sábado, 18 de junho de 2011

PPR


- Quem me dera ser rica!
- Para quê, Mathilde?
- Para ir de férias... e para partir à la retraite...

Reconheço-lhes um "ar de família".

O poder da bondade II


Há umas semanas...
- A C... desde que veio de férias faz sempre xixi nas cuecas. Não consegue chegar à casa-de-banho. A professora está a ficar farta.
- Todos os dias?
- Sim. Todos todinhos!
- Mas isso já acontecia antes?
- Não, só desde que voltámos de férias da Páscoa.
- Bem Mathilde, isso não é normal. Algo se passa com a C... ela deve andar preocupada com alguma coisa, ou ter medo de algo, ou andar triste por algum motivo. Mas passa-se alguma coisa. Se nunca lhe acontecia isso e agora acontece todos os dias, numa menina de 7 anos, é sinal que ela não está bem, não está confortável.
-... uhm... Eu vou falar com ela.

Na semana seguinte...
- A C... deixou de fazer xixi nas cuecas.
- Ainda bem.
- Falei com ela.
- Falaste? (A C... não é uma colega chegada) E disseste-lhe o quê?
- Disse-lhe que ela não precisava de se preocupar que ia chegar à casa-de-banho a tempo e que não tinha de ter medo da professora que ela não se zangava e que se estivesse triste eu brincava com ela.
- Disseste isso tudo?
- Sim.
- E achas que foi por isso que ela passou a chegar à casa-de-banho a tempo?
- Sei lá. Não faço ideia. Mas a C... já não faz xixi nas cuecas.
- E isso é que é importante?
- Pois é.

E seguiu caminho para brincar com as bonecas. Se calhar aos pedopsiquiatras ;)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Vocações IX



- Já sei o que quero ser quando for grande.
- O quê, Mathilde? Já me disseste tantas coisas...
- Quero fazer o mesmo que tu. Mas para crianças.
- Pedopsiquiatra?
- Chama-se assim?
- Sim. "Pedo" é um prefixo, um bocadinho de palavra que se põe antes da palavra psiquiatra e que significa criança. Pedopsiquiatra é um psiquiatra para as crianças.
- É Isso mesmo. Quero ser pedopsiquiatra. Fazer as crianças felizes!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Amigos

De vez em quando vêm visitar-nos amigos de outras terras e outros costumes.
No início do mês tivemos cá em casa Laurent e Angélique com os seus filhos, Matea e Taeva, vindos da Bélgica.
Não os víamos há 13 anos e passámos seis dias a contar a vida toda que entretanto vivemos.

As manas entenderam-se às mil maravilhas com os manos e eles com elas ao ponto de lhes deixarem a surpresa de um desenho com uma mensagem de saudades antecipadas na porta do roupeiro.

Pelo meio de tanta brincadeira, mais uma vez concluo, muito gosta esta criançada de se disfarçar!


Artistas

No fim de Maio houve festa na escola de música e expressão dramática das manas M.
Foi uma festa especial como as festas desta escola são. Cheia de criatividade, arrojo e audácia, estimulando, como é seu apanágio, um pensamento divergente.

Em 10 quadros simbólicos sucederam-se performances musicais e teatrais desmpenhadas por pequenos grandes artistas.

À Mathilde e à Manon coube uma versão alternativa de "Os três porquinhos", a maior- um passarinho, a mais pequena - uma porquinha.


















A Mathilde, que em Março começou a aprender a tocar guitarra, participou num outro momento, muito concentrada.

Quando a vejo de guitarra na mão, aquelas mãos pequenas caindo naturalmente sobre as cordas, fico espantada com a plasticidade das crianças.



Foi muito bonito. Para o ano há mais.

A nossa loira


Há mais ou menos um mês, a Manon começou a ler. Juntou letras, juntou sílabas e sem qualquer explicação exterior percebeu o mecanismo da leitura e desatou a ler sozinha.

Depois resolveu começar a escrever.
Dei-lhe um bloco pequenino e uma caneta e o passatempo no carro de manhã ao ir para a escola passou a ser pedir palavras ao pai. O bloco depressa ficou bem rabiscado com desenhos pelo meio.

Está motivadíssima e incansável.

Agora quer fazer contas.

A nossa loira, dizem-nos na escola (tal como a Mathilde aos 4 anos e meio, após testes pedopsicológicos que avaliam crianças com um ano a mais do que elas), é brilhante. A nossa loira!

Julgo que em Julho nos vai pedir o "Guerra e Paz". ;D

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O poder da bondade


As crianças não têm filtros como os adultos.
Tudo aparece em estado natural, espontâneo e genuíno. A bondade e a maldade. A generosidade e o egoísmo. A alegria e a tristeza. A tranquilidade e a agitação. A simpatia e a antipatia. A gentileza e o embirranço. Etc. e etc.
Na escola a Mathilde tem muitos amigos e, como em qualquer grupo, a luz e a sombra dão ares da sua graça e da harmonia passa-se ao conflito e novamente à harmonia e a roda vai rodando.

Há umas semanas, andava a Mathilde aborrecida com uma amiguinha que, segundo ela, por vezes lhe diz que não a quer nas brincadeiras ou que embirra, também segundo ela, dizendo-lhe coisas sem sentido e com argumentação palerma, dizia-lhe eu pela enésima vez que quando isso acontece, tendo ela tantos amigos, que não se rale e não dê importância, que se afaste e ignore.
Sempre de resposta pronta, surpreendeu-me um pequeno silêncio, atento, ponderando. Então, com o ar menos resignado do mundo, respondeu-me: "Eu não vou desistir! Eu não posso desistir!".
Não percebi e apressei-me a transmitir-lhe. Já não houve silêncio nenhum. "Tu disseste-me que eu tenho o poder da bondade e da gentileza. Eu não posso desistir."
Perguntei-lhe então se o que ela me estava a tentar dizer era que se ela fosse boazinha para a amiga, acabaria por conquistá-la e tudo ficaria bem.
"Sim. Eu não vou desistir."

Esta forma de resolver o mal pelo bem da Mathilde toca-me profundamente. Talvez porque me lembre de mim pequenina. Talvez porque ela tenha razão. Talvez porque há muitas razões possíveis. Talvez porque há muito muito tempo que deixei de dar a outra face sem hesitações. Talvez porque nem sempre dar a outra face seja o melhor. Talvez sei lá mais porquê.
O que é certo é que não a convencerei com conversa de mãe, nem de psi, nem de 40 anos, nem outra qualquer.
Porque ela não vai desistir. E a sua vontade toca-me profundamente.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Soluções práticas II - Casamento



- Quando eu casar com o António, ficamos aqui em casa porque eu não quero deixar o meu quarto.
- Aqui em casa? A dormir aqui no teu quarto?
- Sim.
- Mas não cabem. Nessa altura já serão grandes e não cabem os dois na mesma cama.
- Então eu durmo em baixo e ele em cima... desde que ele não me parta a cama...



(a Mathilde tem um beliche)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Soluções práticas - Bebés


- Eu gostava tanto de ter um bebé...
- Mas teu?
- Sim.
- Teu filho, Mathilde?
- Sim.
- E terás um dia.
- Mas eu queria já.
- Já como já? Agora já?
- Sim, já.
- Isso não é possível.
- Porquê? O que é que é preciso para ter um bebé?
- Primeiro tens de ter um namorado.
- Já tenho.
- E tens de gostar muito dele.
- Já gosto.
- Ainda bem. É bom gostares muito do pai do teu bebé, que isto, de preferência, não se tem filhos com qualquer um.
- Já gosto muito! E mais?
- E depois tens de fazer o bebé mas, para já, não vai ser possível.
- Porquê?
- Porque os tais óvulos, de que já falámos, que tu tens dentro da barriga ainda estão todos a dormir. E só acordam daqui a uns anos. E se eles estão a dormir não dá para fazeres um bebé.
- Oh...
- Mas também para que queres um bebé agora já?
- Para tratar dele. São tão queridos, gosto tanto...
- Então e tratas durante o dia e durante a noite? Se ele chorar, se refilar? E mudas a fralda, dás de comer, etc., etc.,?
- Mas nós não chorávamos!
- Pois não. Mas podes ter um que chore.
- Ai não! Isso não quero! E depois chora porque caíu a chucha e depois porque perdeu o doudou e depois porque tem fome e depois porque quer a mãe e depois porque quer o pai... Não! Isso não quero!
- Então como é que fazias?
- Durante o dia eu trato mas à noite ponho no vosso quarto!
- ??... Acho que vais mesmo ter de esperar que os teus ovinhos acordem e tu cresças ;)