens-me apaixonada
Dona dos meu mundo
Princesa encantada

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Minha maravilha da natureza!


Palavras para quê?

Quem tem medo do lobo mau?


2 anos e meio não será um bocadito cedo para a Mathilde desatar aos grito antes de adormecer ao ponto de eu ir ver o que se passava, entrar no quarto e ela dizer-me, muito assustada: "O lobo mau mamã! O lobo mau mexeu na minha cama!" ?
Eu lá lhe disse que não estava ali lobo mau nenhum mas que, se ele voltasse a importuná-la, lhe dissesse: "Vai-te embora lobo mau! Não tenho medo de ti!" E que o Monsieur Chat a protegia e que o Jesus (ela anda intrigada com a identidade do Jesus que aparece às tantas na letra da canção de boa noite), que era amigo dela e velava por todos nós, também não deixava que o lobo a aborrecesse.
Pareceu-me ficar descansada mas 2 minutos depois de eu sair desata a gritar novamente. Lá foi o pai, que pregou uma carga de pancada no lobo, tratamento muito mais eficaz do que evocar Deus Nosso Senhor e que lhe perguntou de onde é que ela tinha tirado a ideia de que o dito bicho estava a mexer na cama dela.
- Foi do livro.
- Mais s'il est dans le livre, il ne peut pas sortir. On ne sort pas des livres comme ça!
- Ah...
- Et le livre, il est où?
- 'Tá na creche.
- Allors il est à Babeloued ce loup! Il est loin!
(Babeloued é assim o equivalente ao nosso cu de Judas, já que estou numa de imagens bíblicas)

E a coisa ficou por ali, ainda assim ela pediu para se tapar toda, cabeça e tudo mas não disse mais nada.
De qualquer das formas, suponho que o que a convenceu foi o enxerto que o pai pregou no lobo.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Doudous

Este é o Monsieur Chat.
Todas as crianças têm um doudou (é assim que o pai lhe chama), o da Mathilde é um gato cujos bigodes já viram melhores dias. Vai com ela para todo o lado e nós prestamos-lhe quase tanta atenção como a ela.

Nem sempre foi assim. Durante o primeiro ano, a grande paixão dela era o João Ratão a quem se juntou o Mister Rabbit.
Sabendo por experiência alheia que convém ter sempre uma cópia do doudou não vá o original perder-se, arranjámos 2 Joões Ratões e 2 Misters Rabbits, não fosse o diabo tecê-las.
Só que por volta do seu primeiro aniversário, a Mathilde interessou-se definitivamente pelo Monsieur Chat que habitava os pés da sua cama desde sempre mas ao qual ela tinha, até então, passado muito pouco cavaco. Ao fim de pouco tempo tornaram-se inseparáveis e para o lavar tínhamos de recorrer ao poder persuasivo da distração e entretê-la com qualquer coisa que a alheasse do seu companheiro de vida, durante uma hora. Agora já acha graça a vê-lo às voltas na máquina.
Chegou-se rapidamente à conclusão que não seria nada absurdo arranjar um duplo e aí começou o problema, a loja tinha fechado e nada feito.
Já procurámos por todo o lado e não há meio de encontrar o bendito do boneco à venda.

Hoje aconteceu. O Monsieur Chat ficou na creche. Tememos o drama, a angústia, a birra interminável. Não se mencionou o raio do bicho, fez-se de conta que estava tudo no sítio e eu rezei às alminhas para que ela não se lembrasse de o procurar. E o milagre aconteceu. Ela só dorme com ele e hoje perguntou só uma vez enquanto bebia o biberon, eu lá desviei o assunto e depois canção puxa canção, beijinhos nas bochechas (é a nova dela), boa noite e já está! Ufa!...

Dão-se alvíssaras a quem me arranjar um Monsieur Chat substituto para momentos potencialmente dramáticos como o de hoje!

Nem só de rosas...

... vive a humanidade.
A Manon está constipada. Ainda não percebi bem se é apenas um vírus adepto do epitélio respiratório ou também do digestivo.
Há congestão nasal que nem é nada de especial, nada de labilidades térmicas, o apetite mantém-se mas cada vez que come ou bebe, a tosse impõe-se e bastam duas tossidelas para que tudo o que acabara de entrar ou que já lá estava há uma horita, mais coisa menos coisa, regresse ao mundo exterior.
Por mais que já tenha passado por isto e a rapidez de actuação se vá optimizando de criança em criança e de vez em vez, acabo sempre coberta de leite digerido ou não, já para não falar na sopa e na fruta.
Não há guarda-roupa que chegue, nem dela, nem meu, nem toalhas, nem mantinhas, nem lençois.
A única coisa que chega é a paciência. Tornei-me infinitamente mais paciente depois de ser mãe.

No meio da confusão de um belo vomitanço (perdoe-se-me a expressão mas é a que há!), a Manon olha para mim, sorri, os olhinhos congestionados do esforço brilham de novo e desata a palrar, muito bem disposta.
Acabo sempre por rir, ela transforma o se-não-fosse-trágico-seria-cómico em se-não-fosse-cómico-seria-trágico. Opta pelo alívio e o prazer da normalidade saudável desenhados naquele sorriso generoso.

Até parece que não são restos de comida mas sim"são rosas, senhores!"

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

As 4 estações não existem Sr. Vivaldi!

Entretanto está a chover e o Outono está, de facto, a começar.
Ora a boa da Mathilde é livre. Não há melhor definição, é livre. Podia chamar-lhe selvagem, naturista, mas livre é muito mais abrangente. Uma das manifestações dessa liberdade é o facto dela gostar de andar nua. Por ela (bom, por mim também), vivia sempre nua. Despe-se assim que chega a casa e o que ela gosta é de andar em pelota e quando muito de "chinelar" no que diz respeito aos pés (o que me espantou porque pensei que com dois anos fosse difícil conseguir andar de chinelos de enfiar entre os dedos mas ela adora e anda e corre com eles como se fizessem parte do seu corpo).
Ora estamos no Outono, certo? Fresquinho lá fora, certo? Pois a Mathilde ignora o que tem S. Pedro a dizer sobre as estações do ano e quer sair de vestidinhos de verão e chinelos. É um jogo de argumentação e sedução todas as manhãs. Vá lá! Hoje calçou os ténis sem grande resistência mas já sei que na creche vai passar o dia a tentar descalçar-se ;-)

Raciocínios

Adoro a cabeça das pessoas, é um dos motivos porque sou psiquiatra (ciciatre como diz a Mathilde). A cabecinha da Mathilde é um colosso. Há umas semanas, estava eu a dar de comer à Manon, pedia ela ao pai a Cindiela, testemunhei o seguinte diálogo:
- Papa! Quero a Cindiela!
- Un: On demande comment?
- S'il te plaît, papa! ( e põe a chucha na boca)
- Deux: enlèves ta sucette! (ela começa a choramingar) et Trois: pourquoi tu pleures?
E ela, sem tirar a chucha, muito choramingona - Não quero o dois!!

E eu a dois passos, perdida de riso mas a tentar manter a compostura. O pai perdeu logo a argumentação e riu-se automaticamente e ela desatou a rir um pouco sem perceber o que estava a acontecer.

É fascinante o raciocínio em tão tenra idade, sobretudo porque é igualzinho ao de idades provectas, a qualquer uma, só que aos dois anos e meio tem para mim uma graça e exerce um fascínio ainda maiores.

domingo, 15 de outubro de 2006

Progressos

A Manon sentou-se sem apoio e ficou sentadinha durante imenso tempo há 2 dias. E palavra que os sons que emitiu pareciam de espanto: Ah! AH! AAH! Como quem diz: Olha! Estou sentada! Ah! Que surpresa!

Está constipada (Raios partam os vírus!) e é tão doce que, ainda que doentinha, sorri o tempo todo. Minha Manonzinha linda! Não há ninguém como tu!

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Essencial e insubstituível


A Mathilde é bilingue. Pensei que demoraria mais tempo do que a média a começar a falar, os bilingues compreendem tudo mas têm habitual e inicialmente mais dificuldades de expressão. Qual quê?! Fala pelos cotovelos desde sempre e faz-se entender muito bem. Acorda a falar, deita-se a falar, e canta pelo meio (não faço ideia a quem é que ela sai! ;) )
Mistura tudo, metade da frase é em português e a outra em francês, duas palavras na língua da mãe, uma na do pai e o remate emigrante em françuguês.
Exemplos:
"Mamã, anda chercher o carro!"
"Tantas voitures!
"Eu gosto da vianda!" (entenda-se viande)
"É lixo. Vou jetar!" (entenda-se jeter)
"Não quero ir para o lit" (no início eu percebia "não quero ir para ali!" só depois é que associei lit - cama)
"Quero uma glace Santini, faz favor,s'il te plaît mon papounet"
"Quero pâtes!"

Extraordinários os circuítos dentro daquela cabecinha, ou deverei dizer cabeçona que a menina têm um perímetro cefálico sempre perto do percentil 90 :)
É muito engraçado como ela associa as duas línguas e nunca se engana no género das palavras.
Quando aprendi a falar francês, cheguei a supôr que o masculino e o feminino faziam de propósito para me enganar. Muitas palavras femininas portuguesas mudavam de sexo quando traduzidas para a língua de Molière e, quando eu já ia embalada a trocar o sexo a tudo e todos, lá me aparecia uma convicta de que devemos-viver-com-o-que-Deus-nos-deu-e-isso-dos-transsexuais-é-uma-aberração!, e trocava-me as voltas dos le e dos la. Os exemplos são múltiplos: un lit - uma cama; une chambre - um quarto; un pont - uma ponte; une glace - um gelado; une voiture - um carro; etc... e as convictas-like: une cravate - uma gravata; un poisson - um peixe; une table - uma mesa; and so on and on and on...
A Mathilde mistura tudo, frequentemente os artigos definidos ou indefinidos nas formas simples ou combinadas saiem-lhe em português mas correspondem sempre ao substantivo que se lhes segue em francês. É genial! Esta miúda maravilha-me! Acho-a absolutamente divinal, poucas coisas me fazem sorrir como ela (e eu sou um excelente público, parece que o gesto que mais me caracteriza é precisamente o sorriso de orelha a orelha e o riso, dizem-me).
" Eu quero calçar as chaussures da mamã!" " O papá não tem as chaussetes!"

Que fique no entanto esclarecido que ela diz imensas frases numa língua e/ou noutra, que os seus"u's" franceses são lindos e que quando fala em francês parece que sussurra antes das consoantes mais agressivas como os T's por exemplo.

Aqui há uns 4 meses, quando a fui buscar à creche, vim o caminho todo (dito assim parece longo mas são apenas 5/10 minutos) a briefá-la:"Mathilde, quando chegares a casa vais dizer ao papá - Mon papa d'amour, je t'aime!" e fi-la repetir vezes e vezes, as secas que os miúdos apanham connosco! Assim que chegou, despejou a encomenda muito direitinha, com grande sucesso e comoção alheia. Dali a pouco estava ela no banho com a Manon e eu perguntei-lhe se ainda se lembrava da frase. E ela: "Je t'aime papa!" e o pai, derretido, responde-lhe: "Moi aussi je t'aime Mathilde! Tu peux dire ça à maman aussi." E ela olhou para mim com aqueles olhinhos honestos, redondos, imensos e muito doce respondeu: "Je t'aime maman!" e depois virou-se para a Manon na cadeirinha do banho à frente dela e continuou: Je t'aime ma Manon!" Pronto, lágrimas pelo meu sorriso abaixo, claro!

No outro dia, estava a jantar, eu dei-lhe uma beijoca naquela bochecha apetitosa e sussurei-lhe: "Adoro-te Mathilde! e ela olhou para mim com um ar de matreira e de seguida disparou: "Adoro-te mamã!" Lagriminha novamente, pois é evidente!

De tudo o que ela diz, com toda a piada que uma criança de 2 anos e meio tem, não houve nada ainda que superasse estes "Je t'aime/Adoro-te!"
Haverá algo melhor neste mundo? Talvez, é bem possível, não substimo nunca a vida e todos os prazeres que ela nos dá, então uma hedonista irremediável como eu, mas este amor é-me absolutamente essencial e insubstituível.
Je t'aime Mathilde! Adoro-te minha bebé!

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

A melhor bebé do meu mundo!


A Manon é a melhor bebé deste mundo! Tem seis meses, 2 dentinhos, cabelo dourado, duas bochechas redondíssimas que eu não me farto de encher de beijinhos, sorri o tempo todo e é linda!
Quando a olho, tal como quando olhava para a Mathilde em bebé, penso sempre "Como é que eu fiz isto?" A ciência explica, os cromossomas e o DNA e a embriologia e tudo e pronto mas "Como é que eu fiz isto?"
Que maravilha! Pensar que ela saíu de mim... Que grande, imensa, super-mega-hiper pintarola!!!
É mesmo bom ser mãe!

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Bona noite!

Lembro-me de, há já alguns anos, assistir maravilhada a uma cena do filme "3 homens e uma menina" em que os 3 papás (bom, um papá e dois tios, todos muito babados) cantavam um rap para a pequena protagonista adormecer. Achei que o conceito se adequava muito melhor a mim do que contar histórias para dormir, julgo que decidi nesse momento que no dia em que tivesse filhos faria o mesmo, bom talvez não rap, ainda não experimentei e julgo que não será a melhor das opções tendo em conta o emissor, eu, mas estou começada e não acabada e isto com os miúdos nunca se pode dizer jamais porque eles têm o condão de nos pôr a fazer as figuras mais inenarráveis e absurdas de ridículas que jurámos pela nossa dignidade nunca fazer em tempo algum, lérias!, ali estou eu de 4, babada até aos tornozelos, a fazer caretas e a dizer bilu-bilu como se não houvesse amanhã, a mascarar-me e a fazer o teatro da minha vida só porque a Mathilde pede, ou só porque eu acho que ela vai achar graça (e acha, o que vale é que é muito bom público!), porque a Manon se derrete e sorri-se toda, porque me dá um prazer dificilmente comparável com o resto da vida em geral, porque é tão natural e tão genuíno e tão bem aproveitado que qualquer tempo de brincadeira aparentemente ridícula com as minhas meninas maravilhosas se torna numa cena candidata a citação para a humanidade!
Tudo isto para dizer que ainda me ponho a cantar rap um dia destes com uma letra cheia de animais, barbapapas, panteras cor-de-rosa, nemos, cinderelas, gatos a quem se atira paus, minhocas que dão beijocas e outras personagens que habitam os meus dias, todos os dias, graças à Mathilde e a Manon.

Por enquanto, e de há uns meses para cá, eu que sou muito dada a cantorias e sempre cantei para a Mathilde e agora para a Manon também, tenho cantado muito entre as 8 e as 8h30 da noite, todas as noites.
Foi um acaso, uma vez, à hora de deitar, peguei na Mathilde ao colo, ainda ela não tinha dois anos, e cantei-lhe uma canção de embalar - "Boa noite!" Ela enroscou-se com o seu Monsieur Chat entre os braços, e respondeu: Mais?!
E eu repeti.
E ela: Os piratas mamã!
E lá lhe cantei eu os piratas (uma passagem de uma opereta sobre D. Inês de Castro e D. Pedro, e é logo à parte mais tétrica que ela acha piada), e não só cantei como desatei a fazer o teatro todo e as personagens e ela a rir deitada atravessada na cama. E depois cantei-lhe o "Vamos dormir" com estalinhos com a língua pelo meio e ficámos por ali.
Ora no dia seguinte ela pediu outra vez e no dia a seguir também e a cantoria tornou-se incontornável.
O repertório tem-se estendido e passa pelo "Calhambeque" de Roberto Carlos, "Como o macaco gosta de babana" de José Cid, "Lavar os dentes" da Caixinha de sonhos, popular diz lá e eu tudo bem, "The circle game" de Joni Mitchell, "Mathilde" da mamã e o que ela se lembrar na altura. Ao longo dos meses ela ouvia sempre com muita atenção mas agora começou a cantar, E SABE AS LETRAS TODAS! e embala os bebés dela e canta-lhes as mesmas coisas e canta para a Manon e dá-lhe beijinhos, e eu de lágrima ao canto do olho.

É certo e sabido, quando a vou deitar pode faltar tudo mas o "Bona noite", como ela lhe chama (uma mistura de bonne nuit e boa noite), é obrigatório. Bom, os piratas é um must também, mas o colo e as festinhas com ela a cantarolar comigo são a prioridade, das duas. É um dos melhores momentos do dia. Obrigada Mathilde.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006


Mathilde e Manon